VIVER EM VOZ ALTA | O patrimônio histórico e artístico nacional
15 de novembro de 2019 às 0h03
ROGÉRIO FARIA TAVARES*
Foi somente nos anos trinta do século vinte que o Estado brasileiro começou a se preocupar, de forma sistemática, com a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional. Sob a liderança de Rodrigo Melo Franco de Andrade, surgiram as primeiras iniciativas mais relevantes nesse campo. Criado em 1937, quando Gustavo Capanema era o Ministro da Educação, o Sphan, hoje Iphan, foi conduzido por Rodrigo até 67. Seu legado foi fundamental para preservar a memória brasileira e, sobretudo, para lançar as bases do que se conhece, atualmente, como ‘educação patrimonial’, que é a consciência, disseminada na população, da importância do patrimônio histórico e artístico para a comunidade brasileira e o seu desenvolvimento econômico e social.
Não há nação civilizada que não cuide – e muito bem – de seu patrimônio. Elas sabem o quanto a sua vitalidade é essencial para formar as novas gerações, dinamizar a economia e atrair os turistas. Uma das marcas do subdesenvolvimento é o abandono ou o desleixo no trato do patrimônio histórico e artístico e a ignorância das autoridades públicas a respeito.
Detentora de cerca de 40% dos bens culturais tombados pelo Iphan no País, Minas Gerais é a chamada ‘jóia da coroa’ do Patrimônio. Alguns de seus municípios, como Ouro Preto (foto), Diamantina, Congonhas e Belo Horizonte (com o conjunto moderno da Pampulha), têm o seu patrimônio histórico reconhecido internacionalmente, por meio da Unesco. Tudo isso requer, naturalmente, a ação de gestores qualificados e sobretudo sensíveis, que reconheçam o valor da história, da memória e da arte para a afirmação da cidadania. Os mineiros, em especial, têm a sorte de contar com nomes como Ângelo Oswaldo de Araújo Santos, Ângela Gutierrez, Michele Arroyo e Célia Corsino entre aqueles que se dedicam ao tema com rigor e paixão, ao mesmo tempo.
Outro nome que merece destaque na área é o do competente Eugênio Ferraz. Natural da bela cidade de São Lourenço, no sul do estado, e formado em engenharia, Eugênio Ferraz fez carreira no Ministério da Fazenda, onde trabalhou por quatro décadas. Foi o seu superintendente em Minas por quatorze anos. Depois, dirigiu a Imprensa Oficial e o Sistema Autônomo de Água e Esgoto (Saae) de sua terra natal. Membro do Instituto Mineiro de Avaliações e Perícias de Engenharia, também integra o Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais e o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, o IHGB, fundado em 1838. Somos confrades nessas duas notáveis instituições.
Na semana passada, a meu convite, Eugênio lançou, na Academia Mineira de Letras, os dois primeiros volumes da trilogia “Restaurações Singulares no Brasil”: o primeiro focalizando sobretudo a restauração do Convento dos Mercedários, em Belém do Pará, destruído por um incêndio em 1978 e recuperado graças ao trabalho sempre sério do autor, em meados dos anos oitenta; o segundo sobre o Teatro Amazonas, de Manaus, a maior preciosidade artística do Ciclo da Borracha. Na palestra que antecedeu os autógrafos, Eugênio explicou, entre outras coisas, como foram as restaurações que liderou, lista que também inclui a Casa dos Contos, de Ouro Preto, prédio que até hoje se encontra em bom estado. São livros a serem lidos e relidos.
*Jornalista e presidente da Academia Mineira de Letras