Mercado usa bloqueio de negociação para evitar riscos

29 de outubro de 2019 às 0h05

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A semana também tende a ser de cautela global antes da reunião de política monetária nos Estados Unidos, quando o Fed vai divulgar sua última decisão do ano sobre a taxa de juros do país - Crédito: Paulo Whitaker/Reuters

São PauloLock-up, do inglês trancar, é a nova arma do mercado para proteger empresas da especulação de investidores. Presente nos prospectos, a cláusula agora é usada para o investidor pessoa física, como no caso da IPO (oferta pública inicial de ações, na sigla em inglês) do banco BMG de ontem.

A cláusula obriga o comprador a manter o papel por um período mínimo antes de vendê-lo – 45 dias, por exemplo.

Com juros baixos e Bolsa batendo recordes, os pequenos investidores migram e intensificam seus aportes em renda variável, incluindo IPOs e follow-ons (oferta adicional de ações). O que parece positivo para o desenvolvimento do mercado também oferece um risco para as companhias.

Estima-se que metade das pessoas físicas que entram nestas ofertas pratica a flipagem, ou seja, vendem os papéis adquiridos logo no primeiro pregão de negociação. O movimento causa pressão que pode derrubar a cotação do papel logo na estreia.

Com a distribuição obrigatória de, no mínimo, 10% da oferta para pessoas físicas, o caminho encontrado para bloquear este movimento foi a ampliação do uso do lock-up.

Coordenadores de ofertas determinaram que a alocação de ações com essa cláusula seria prioritária. Ou seja, a venda de ações com ‘trava’ teria preferência às ações ‘sem trava’ na distribuição para os pequenos investidores.

A cobaia foi a Petrobras, com o follow-on das ações que estavam com a Caixa Econômica. Na oferta pública, 2% do total de ações foi vendida com lock-up de 45 dias.

Apesar de Caixa e Petrobras afirmarem que houve forte demanda de pessoas físicas, os interessados não preencheram toda a cota disponibilizada, de 24%; acabaram levando só 20,3% do total da oferta.

No caso do Banco do Brasil, o cenário foi diferente. Pessoas físicas ofertaram R$ 7 bilhões pelas novas ações colocadas em mercado, valor superior ao total arrecadado pelo follow-on (R$ 5,8 bilhões).

Como a demanda foi alta, o banco conseguiu destinar todas as ações reservadas ao varejo (pessoas físicas com investimento até R$ 1 milhão) a ações com lock-up. Quem comprou uma ação no follow-on do BB terá que esperar 45 dias para vendê-la.

Depois do sucesso no uso da cláusula em follow-ons, foi a vez de um IPO. Na abertura de capital da rede de joias Vivara, 8% do total de ações vendidas têm a ‘trava’. A diferença, nesse caso, é o tempo: dos 13% destinados ao varejo, 5% foram ações normais, sem lock-up. As demais foram divididas em lock-up de 45 dias (5%) e lock-up de 120 dias (3%).

Os organizadores fizeram a divisão para evitar uma grande oscilação tanto no IPO, quanto no vencimento do lock-up.

Nas redes sociais, investidores se mostraram frustrados e confusos ao conseguir arrematar poucas ações. “Não entendi essa da Vivara. Fiz uma reserva de 5 mil ações e me reservaram 6 ações apenas??? Nunca vi uma reserva tão baixa”, comentou um internauta.

Para participantes do mercado, o modelo será regra no futuro. Quanto mais atenuado o risco pessoa-física, mais chances de sucesso na oferta.

No entanto, segundo a professora de Finanças do Insper, Andrea Minardi, o lock-up só funciona se houver grande demanda de pessoas físicas, como no caso da Vivara. A rede de joias tinha interesse na participação destes investidores e promoveu ações de marketing em torno do seu IPO. “O investidor não vai querer o lock-up em ofertas pouco procuradas, de empresas menores”, afirma Minardi.

BMG – No IPO do BMG, de menor magnitude (R$ 1,39 bilhão), o uso de lock-up foi mais tímido: 3,08% do total das ações com prazo único de 45 dias.

Para a especialista, a cláusula é benéfica para o mercado. “Se a flipagem é muito grande, o preço no IPO cai demais e o investidor pessoa física perde dinheiro. Com essa regra, há mais chances de estabilidade no papel.” Ela não recomenda a flipagem, pelo alto risco da operação, e aponta que não se deve pensar o investimento em renda variável no curto prazo.

Rafael Passos, analista da Guide Investimentos, também vê o emprego do lock-up como positivo. “Os coordenadores da oferta não querem especuladores que vendem ações no primeiro dia de negociação. Eles querem investidores com interesse em se posicionar na empresa. Quanto mais participação do varejo, geralmente, pior o IPO”.

Ele diz que a cláusula não deve desencorajar a participação em ofertas de ações. “Se é uma empresa que o investidor avaliou, gosta e acredita, melhor entrar no lock-up para conseguir garimpar mais ações”. (FolhaPress)

Ibovespa fecha com novo recorde

São Paulo – O principal índice da bolsa paulista fechou ontem com novo recorde de pontos, com a alta guiada principalmente por papéis de bancos e na esteira do otimismo dos mercados globais. O Ibovespa subiu 0,77%, a 108.187,06 pontos. O volume financeiro da sessão somou R$ 15,1 bilhões.

Os mercados globais repercutiram a declaração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre assinar uma parte significativa do acordo comercial com a China antes do previsto, mas não deu detalhes sobre o cronograma. O S&P 500 avançou 0,55%, também renovando sua máxima de fechamento, a 3.039,34 pontos.

No Brasil, o dólar caiu abaixo de R$ 4, experimentando os menores níveis desde meados de agosto.

Os investidores também reagiram ao resultado da eleição argentina, com Alberto Fernández, de esquerda, derrotando o presidente liberal Mauricio Macri com ampla vantagem.

A Argentina segue como parceiro importante para o Brasil e o governo não discute dissolver o Mercosul, disse o secretário de Comércio Exterior, Lucas Ferraz. Isso após o presidente Jair Bolsonaro fazer críticas ao presidente eleito e chegou a dizer que o país vizinho pode ser afastado do Mercosul.

“A vitória da chapa que une kirchnerismo e peronismo causa certa apreensão pela perspectiva de algumas reformas da argentina não irem para frente ou diminuírem de intensidade”, afirmou André Alírio, economista da Nova Futura Investimentos.

Do lado doméstico, o mercado reduziu mais as expectativas para a taxa básica de juros em 2020, com o grupo dos que mais acertam as previsões na pesquisa Focus vendo a Selic a 4%, em meio ao ciclo de afrouxamento do Banco Central.

O BC anuncia amanhã, dia 30, a nova taxa básica de juros, com expectativa unânime em pesquisa da Reuters de corte de 0,5 ponto percentual, para nova mínima recorde de 5%. A queda dos juros aumenta a atratividade da renda variável, o que, segundo analistas, explica parte do rali da bolsa paulista neste ano.

A sessão também foi marcada pela aprovação da União Europeia para o adiamento do Brexit, para 31 de janeiro de 2020. O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, confirmou o adiamento e fez um apelo ao bloco para que deixe claro que não poderá haver outra extensão do prazo.

Entre os destaques da Bolsa estão o Bradesco PN, que avançou 3,61%, ilustrando o bom desempenho do setor. Itaú Unibanco PN ganhou 1,36% e Banco do Brasil ON subiu 2,22%, em semana de divulgação de resultados do setor.

A Vale ON avançou 0,29%. A Samarco, joint venture da Vale com a BHP, obteve aval para retomar operações no Brasil, suspensas desde um rompimento de barragem em 2015.

Marcando suas estreias na bolsa, a C&A subiu 3,09% e BMG UNT perdeu 0,86%. (Reuters)

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