EDITORIAL | Juros: conta ainda pesada

5 de novembro de 2019 às 0h02

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Crédito: Pxhere

A reunião do Conselho Monetário Nacional na semana passada mais uma vez não apresentou novidades, produziu o esperado, com corte de mais meio ponto percentual na taxa básica de juros (Selic), agora fixada em 5%, a mais baixa dentro dos atuais parâmetros de avaliação. Segundo o Banco Central, a decisão, muito festejada, guarda relação direta com o comportamento da inflação, mantida em 3,6%/ano, abaixo, portanto, do teto de 4%. Posição confortável o suficiente para o BC, fugindo aos rituais dessas ocasiões, antecipar novo corte de igual tamanho no próximo mês e dar a entender que este seria, por enquanto, o momento de interrupção das sucessivas quedas.

Para a autoridade monetária, uma questão de cautela, tendo em conta a imprevisibilidade do cenário internacional e riscos internos que, na sua avaliação, poderiam representar combustível para a própria inflação. Pode ser exagero, excesso de cautela que fatalmente nos custará caro, tendo em conta que não existe pressão de demanda, a capacidade ociosa ainda incomoda, um quadro em que os manuais de economia mais respeitados recomendam estímulos e não o contrário.

Mesmo festejando o recuo da Selic a patamares mais civilizados, o que em tese colocaria os juros nessa mesma condição, é preciso lembrar às autoridades que os fatos ainda contrariam a realidade. Esta observação tem em conta o mundo real, os juros cobrados de quem se atreve a chegar ao balcão de um banco, e deve se dar por satisfeito se for atendido. Argumentam os bancos, que no Brasil têm ganhos que não se repetem em nenhum outro lugar do planeta, que seus spreads, em bom português a diferença entre os custos de captação e o valor de empréstimos, são elevados pelos riscos, riscos que curiosamente eles enxergam até mesmo no crédito consignado, descontados diretamente pela Previdência de tomadores aposentados.

Eis o ponto sensível, aquele que mais interessa a quem busca crédito, seja empresário, seja o indivíduo endividado ou que pretenda financiar uma compra. E já passou muito tempo para que as autoridades monetárias, o próprio governo em última análise, continue fingindo que não sabe, ou não vê, o que se passa ou entenda como natural e aceitável que, com inflação que não chega aos 4%, as taxas cobradas nos cheques especiais e cartões de crédito, permaneçam na estratosfera, nos 300% ou mais que em alguns ambientes ainda soam como a coisa mais natural do mundo. Natural talvez para o banco estrangeiro que tem no Brasil apenas 16% de seus negócios e aqui realiza a fatia mais gorda de seus lucros.

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