A inércia do desenvolvimento mineiro

19 de abril de 2019 às 0h01

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Créditos: Gil Leonardi/Imprensa MG

JOSÉ ELOY DOS SANTOS CARDOSO*

A parada e a inércia do desenvolvimento mineiro não acontecem por acaso. Pesquisando o nível de desenvolvimento econômico mineiro vamos encontrar fatos que aconteceram desde a fundação das Centrais Elétricas de Minas Gerais (Cemig) em 1952 até os anos 80.

A Cemig foi criada por Juscelino Kubitschek e inspirada no grupo Comissão Mista Brasil-Estados |Unidos da qual fez parte o engenheiro Lucas Lopes, amigo de JK, que foi seu primeiro presidente. Depois disso, no governo Magalhães Pinto, nos anos 60, criou-se o BDMG e o INDI que foi uma combinação entre o BDMG e a CEMIG.

Nos anos 70, foi criada a Companhia de Distritos Industriais de Minas Gerais, CDIMG, porque Minas já tinha a Cemig, o BDMG, mas, apesar de já ter organismos importantes, faltavam espaços para localizar empresas nacionais e internacionais que, atraídas pelas condições mineiras, estavam interessadas em vir para Minas Gerais.

Seguindo justamente a história mineira, veremos que o desenvolvimento mineiro não aconteceu por acaso. Foi o resultado de um competente trabalho de estudos empreendidos por vários organismos públicos ou privados que, preocupados com o marasmo mineiro, juntou vários economistas, engenheiros, administradores e advogados que estudaram com profundidade as causas da falta de desenvolvimento neste Estado.

Tanto nas esferas do governo como dentro de organismos particulares como a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais e Associação Comercial de Minas, já vigoravam ideias de desenvolvimento onde prevalecia o pensamento do governo como o plano de metas, mas não se desconhecia que o desenvolvimento econômico e social, para acontecer, deveria ter também uma cobertura privada como as participações de empresas privadas nacionais e do exterior.

O BDMG foi criado por Magalhães Pinto, mas, mesmo naqueles anos, já contava com a participação da Fiemg através de empresários e técnicos que lá colaboravam. O BDMG começa seu trabalho com pouco dinheiro, mas, em suas fileiras, já apareceram grandes nomes como Silviano Cançado Azevedo que, na época de Paulo Camilo de Oliveira Pena, assessor particular de Magalhães Pinto, ajudou Paulo Camilo a dar início ao BDMG.

Paulo Camilo começou a história do BDMG como seu primeiro presidente buscando caminhos através de seus departamentos de planejamento e de projetos. Fernando Antonio Roquete Reis foi chefe do Departamento de planejamento e Silviano Cançado Azevedo, chefe do Departamento de Projetos. Pelas histórias do desenvolvimento mineiro podemos notar que toda a ação do governo buscou apoiar o que a Cemig desejava para vender sua energia com a ação do Instituto de Desenvolvimento Industrial de Minas Gerais, o INDI que, inicialmente, teve sua ação absorvendo, entre outros, técnicos do BDMG e da Cemig. Como não tinham como abrigar empresas que estavam tentando se instalar em Minas Gerais, o projeto teve que ser complementado pelo apoio de uma nova empresa mineira que, apesar de pequena naquela época, apoiou totalmente os projetos estratégicos implementados pelo BDMG e pela Cemig quando criou os distritos industriais. Esta nova empresa criada foi a Companhia de Distritos Industriais de Minas Gerais, Cdimg, fundada absorvendo, entre outros técnicos competentes, alguns com a experiência adquirida no Departamento de Industrialização de Minas Gerais que pertencia à Secretaria de Estado de Planejamento.

Nos anos 70/80, os organismos mineiros como o BDMG, Cemig e CDIMG trabalharam totalmente integrados. Por essas razões, em artigos que publiquei no Diário do Comércio, critiquei duramente a absorção e a extinção da CDIMG que foi absorvida pela Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, a Codemig. Esta empresa extinguiu e terminou tudo de bom que a CDIMG construiu e realizou. Esse erro estratégico foi justamente um dos motivos da parada do desenvolvimento mineiro. A passagem dos distritos industriais para as prefeituras tornaram-se um desastre, com exceção dos distritos industriais de Uberlândia, Uberaba, Pouso Alegre e Montes Claros que, de certa forma, eram praticamente independentes dos recursos vindos do tesouro mineiro. Para apoiar e sustentar as obras de infraestrutura feitas pela CDIMG precisa-se de recursos, atualmente inexistentes nos municípios do interior que não têm dinheiro nem para pagar o funcionalismo municipal, muito menos fazer obras e reparos necessários como as redes de energia elétrica, água e esgotos, etc.

O governador Romeu Zema não me conhece, mas, o vice-governador Paulo Brant ao ler este meu artigo deverá me dar total razão. Ele me conhece bem e meus conhecimentos da economia mineira. O desenvolvimento mineiro não acontecerá com a venda da Cemig e sua privatização. Pertencendo à iniciativa privada como se pretende, ela não será capaz de, no lugar de distribuir dividendos a seus acionistas, continuar a fazer parte de um dos melhores quadripés do desenvolvimento. Um dos pés seria a Cemig, outro o BDMG, o terceiro seria o INDI e o quarto poderia ser a CDIMG, que deveria renascer das cinzas. É necessário criarmos uma nova mentalidade desenvolvimentista que o ex-governo mineiro derreteu com uma administração irresponsável. Planejamento é tudo. Sem ele não saberemos onde melhor aplicar os recursos arrecadados com impostos e taxas. Minas não pode só se preocupar em pagar seu passivo com os municípios mineiros. O rompimento das barragens de Mariana e Brumadinho foram catastróficos. No entanto, para Minas “ser muitas” como afirmou um poeta é preciso se refundar o sistema mineiro de planejamento do desenvolvimento que a última administração destruiu. Dentre eles, é preciso fazer renascer das cinzas a antiga Companhia de Distritos Industriais de Minas Gerais, a CDIMG. Quem viveu o passado não se esquece jamais!

*Economista, professor titular de macroeconomia da PUC-Minas e jornalista.

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