Belo Horizonte cantada em prosa e verso

17 de maio de 2019 às 0h03

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Créditos: Divulgação

ROGÉRIO FARIA TAVARES*

Se coube aos precursores Avelino Fóscolo e Alfredo Camarate desbravar, com destemor, as trilhas da literatura em Belo Horizonte, os que vieram mais tarde, ao longo das primeiras décadas do século 20, foram fundamentais para pavimentar as largas avenidas por onde até hoje circulam nossas mulheres e homens de letras. Carlos Drummond de Andrade veio de Itabira em 1919. Pedro Nava chegou de Juiz de Fora dois anos depois.

Cyro dos Anjos deixou Montes Claros em 23. A publicação de sua obra prima, “O Amanuense Belmiro”, em 37, inseriu definitivamente a cidade no panorama da ficção nacional. Primeiro sucessor de Albino Esteves na cadeira de número um da Academia Mineira de Letras, o escritor do norte de Minas tornou a geografia de Belo Horizonte popular em todo o país, com destaque especial para a Rua Erê, endereço da residência do personagem-narrador.

A Cyro, Drummond e Nava se juntaram Abgar Renault, Emílio Moura e Aníbal Machado, entre outros. Mesmo que depois tenham se dedicado prioritariamente à política, Milton Campos e Gustavo Capanema também participaram ativamente da vida literária da capital nos anos 20. A esse tempo regressou Pedro Nava em Beira Mar, livro publicado em 1978, quando descreveu a cidade que ficou na memória da sua juventude.

É também das lembranças da Belo Horizonte de sua mocidade que está povoado “Boitempo”, de Drummond, reunião de poemas de caráter memorialístico publicados inicialmente em três volumes a partir de 1968. Versam sobre a cidade textos que se tornaram célebres, como ‘Parque Municipal’, ‘Livraria Alves’, ‘Dormir na Floresta’, ‘Doidinhos’, ‘O Grande filme’, ‘O fim das coisas’, ‘Depravação de gosto’, ‘Jornal falado no Salão Vivacqua’, ‘A tentação de comprar’, ‘Encontro’ e ‘Confeitaria Suíça’.

Outro nome fundamental da literatura produzida em Belo Horizonte na primeira metade do século 20 é o de Eduardo Frieiro. Em O Novo Diário, o primeiro sucessor de Avelino Fóscolo na cadeira de número sete da Academia Mineira de Letras anotou os acontecimentos marcantes da vida da capital entre 1942 e 1949. Além desse importante registro, Frieiro também ambientou três de seus romances na cidade: “O Clube dos Grafômanos”, de 1927, “Basileu”, publicado pela primeira vez em 1930 sob o título “Inquietude e Melancolia” e “O Cabo das Tormentas”, de 1936.

Indispensável é a menção a Henriqueta Lisboa, primeira mulher a entrar para a Academia Mineira de Letras, em 1963. A mineira de Lambari começou na literatura em 1925, com “Fogo Fátuo”, vindo a publicar, ao longo da vida, 20e livros de poesia, o último no ano de seu falecimento, em 85.

Na década de 40 e nos anos iniciais da década de 50, Belo Horizonte testemunhou o surgimento e a evolução de outro grupo representativo de sua literatura. Em 41, Fenando Sabino, publicou seu primeiro livro, “Os Grilos não cantam mais”; seis anos depois, Murilo Rubião deu a conhecer “O ex-mágico”. Em 51, já no Rio de Janeiro, Paulo Mendes Campos lançou ‘A palavra escrita”. No ano seguinte, Oto Lara Resende editou “O lado humano”, coletânea de contos. Quatro anos depois, apareceu a obra prima de Sabino,“O Encontro Marcado”, que de novo posicionou Belo Horizonte em lugar de destaque na ficção brasileira, rememorando os anos de sua formação. Voltarei ao tema.

*Jornalista. Da Academia Mineira de Letras

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