Da partitura de Minas

12 de março de 2019 às 0h01

Stefan Salej*

Acabaram de cantar as últimas marchinhas de Carnaval. Mesmo cantadas  com imensa alegria na tristeza da tragédia de Brumadinho, elas são tocadas e cantadas de uma forma organizada. Cada instrumento tem sua função, cada músico sabe o que tocar e todos eles têm um maestro que os ajuda no ensaio e guia na apresentação. E imagina como isso funciona quando na Sala Minas Gerais, belíssima por sinal, toca a nossa Orquestra Sinfônica a 9ª Sinfonia de Mahler. Os aplausos no final são para o maestro, para a orquestra, pela execução de uma obra centenária claramente exposta na chamada partitura. E isso vale também para quando ouvimos os músicos mineiros, sejam do Sepultura, Skank, Milton Nascimento, Fernando Brant, Ary Barroso e tantos outros.

E na economia mineira, tem partitura?

Neste exato momento, cada um toca um instrumento de acordo com sua vontade de ouvir e tocar o que lhe interessa.

O governo está iniciando a sua jornada sob imensa pressão de caixa, tornando essa questão sua absoluta prioridade. E nesse aspecto não conta com a colaboração dos políticos, que vivem reclamando e não conseguem por outro lado dar a sua contribuição. Por incrível que pareça, os setores sindicais colaboram mais do que os políticos. Os prefeitos reclamam, mas por outro lado não há uma prefeitura sequer em Minas que faça algum ajuste nas suas contas, sem falar da vergonhice que representam as câmaras de vereadores e a Assembleia Legislativa nos seus gastos, superando qualquer orçamento de educação e saúde no Estado. E ninguém se mexe, só reclamam.

Por outro lado, o governo do Estado não  tem nenhum plano de melhoria de gestão e nem de desenvolvimento econômico. Aliás, isso deveria ser feito antes de começar o governo, foi  feito em São Paulo. Se não tem plano, se não tem partitura, como fica a música? Um desastre. Se perguntar hoje a  qualquer integrante do governo mineiro quais as previsão do PIB do Estado neste e nos próximos anos, não tem resposta. Pelo menos ninguém até agora falou nisso. Então, simplesmente, como vamos nos desenvolver, crescer, se não temos objetivo, rumo e prumo? Não temos plano estratégico num momento de  profunda transformação da economia.

As entidades empresariais, com honrosa exceção da agro, estão olhando para seu umbigo, defendendo seus interesses corporativos e os de suas lideranças, sem nenhum projeto para Minas Gerais a ser apresentado ao governo para criar parceria de desenvolvimento. As entidades mineiras, mesmo com grandes orçamentos, não são capazes de produzir, além de reivindicações, uma proposta no modelo do Cresce Minas na época do Itamar Franco, que deu a Minas um rumo no seu desenvolvimento através da introdução da metodologia de clusters. Empresários precisam levar projetos ao governo e não reivindicações. Mas o governo também precisa saber para onde vai e como.

A crise provocada por desastres na área mineral não pode cegar as necessidade de um plano de desenvolvimento. Ao contrário, a lição deve ser aprendida e aproveitada para uma nova fase.

*Ex-presidente do Sebrae Minas e da Fiemg, Vice-presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp, Coordenador adjunto do Gacint – Grupo de análise da conjuntura internacional da USP

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