Democracia representativa

10 de novembro de 2018 às 0h01

Uranio Bonoldi*

No mês passado, o povo brasileiro elegeu Jair Bolsonaro, do PSL, como o novo presidente do País. Com o maior índice de votos brancos, nulos e abstenção das urnas desde a redemocratização do País, o candidato aparece como uma alternativa entre os seus eleitores de arriscar o novo e voltar ter esperança de um país melhor, economicamente fortalecido e igualitário. Mas o que de fato fez com que Bolsonaro subisse no palanque mais alto do poder político nacional?

O futuro presidente é autor de declarações polêmicas, entre elas o elogio a um torturador. Todos sabemos que foi em resposta a um deputado federal do PT, que havia enaltecido a figura de outro torturador e guerrilheiro. Ou seja, provocações descabidas pois não existe nada mais desumano do que a tortura, a guerra e extremismos.

E como um homem capaz desse gesto se elegeu presidente? Por que o povo brasileiro escolheu Jair Bolsonaro? Ao que tudo indica a última pesquisa do DataFolha, divulgada um dia antes da votação, o principal motivo era a possível volta do Partido dos Trabalhadores (PT) ao poder, que inclusive mostrou seu adversário Fernando Haddad, com uma taxa de rejeição maior que a do presidente eleito. Ficou claro que o povo brasileiro deu um retumbante recado de que não irá aturar mais a falta de ética na gestão pública, a roubalheira desenfreada a que assistimos ao longo da permanência do PT no poder. Quem ganhou esta eleição não foi o Bolsonaro, mas sim o povo brasileiro que disse não à falta de ética.

No entanto, uma questão que me chama bastante a atenção neste cenário é que 31 milhões de brasileiros não compareceram às urnas para votar, ou seja, 21,30% do eleitorado. Da mesma forma, votos nulos e brancos foram significativamente maiores nesta eleição. Juntos, os números bateram recorde: dos 147,5 milhões de eleitores, 42 milhões de pessoas, representando 28,5% do eleitorado, não escolheram um dos dois candidatos para ser o 38º presidente eleito democraticamente pelo Brasil.
Fazendo uma análise rápida, estes números podem expressar desconfiança e descrédito com relação à política e às mudanças que essa eleição poderia trazer. Em uma disputa eleitoral muito polarizada, em que há vários partidos diferentes no poder, uma boa parte do eleitorado pode não ter se sentido representado por nenhum dos lados, talvez nem mesmo conseguiu escolher entre o “menos pior”.

O que questiono aqui é até que ponto a democracia representativa ainda se encaixa nos dias de hoje? Ela foi pensada e adequada para a maioria dos países nas últimas décadas, quando também a comunicação e propaganda política eram diferentes (e não polarizadas). Acredito que o que esteja faltando é uma reforma nas regras de funcionamento da democracia representativa, o que fica como um alerta para as próximas eleições.

No entanto, apesar da grande abstenção de votos, no dia 1º de janeiro de 2019, Bolsonaro assume a posição de presidente do País. Desejo muita sorte e equilíbrio ao presidente legitimamente eleito. Que ele faça do Brasil um exemplo de excelência na gestão pública, um lugar com menos corrupção, mais democrático, acolhedor, aberto a críticas e ao diálogo e que nos deixe economicamente fortalecidos. O Brasil merece!

* Consultor e palestrante

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