ESPECIAL DC/AC MINAS | Eleições 2018: empresários querem mudanças e protagonismo

6 de outubro de 2018 às 0h04

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Paoliello defende para o País os princípios de economia livre e estado democrático de direito - Divulgação

No último dia 3 de outubro, em reunião do Conselho Superior da Associação Comercial e Empresarial de Minas – ACMinas, na sede da entidade, em Belo Horizonte, com objetivo de estabelecer o calendário eleitoral para o próximo biênio, os empresários aproveitaram a oportunidade do encontro para discutir os melhores caminhos para Minas e para o País no contexto de eleições gerais no Brasil.

Participaram do debate o presidente da ACMinas, Lindolfo Paoliello; o ex-presidente e agora presidente do Conselho, Lúcio Assumpção, que assume o posto de José Romualdo Cançado Bahia, falecido no decorrer do mandato; e os ex-presidentes Arthur Lopes Filho, Charles Lotfi, Eduardo Prates Octaviani Bernis e Roberto Luciano Fortes Fagundes.

Também ofereceram sua contribuição os vice-presidentes Aguinaldo Diniz Filho; Cledorvino Belini; Fábio Guerra Lages; Hudson Lídio de Navarro; Marcos Brafman; Ruy Barbosa de Araújo Filho; Sérgio Bruno Zech Coelho; Wagner Furtado Veloso e Wilson Brumer.
Representando a Diretoria Emérita, esteve presente Lília Mascarenhas. Justificaram suas ausências: o ex-presidente Lúcio Marcos Bemquerer, que reside no interior, os vice-presidentes Hélcio Guerra, José Mendo Mizael de Souza, Modesto Carvalho de Araujo Neto, Paulo Brant e Paulo Sérgio Ribeiro da Silva.

Definida a data de 4 de dezembro de 2018 para a realização da Assembleia Extraordinária Eleitoral, Lúcio Assumpção sugeriu aos participantes que cada um dos participantes, com sua experiência, oferecesse um depoimento dos problemas vivenciados, e que a ACMinas pudesse contribuir para o debate nacional. O respeito à liberdade, a articulação política e a união empresarial foram algumas das propostas defendidas.

Lúcio Souza Assumpção: Eu gostaria de introduzir uma novidade, de aproveitarmos esta sessão com tantas pessoas ilustres para que cada um, na sua experiência, desse um depoimento dos problemas com que estamos convivendo, contribuindo para um indicativo para que as reuniões da diretoria acolhessem as ideias geradas do debate. Eu acho importante por causa da nossa experiência, e esta questão seria perfeitamente factível e certamente de interesse da Associação Comercial e Empresarial de Minas – ACMinas, contribuindo para o País, com todas as tragédias que o País está atravessando em todos os setores. Proponho que esta reunião abranja um sentido maior da nossa participação nessas questões. A palavra fica livre para debatermos, tentando demonstrar a posição da Associação Comercial e Empresarial de Minas – ACMinas pelo seu Conselho Superior”.

Lindolfo Paoliello: “Eu quero cumprimentar o presidente Lúcio Assumpção pela sugestão. O engrandecimento é questão nacional. Nós precisamos partir para o engrandecimento dos padrões nacionais, da meritocracia, do ambiente, da fala e o Lúcio tem credencial para isso. O homem da Construção Civil, do setor imobiliário, secretário de Estado da Fazenda, presidente do Banco de Desenvolvimento do Estado, ex-diretor da Usiminas, presidente desta Casa e agora presidente de seu Conselho. Eu quero lhe agradecer, Lúcio, por esta ideia. Mesmo porque, não se pode perder tantas presenças ilustres da história de Minas. Eu vou me permitir uma liberdade, a de sugerir que o Belini, que é o nosso vice-presidente mais recente, comece os depoimentos.

Cledorvino Belini: “Temos um panorama de um país ficando para trás em relação ao resto do mundo. Uma economia estagnada, crescimento ridículo depois de anos de recessão. Agora desembarcamos numa questão política de extrema direita e extrema esquerda. Como empresário, eu espero que o Brasil não cometa o erro de 2002. O Brasil precisa de mudanças radicais e, sobretudo, de um entendimento da sua cultura. Existem estudos antropológicos que podem indicar o melhor produto para colocar na sociedade e que podem indicar o melhor para o Brasil. Em Minas Gerais, eu fico triste com a política e espero uma mudança para alavancar o Estado. O Estado de Minas Gerais está ficando para trás com relação ao Brasil. A Associação Comercial e Empresarial de Minas – ACMinas, tem um papel relevante nesse processo em que deve participar, debater, colocar opinião, influenciar a sociedade sobre as questões corretas para endireitar o Estado. Poucas parcerias são feitas para elevar eficiência e reduzir os custos do Estado. O Estado pesado de Minas Gerais acaba, cada vez, aumentando a carga tributária, ao invés de reduzi-la e aumentar a arrecadação pelo volume. O País precisa tomar medidas no rumo certo. Honestamente não sei como fazer, mas acho que o debate é importante”.

Wilson Brumer: “Eu vou bater num tema que é o papel das associações, com destaque para a ACMinas. Passou da hora de o Brasil discutir um projeto de país em substituição a um projeto de poder que temos nos últimos anos. Nós temos uma enorme lacuna em lideranças empresariais. A sociedade entende este momento que estamos vivendo como uma enorme falta de liderança política. Quem quer que seja eleito terá que enfrentar situações pragmáticas. Temos um país quebrado, no qual apenas diminuir custos, o que é obrigação, não será suficiente. Nós temos que crescer a economia criando ambientes propícios a negócios. Criar facilidades para investidores. O Brasil hoje está sendo ignorado no mercado internacional. Preocupa a mim a liderança que hoje, em nível federal, vai se consolidando, pois possivelmente não haverá apoio no Congresso para fazer as reformas de que se precisa. O que se prenuncia é criar algo novo numa estrutura velha. As lideranças empresariais têm um papel fundamental neste novo momento de Brasil. Minas Gerais está meio afastada da agenda. O papel do setor privado em nível municipal, estadual, federal é fundamental. Nós temos que botar a boca para falar e não somente para queixar. Tenho dito isto sempre ao Lindolfo e ele tem se posicionado com firmeza. Precisamos nos expor e termos coragem de preparar nossos filhos para desenvolver esse País”.

Lindolfo Paoliello: “Nós temos procurado nos posicionar em tudo, desde 2015. Às vezes corajosamente, em conjunto, outras vezes só. Hoje a ACMinas tem falado a respeito das grandes questões. Começam a surgir ideias interessantes aqui. Eu não vou poder estar à frente delas, mas certamente, alguém que está aqui conosco vai poder”.

Aguinaldo Diniz Filho: “Nós somos um país com uma desigualdade terrível. A grande maioria dos políticos é composta por usufrutuários da ignorância do povo brasileiro. Ignorância por falta de educação. A maior desigualdade que existe é a de oportunidade. Nós temos um país que nega ascensão para seu povo em oportunidade intelectual, informação, educação. É um país com dificuldades quase insolúveis. Falar dos políticos e das necessidades de reforma concreta eu não ouvi de nenhum candidato. Proposta de economia, de ajuste fiscal, de reforma. Nós temos carências profundas da ética. Todos nós vemos que temos dificuldades quase intransponíveis, como desigualdade, insegurança, saúde etc. e isso faz com que o tecido social fique cada vez mais esgarçado. O problema social, a vontade de conflito está muito grande. Eu não consigo ver um líder em nosso País que tenha uma capacidade de transformação para que possamos encaminhar para uma união de diálogo e propostas. Isso é muito ruim e propício a surgir uma liderança fruto de um caos, como na Alemanha em 1936. A situação é difícil. Estamos cada vez mais perdendo na produtividade e estamos somente mais competitivos na América do Sul que a Venezuela. O Estado tem um déficit de R$ 154 bilhões, está quebrado. Para ter investimentos da iniciativa privada é preciso gerar confiança. E como gerar confiança nesse quadro de políticos que pensam neles mesmos? A sociedade civil tem que enfrentar o problema, via entidades, com mais participação. A ACMinas não é uma entidade partidária, mas é política. Estamos aqui fazendo um ato político. Nós temos voz e vamos ver se conseguimos avançar e diminuir a desigualdade, que é terrível. A maior das desigualdades é a falta de oportunidades para aqueles que têm menos condições. Isso pode gerar conflitos em médio e longo prazos. Sobre Minas Gerais, as entidades públicas precisam criar uma situação de governança melhor. Eu acredito que vamos ter uma transformação em Minas Gerais e torcer para que possamos fazer condições melhores para nossos filhos e netos com uma sociedade civil mais participativa”.

Fábio Guerra Lages: “Realmente, falta união das lideranças. E nós, como entidade, precisamos nos unir para criarmos esse projeto de país. Não existe nenhuma defesa que resista a um bom argumento com consistência e que demonstre a realidade e a necessidade. Precisamos desenvolver um pensamento de esboçar um projeto e convidar as entidades para trabalharmos em conjunto com foco permanente. Os políticos têm formas de continuar com seus arranjos políticos, prejudicando a sociedade. Então eu acredito nessa união de lideranças para delinearmos juntos um projeto, sem vaidades e interesses. É a forma que eu enxergo para avançarmos”.

Roberto Luciano Fagundes: “Na minha gestão na presidência da entidade, em reuniões mensais com os presidentes do Grupo dos Onze, nós elencamos uma série de necessidades para fundamentar o desenvolvimento do governo de Minas que a olhos vistos todos nós conhecíamos. Entre elas, a BR-381, o Anel Rodoviário, a melhoria do acesso ao Aeroporto Internacional, o metrô de BH. Enfim, uma série de demandas para o desenvolvimento do Estado. Fomos algumas vezes a Brasília para nos reunirmos com a bancada mineira e trouxemos alguns deputados aqui para um almoço. À época, o presidente da bancada era o deputado Reginaldo Lopes, que depois foi sucedido pelo deputado Fabinho Liderança. Atenderam-nos muito bem, mas soluções não houve. Eu vejo por esta experiência que não adianta termos projeto. Temos é que saber trabalhar a classe política. Bom ou ruim, nós temos uma Câmara Federal para trabalhar e que decide as coisas. Pelo que eu sei nós trabalhamos pouquíssimo com essa liderança e não soubemos tirar proveito disso. O Fabinho Liderança, bom ou ruim, fez alguma coisa. Alguns empresários se acercaram dele em beneficio próprio. A pretensão dele, caso seja reeleito, é ser presidente da Câmara dos Deputados. A ideia é fazermos um trabalho em conjunto com a experiência de todos nós. Eu tive oportunidade de me reunir com o Antonio Anastasia (candidato ao governo de Minas pelo PSDB), juntamente com setores do turismo, e passamos a ele alguns subsídios. Após a apresentação ao candidato, eu disse ao grupo que nós precisamos aproveitar esta liderança, se é no que acreditamos, e elegê-lo para que ele atenda aquilo que nós precisamos. Isso é um exemplo que estou citando. No caso da mineração nós corremos o risco de a principal empresa, que nasceu aqui, deixar Minas e ir para o Pará por vantagens e condições. Para aquele candidato que for eleito nós precisamos trabalhar para conseguir atingir nossos objetivos”.

Ruy Barbosa Araújo Filho: “Nós temos que trabalhar junto aos políticos. Eu quero colocar aqui na mesa uma proposta de campanha da equipe do Jair Bolsonaro que se apresenta como o mais forte candidato. Eles propuseram que a votação dos projetos na Câmara seja feita pela maioria do partido. Ou seja, a maioria do partido votou a favor de um projeto, o partido considera como voto de todos. Eu vejo nisso uma maneira de começar a valorizar os partidos. Eu não compartilho de pessimismo a respeito da situação do Brasil. Eu sei que a situação é séria, grave. Mas, por outro lado, eu vi uma entrevista do ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton, que disse não conhecer nenhum país com tanta riqueza natural e que não entende como esse país não explode. Essa semana vai haver um leilão de postos do pré-sal com a participação de grandes companhias do mundo. De acordo com o que eu li, esse pessoal acredita no País porque o Brasil nunca descumpriu contrato. Outra coisa que me dá esperança é que esses problemas são tão maduros que nenhum político eleito vai deixar de fazer a reforma da Previdência”.

Sérgio Bruno Zech Coelho: “Nós passamos hoje por crise institucional e moral muito grave. A educação, que é tão falada, está nas mãos de uma politização absurda. Eu conheço muitos professores universitários e nunca vi um nicho tão grande de esquerda. Fico espantado que pessoas com nível intelectual simplesmente aceitem, pratiquem e defendem essas práticas. Como está o Poder Executivo hoje? Em sua maioria está nas mãos de deputados. O Legislativo, com todas as práticas que nós estamos cansados de ouvir. O Brasil atravessando uma crise deste tamanho e vem o Supremo propondo um aumento de salário como se isso não tivesse a menor influência em toda a nossa sociedade. Eu tenho muito contato com jovens e me assusta muito a desesperança deles com esse País. A falta de perspectiva é grande. Na minha opinião, a maior doença desse País é o parlamento. Eu não acredito no Congresso. Eu vejo uma grande omissão de todo mundo. Não acredito que haverá ao menos 25% de renovação neste Congresso. Quanto à proposta das lideranças empresariais assumirem uma liderança efetiva, eu concordo. A gente precisa resgatar a imagem de que os empresários não são bandidos, porque isso, de alguma forma, ficou marcado. Para esta eleição que teremos este ano eu vejo uma situação extremamente complicada. Eu não acho que o Bolsonaro seja sensacional, mas é um mal menor. Eu voto contra o PT em qualquer circunstância porque no meu ponto de vista eles foram um desastre para este País”.

Eduardo Bernis: “Primeiro, uma constatação muito triste: a nossa geração falhou. Acho que a demonização do político e da política é muito perigosa porque a transformação se dá através da política. Nós, empresários e líderes empresariais, temos uma grande parcela de responsabilidade nisso tudo. Para o grande público a elite está completamente demonizada. Se a gente for analisar pontualmente, grandes líderes empresariais se transmutaram em petistas, por interesse próprio e de uma maneira deletéria para o País. Temos raríssimas exceções e aqui eu destaco os presidentes desta Casa que sempre tiveram uma postura independente e absolutamente em consonância com os interesses da sociedade. A ideia de reunir as entidades para um projeto de nação parece bom, mas não vai adiantar. Desde o início da campanha eu venho debatendo que a minha opção é para Geraldo Alckmin, porque eu entendia que é uma transição mais adequada e conversei com grandes empresários. O que me disseram: “Se não houver uma ruptura política nós não vamos sair do lugar. Acho que, em 30 anos, pela primeira vez nós vamos ter a oportunidade de votar na direita”. Outra mea culpa nosso é que não demos a nossa cara a tapa porque sempre tivemos medo do poder. E poder na sua parcela pode fazer um grande mal. O futuro presidente desta entidade terá uma grande responsabilidade porque vai ter que trabalhar com uma postura mais proativa. Hoje há uma radicalização no País. O PT deu, mas tirou, na medida em que a Dilma implementou uma politica de esquerda. Até o momento em que o Lula seguia a cartilha adequada, o Brasil foi bem. Quando eles começaram a implantar a política deles tudo desandou. Nós temos uma oportunidade única, nos últimos trinta anos, uma postura de direita que se coloca como opção viável para dirigir esse País. Acho que nós temos que valorizar a política. A população tomou consciência da sua responsabilidade no destino do País. E não sei se sou otimista, porque desde pequeno eu ouço que o Brasil é o país do futuro. E o futuro não chega. Nós precisamos tomar as rédeas do nosso País. Nós temos um fio de esperança. Porque se o PT voltar, aí é ir embora do Brasil”.

Lúcio Souza Assumpção: “Não votarei no pessoal do Lula (PT) e se sobrar a opção de votar em Bolsonaro, assim farei. Ele disse uma coisa que eu achei interessante: “O que falta no Brasil nesse momento é ordem”. A primeira providência é organizar. Por coincidência está na nossa bandeira – Ordem e Progresso, é um recado antigo”.

Hudson Lídio de Navarro: “Nós temos um parlamento de maior valor. Bicameral, aonde nós temos a Câmara e o Senado. Um arcabouço institucional montado. Sem política e sem parlamento não tem solução. Nós somos a segunda maior democracia do mundo ocidental e não valorizamos isso. As nossas elites econômicas, e por extensão as nossas entidades, que por elas são dirigidas, negligenciaram no sentido de atuar no regime democrático. Não souberam interpretar o pós-ditadura. Há anos se fala em reforma tributária e nunca tivemos entidades organizadas para levar ao governo o projeto e agir constitucionalmente. Fala-se aqui nesta mesa da questão do Bolsonaro e de ruptura. Mas ruptura sem líder é um risco. Nós precisamos mudar a nossa relação com a classe política. Essa eleição será um grande teste para as elites brasileiras. Nós somos um país com um território continental, não temos nenhum problema de fronteira, um país com grandes predicados, não temos sectarismo religioso, falamos a mesma língua, temos uma moeda única, recursos naturais abundantes, e somos a maior democracia depois dos Estados Unidos no mundo. Não é possível que não consigamos nos unir e colocar um projeto para este país funcionar. Acho que as nossas entidades precisam ter mais ações consequentes, ações positivas e projetos”.

Marcos Brafman: “Temos perguntado aos candidatos ao governo de Minas Gerais qual será o critério que irão adotar para a formação de sua equipe de governo. O senador Anastasia, por exemplo, nos respondeu que terá um critério técnico e que colocará pessoas capacitadas e competentes. Eu vejo que aí pode ser um começo de transformação importante na política, a partir de Minas Gerais. Esse é um aspecto fundamental que esta Casa tem a obrigação de cobrar do governador eleito, essa postura com relação à nomeação dos cargos públicos, privilegiando o critério da competência. O que tem acontecido é que, quando os políticos tomam posse, não há a devida cobrança por resultados. Se tivermos gestores públicos honestos e competentes nós temos uma grande chance de Minas Gerais iniciar uma transformação de Brasil. Em relação à eleição presidencial, nós temos hoje esquerda e direita de forma clara e mais bem contextualizada. Por outro lado, estamos vivendo  uma situação nessas eleições, com as mídias sociais onde convivem notícias reais e  muitas “fake news”.  As entidades, como a ACMinas,  tem um papel muito importante de representação e esclarecimento público, inclusive utilizando as mídias sociais, no sentido de avançarmos com democracia, liberdade e desenvolvimento econômico, sem retrocesso ao que já vimos que não deu certo e levou nosso País a esta gravíssima situação social e econômica que estamos vivendo nos dias de hoje.”

Wagner Veloso: “Já houve um projeto de país no passado, no qual algumas coisas foram cumpridas. Eu comecei a trabalhar numa estatal que hoje não existe mais. O País foi obrigado a acabar com algumas coisas, porque não aguentava mais. Precisamos tirar os penduricalhos. Já tiramos alguns. Por exemplo: Meu pai trabalhou numa companhia telefônica que hoje não existe. O nosso sistema de comunicação é um dos melhores do mundo. Eu trabalhei em siderurgia e hoje não existe mais siderurgia nas mãos do governo. Meu sonho é que esses penduricalhos saiam das mãos do governo, e vão ter que sair porque o governo não aguenta mais, e caminhar nas mãos das empresas privadas. Eu imagino esse país totalmente sem empresas estatais. A gente cuida do que é essencial: educação, saúde e segurança. Eu sou otimista porque acho que o País caminhou demais. E daqui pra frente tem que ser feito um novo projeto de país. Por exemplo, antes ninguém queria ir para Singapura, e hoje é o destino de todo mundo porque foi feito um projeto de país em 50 anos. A minha geração não teve oportunidade porque nós fomos cassados de fazer política pela ditadura. E agora é possível fazermos política através das instituições. Eu tive a oportunidade de participar desses quatro anos da gestão do Lindolfo, de uma instituição centenária como a Associação Comercial e Empresarial de Minas – ACMinas que marcou posição. Fico muito orgulhoso e te agradeço, Lindolfo. Eu acho que estamos fazendo o nosso papel com a liderança da Instituição. Estou orgulhoso de estar aqui nesse momento, vendo o País sair para o abraço.

Arthur Lopes Filho: “Eu venho de uma geração de otimistas. Sou da geração de Juscelino Kubitschek de Oliveira e nós não tínhamos o direito de ser pessimistas porque Juscelino, que veio do garimpo de Diamantina, um médico do interior que primeiro revolucionou Belo Horizonte, depois o Estado. O Estado não tinha energia e ele criou a Cemig. O Eduardo disse, e eu achei sensacional, que nós precisamos parar de demonizar o Congresso e os políticos. Se tem um grupo de políticos vagabundos, tem outro de grandes políticos. Por exemplo, o Geraldo Alckmin um sujeito que governou São Paulo quatro vezes, infelizmente, tudo indica que ele não será eleito, mas, faz parte do jogo. Outra coisa, a Constituição de 1988 foi a Constituição contra os militares. Disseram aqui que Bolsonaro terá apoio do Exército. Coisa nenhuma, Exército não tem nada. As cabeças pensantes para haver um desenvolvimento e progresso são Cledorvino Belini, Wilson Brumer, Lília Mascarenhas. Nós temos que parar com essa mania de demonizar os outros e achar que a gente está muito bem. Não estamos. Eu, por exemplo, vou ser obrigado a votar em Jair Bolsonaro sem convicção nenhuma. O melhor para dirigir o Brasil nesse instante é Geraldo Alckmin. Eu continuo otimista, porque sou da geração de Juscelino”.

Lúcio Souza Assumpção: “Foi muito útil e interessante o debate. Eu proponho que o Conselho mude o sistema de apenas duas reuniões anuais para que a gente possa fazer reuniões trimestrais dentro dessa linha, discutindo questões principais para o País. Isso seria um novo papel para o Conselho. Passo a palavra ao presidente Lindolfo para encerrar a reunião”.

Lindolfo Paoliello: “Primeiro quero agradecer a todos vocês por estarem aqui. Hoje está sendo um dia muito importante. Eu acho que, por termos vivido um episódio de parlamentarismo muito rápido, na década de 60, o Brasil e o brasileiro nunca conviveram com o espírito de Estado e de governo. A majestade do chefe de Estado e a operacionalidade do chefe de governo. Isso é muito importante! Não só na estrutura e na governança de um país, mas na forma de se comportar. Nas empresas, o CEO é quem fala, mesmo nas ocasiões mais estratégicas. A empresa não se aproveita daquele que foi criado naquele ambiente e que proporcionou à empresa desenvolver sua estratégia: o chairman. A postura de chefe de estado e de chefe de governo não é do nosso dia a dia. Não é do estilo brasileiro. Seria bom que fosse, para a gente aplicá-la à famosa figura do rito. O rito é muito importante para você levar à frente as ideias. Eu me encaminho para a minha postura nessa reunião de hoje. O estatuto é nosso regimento maior mas é, enfim, um conjunto de letras. Ele propôs que fossemos além: que discutíssemos o presente da ACMinas, do nosso Estado e de nosso país, e também o futuro. É a visão do chairman. Eu quero aplicar essa constatação a nossa realidade brasileira e convido vocês a pensarem sobre tudo que foi dito aqui, mas acrescentando um ingrediente: grandeza. Um bom grau de grandeza nós vemos naquilo que no estatuto da ACMinas mostra-se muito claro: a economia livre, estado democrático de direito e democracia. No vigor pleno da democracia nós não teríamos vivido aquilo que o século XX infelizmente viveu desde os seus primórdios. E só sendo protagonistas da democracia poderemos viver, em sua plenitude, a liberdade. Para assegurar isso, a atitude firme da sociedade e em especial, do associativismo, é fundamental. Como vai haver associativismo, associação comercial, sem democracia? Essa percepção e atitude requerem grandeza. Requer clara definição de Estado e governo. Governo é operação, e Estado é estratégia. Falta essa percepção no Brasil de hoje. E falta isto: sairmos da pequenez e entrarmos num grande projeto brasileiro que seja guiado pelo espírito de grandeza. O Brasil tem vivido de “guinadas”. A “guinada” de 1961 com Jânio Quadros, a “guinada” de 1964 com a implantação da ditadura, a “guinada” de 1989, com Collor, a de 2002, com o Lula, seguida da catástrofe Dilma Rousseff. O que esse período de “guinadas” nos trouxe? O que de fato nos trouxe estabilidade democrática, da moeda e da paz social foi o período sem “guinadas”: a democracia e a liberdade de JK, a luta libertária do Tancredo, a crucial estabilidade monetária com Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. “Guinadas” levam ao estado de exceção e costumam acabar em barbárie. Por outro lado, precisamos fugir da “meiguice”, desse equívoco de que o brasileiro deve se ver e agir como o “homem cordial”. O equilíbrio, virtude da mineiridade, afasta o mineiro de “guinadas”; a “meiguice” faz com que fuja ao protagonismo. E é o protagonismo que temos que assumir agora. Algo que eu considero altamente estratégico é que para que haja transformação, mudanças, sempre há um núcleo central onde elas são plasmadas e de onde partem. Eu tenho ouvido de Ozires Silva, que eu admiro muito, e que tem nos apoiado como nosso mentor: “As coisas no Brasil precisam partir de Minas”. É hora de nos afirmarmos como protagonistas, e assumirmos. Como nós fizemos nesta sala com o senador Anastasia quando veio à ACMinas lançar sua campanha ao governo de Minas, junto aos empresários. Eu fui a cada um dos vice-presidentes, consultando-os se deveríamos fazer uma determinada afirmação. Todos disseram que sim. Então, eu disse: “Senador, nós estamos agora terminando a Copa do Mundo e vimos como é importante o espírito de mata-mata e é o que estamos vivendo no Brasil e em Minas. O senhor precisa efetivamente se afirmar, afirmar Minas e nós afirmarmos a sua candidatura. Então, neste momento, eu, presidente da ACMinas, assumo minha postura de protagonista em nome dos meus companheiros, dizendo que nós apoiamos a sua candidatura. E depois nós fomos longe, reunimos o fórum de líderes empresariais e trouxemos Geraldo Alckmin. Esse foi o episódio mais difícil, dentre tantos posicionamentos que assumi na Associação Comercial e Empresarial de Minas: ser protagonista, naquele momento. Os nossos companheiros do Fórum têm pensamentos diversos. A ACMinas, para ser protagonista, tem que se afirmar como protagonista. Não vale a “meiguice”. É o que faz, da mineiridade, a mineirice. E a mineirice não tem ajudado Minas Gerais em nada.
Neste momento eu quero deixar claro, aqui, o seguinte: primeiro, nós devemos reconhecer e seguir, ordinariamente, a postura institucional e hierárquica. Mas nós podemos nos insubordinar. Porque a insubordinação é que faz as mudanças, não aquelas das “guinadas” que ferem a Constituição, mas que priorizem a democracia. Então, presidente Lúcio Assumpção, eu quero lhe agradecer por ter tirado desta reunião o mero aspecto jurídico, formal, e por tê-la trazido para um foro muito maior. Seria um desperdício deixar que vocês saíssem daqui sem a oportunidade de discutir. O presidente do Conselho Superior, com sua clarividência, nos possibilitou, ainda que caminhando para o final do mandato desta gestão, tivéssemos esse momento de grandeza. Eu só peço, com todo respeito, que aqueles que acreditam na “guinada” pensem e temperem essa “guinada” com democracia e, sobretudo, com a ideia sagrada da liberdade.

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