OPINIÃO COM INOVAÇÃO | A cultura da inovação além das piscinas de bolinhas

15 de agosto de 2019 às 0h06

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Crédito: arquivo pessoal

Já pensou em trabalhar nos escritórios ao estilo Google? Videogames, puffs coloridos, chopeira, mesa de sinuca, ping-pong, piscinas de bolinhas, guloseimas e ambientes totalmente estilizados. Para muitos, é o sonho de consumo profissional.

Tenho visto inúmeras empresas vendendo este tipo de conceito como inovação. Uma startup, por exemplo, já nasce com essas características, é endógeno.

É fato que para empresas monolíticas, conservadoras e tradicionais, esse tipo de ambiente causa certo impacto.

O problema é que muitas dessas empresas não colocam o colaborador no centro das atenções, entregando este tipo de conceito apenas para acompanhar tendências e “vender” para seus colaboradores, clientes e parceiros, uma imagem de empresa inovadora.

Criam uma casca em que buscam maquiar uma cultura, que de inovadora não tem nada. Seguem os mesmos modelos, processos e ideologia de anos atrás. O quadro ao lado da cozinha, com a missão, valores e visão, encontra-se o mesmo até hoje. Empresas contemporâneas de verdade possuem propósito!

É lindo e encanta em um primeiro momento, cria o fator Wow, mas este tipo de estratégia over-the-top não é o suficiente. O que realmente importa para aumentar a produtividade dos colaboradores? O que realmente os deixam felizes? Será mesmo que basta criar um ambiente cool para reter e atrair os melhores talentos?

Só quero deixar bem claro. Não sou avesso a este tipo de ambiente, muito pelo contrário. É importante principalmente para aguçar a criatividade, além de deixar o ambiente mais leve e colaborativo. A minha observação é sobre criar espaços bacanas de trabalho sem desenvolver a cultura organizacional.

Uma pesquisa da Robert Half International aponta que os colaboradores são parciais com produtos básicos, como horários de trabalho flexíveis (88%), bonificação (77%), plano de saúde top (69%), além de comodidades como uma academia ou mesmo permitir filhos no local de trabalho.

A Geração Z (pessoas nascidas, em média, entre meados dos anos 1990 até o início do ano 2010), busca por uma boa cultura e ambiente de trabalho flexível, possui forte senso de pertencimento. Quer algo a mais do que ambientes divertidos.

É aquela história, adulto precisa é pagar boleto, não se divertir no trabalho.

O próprio Google incentiva seus colaboradores a desenvolverem e criar coisas novas, fomenta a Cultura Maker. 20% do tempo é dedicado a projetos pessoais, uma regra na empresa. A diversão de um googler (como é chamado quem trabalha lá) é aprender coisas interessantes, concentrar esforços no que realmente interessa.

O ambiente cool no Google é o que menos importa, a cultura da inovação e transformar o mundo, é o que faz a diferença.

A empresa HubSpot, conhecida por sua cultura orientada pela impressionante linha de benefícios diversos e inovadores, acredita que a chave para entregar um plano de benefícios que ressoe com os funcionários e possíveis clientes, é garantir que esses benefícios se conectem diretamente à missão corporativa.

Para Katie Burke, diretora de RH da empresa, “coisas como férias ilimitadas, férias sabáticas e licença parental recebem muita publicidade, mas no final todas elas estão diretamente ligadas ao nosso valor essencial de autonomia e nosso compromisso com a flexibilidade.”

Burke ainda afirma, “qualquer coisa que você fizer por glamour ou cobertura da imprensa, sempre será insuficiente. A autenticidade e a conexão com o seu propósito devem ser o maior imperativo para definir a experiência do seu funcionário.”

Por falar em cultura da inovação, o profissional de Recursos Humanos, ou mesmo gestor de pessoas, tem papel fundamental no processo. Precisa ser verdadeiro designer Organizacional, buscar entender o comportamento humano e as reais necessidades dos colaboradores, não de forma genérica, mas individualizada, atuando com programas de diversidade para aprofundar na realidade.

Toda nova solução precisa fazer sentido, que impacte diretamente no bem-estar e produtitividade. É muito mais uma questão de estratégia do negócio do que uma simples ideia. É preciso se perguntar a todo momento, será que é realmente isso que nossos colaboradores buscam? É se colocar no lugar do outro, praticar a empatia organizacional.

Do que adianta investir em ambientes superdescolados se os seus colaboradores buscam trabalho remoto? Um programa de home office seria muito mais eficiente neste caso, não é mesmo?

Criar uma cultura de inovação não é uma tarefa nada fácil. Poucos profissionais estão preparados ou mesmo se predispõem para implementar este tipo de modelo. É trabalho de longo prazo, que precisa principalmente ter apoio incondicional da diretoria e presidência da empresa.

Para corroborar, ainda tem o lado negro da cultura corporativa, situações do tipo: “nós sempre fizemos desse jeito”, “isso não vai funcionar aqui, já tentamos anos atrás e não deu certo”, “não seja sonhador”, “não importa o que fazemos, nada vai mudar mesmo”.

Mas não desanime, tudo tem um começo, certo? Então comece aos poucos, pense grande mas inicie pequeno. Pequenas ações podem fazer a diferença, acredite em mim!

Por falar em fazer o diferente, deixo três dicas para iniciar um processo de cultura da inovação além das piscinas de bolinhas.

Flexibilidade na jornada de trabalho:

Será que temos mesmo que seguir o modelo linear e cartesiano de trabalho, das 8h às 18h? Algumas pessoas produzem melhor à noite, são os chamados profissionais notívagos.

Vamos deixar o colaborador trabalhar dentro do time dele, respeitar a performance do organismo de cada um.

Redução da carga horária de trabalho: A jornada de 8 horas de trabalho foi instituída oficialmente pela empresa Ford, em 1914. Sim! Estamos atuando dentro de uma jornada de trabalho fordista. Algumas empresas estão diminuindo a carga horária de trabalho para 6 horas/dia, ou mesmo para 4 dias na semana. O resultado disso? Aumento da receita através de colaboradores mais felizes e produtivos.

Incentivo e bonificações para descolamento sustentável: Mobilidade urbana é um gap gigante dentro das grandes metrópoles. Financiar alternativas para a mobilidade dos colaboradores irem e virem do trabalho. Modais como bicicletas ou patinetes elétricos para aqueles que abolirem o tradicional VT (vale-transporte).

Bem, esses são alguns exemplos para desenvolver e reverberar uma cultura da inovação.

O importante é que cada empresa olhe para dentro, analisar o que realmente irá fazer a diferença para os seus colaborares e entregar de fato aquilo que agregue valor.
Este é um tema que tenho abordado em palestras e treinamentos para gestores de pessoas e RH.

Encerro com uma frase que define bem este artigo. Inovação é estado de espírito.
O futuro é o agora!

Até a próxima.

Bruno de Lacerda.

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