EDITORIAL | Conta que não para de crescer

19 de setembro de 2018 às 0h01

É tema recorrente, na campanha eleitoral em andamento, a questão da segurança pública, que pesquisas de opinião dizem figurar entre as maiores preocupações dos brasileiros na atualidade. E não faltam, nesse debate já um tanto repetitivo, propostas para atacar o problema. Dos mais radicais que recomendam que bandidos sejam enfrentados à bala àqueles que enxergam no problema o resultado previsível das disparidades econômicas existentes no País, acentuadas pela expansão do desemprego. E o discurso se amplia, às vezes com a colaboração de especialistas, recomendando – ou prometendo – melhor treinamento e integração das forças policiais, além de ênfase nas ações de inteligência em detrimento de ações de confronto, ampliação dos quadros, melhorias no sistema prisional, etc. Para resumir, uma receita já bem conhecida, embora poucos se lembram de apontar que o Estado até agora não se mostrou capaz nem mesmo de impedir que presidiários tenham acesso à telefonia móvel, utilizando a tecnologia para escapar do isolamento que lhes foi imputado.

Poderiam, e deveriam falar também de um outro aspecto da questão, representados pelos custos indiretos dessa situação, particularmente para as empresas. Foi o que cuidaram de fazer as federações de indústrias de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo, juntamente com a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Os resultados, recentemente divulgados, causaram espanto. Com base nos dados de 2017, a pesquisa revelou que a falta de segurança custou às indústrias nos cinco estados, naquele ano, pelo menos R$ 57,6 bilhões. Foram, em primeiro lugar, prejuízos decorrentes de roubos e furtos, em especial de cargas, além de gastos com medidas protetivas, como sistemas de monitoramento e vigilância, bem como contratação de seguros específicos. A conta na realidade é ainda maior se acrescidas de despesas decorrentes de horas não trabalhadas e tratamento médico.

Impressiona também saber que a pesquisa em questão envolveu 800 empresas estabelecidas nos cinco estados e pelo menos um terço delas apontam situações em que foram vítimas da criminalidade. E quase metade (48%) acusam roubo ou furto de cargas como parte dos prejuízos sofridos. Tudo isso se incorpora ao chamado “custo Brasil”, assunto que anda esquecido ultimamente, com impacto evidente na competitividade e nos resultados das indústrias. E peso dividido também com os consumidores, uma vez que os custos absorvidos influem nos preços finais dos produtos ofertados.

Uma espécie de círculo vicioso que se completa com a fuga de indústrias para outras regiões ou países, além do afastamento de novos investidores, ajudando a prolongar o ciclo de estagnação.

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