EDITORIAL | Eternizando a dependência

4 de maio de 2019 às 0h02

img
Crédito: Nick Oxford/ Reuters

O planeta, desde o século passado, é movido a petróleo, que passou a ser o principal insumo da economia moderna, portanto com um valor estratégico superado apenas pela água e alimentos.

Mas foi em torno do petróleo, como imagina-se poderá ser no futuro em torno da água, que mais fortemente se manifestaram interesses econômicos a partir dos países altamente industrializados, que controlam e manipulam as principais reservas mundiais, processos de transporte, refino e distribuição e, na ponta, os preços, estes transformados em armas tanto econômicas quanto políticas.

São dados históricos e bem conhecidos, retratando uma realidade objetiva que se coloca acima da política e de ideologias. A mesma realidade que levou o Brasil, afrontando interesses externos e dominantes, a desenvolver sua indústria petrolífera, a partir de meados do século passado. A rigor, o País estava buscando construir sua independência econômica, o que ficou mais urgente a partir da crise do petróleo em meados dos anos 70, no século passado. O sonho que parecia impossível, uma vez que missões estrangeiras, supostamente de boa reputação, atestaram e garantiram que não existia petróleo em território brasileiro, afinal se materializou.

Com a descoberta das reservas do pré-sal, que se contam entre as maiores do planeta, e o desenvolvimento de tecnologia própria para extração a grandes profundidades, o Brasil, contra a maioria das previsões, hoje se aproxima da produção de 3 milhões de barris/dia e só não é capaz de atender à sua própria demanda porque não tem capacidade de refino, uma vez que nos últimos anos todas as atenções – e recursos – estiveram voltados para prospecção e extração.

Mudar essa situação, o que significa dependência e sujeição a interesses que não são os seus, seria, no que toca ao suprimento de derivados de petróleo, a tarefa mais urgente. Principalmente para um país em que 70% das cargas são movidas por caminhões que queimam óleo diesel.

Espanta e deve causar enorme preocupação, nessas circunstâncias, a decisão da Petrobras, seguindo evidentemente diretrizes do governo federal, de vender 8 de suas 13 refinarias, transferindo a terceiros quase metade de sua capacidade de refino, podendo abrir mão também do setor de distribuição.

Argumenta-se, em defesa de decisão, que sendo escassos os recursos, é necessário concentrá-los no pré-sal. Mas na prática isso pode significar estender ao infinito a dependência com relação aos refinados, e dessa forma a sujeição a forças dissociadas, ou contrárias, aos interesses do País, sua real independência e crescimento econômico.

São restrições e contingências que a greve dos caminhoneiros no ano passado e as constantes ameaças de novas paralisações, ensinam que não devem ser desdenhadas.

Tags:
Facebook LinkedIn Twitter YouTube Instagram Telegram

Siga-nos nas redes sociais

Comentários

    Receba novidades no seu e-mail

    Ao preencher e enviar o formulário, você concorda com a nossa Política de Privacidade e Termos de Uso.

    Facebook LinkedIn Twitter YouTube Instagram Telegram

    Siga-nos nas redes sociais

    Fique por dentro!
    Cadastre-se e receba os nossos principais conteúdos por e-mail