EDITORIAL | Exemplo deve vir primeiro

30 de abril de 2019 às 0h02

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Créditos: kremlin/divulgação

No plano internacional, a semana que passou foi marcada pelo encontro entre os presidentes da Coréia do Norte, Kim Jong-un, e da Rússia, Vladimir Putin.

O visitante se despediu dizendo acreditar que o encontro renderá bons frutos e o anfitrião, Putin, foi mais comedido, sugerindo a possibilidade de colaboração mais intensa, especialmente no plano comercial, porém condicionando qualquer avanço à concretude do programa de desnucleariazação da Coreia.

Disseram alguns observadores da cena internacional que, nesse particular, Putin estava jogando para a plateia, dizendo o que todo mundo quer ouvir para, dessa forma, reconquistar algum protagonismo. Jong, por sua vez, parece tentar desbravar caminhos, criando uma segunda frente de aliança e, dessa forma, depender menos da China, principal fiador de seu governo.

No caso, o temor seria de uma eventual guinada, uma vez que, sem qualquer disfarce, na China os interesses comerciais permanecem em primeiro plano, mesmo que isto signifique não perceber, ou não dar confiança, aos maus modos de Donald Trump.

Aos desavisados pode parecer pouco, mas, na realidade, estão em jogo os principais fatores que movem, para cima ou para baixo, a economia mundial, que, por sinal, já dá sinais claros de instabilidade diante das diferenças, cada vez mais explicitadas, entre os principais atores em cena.

Na realidade, é o comércio que está em questão, muito mais que as condições militares na península coreana, em que a existência ou não de arsenais nucleares acaba sendo apenas pretexto, mesmo que sejam fundamentais para sustentar os interesses econômicos em jogo.

Tentando enxergar a questão a partir dessa perspectiva, o que se percebe e se conclui é que quem tem o monopólio da força busca garantir essa condição simplesmente para que seu poder econômico seja também sustentado. Aqui também existem muitos interesses e nenhuma virtude.

É nessa perspectiva, exclusivamente, que convém a países como o Brasil, cujas tímidas tentativas de conquistar uma cadeira no clube atômico foram barradas sem qualquer disfarce, observar o que se passa, compreender melhor o sentido das conversas em Vladivostok na semana passada. Seria ideal que não existisse no planeta ninguém com o poder de apertar um botão e imediatamente decretar o fim do próprio planeta.

Não é própria, no entanto, a exclusividade, por princípio arbitrária, do poder, o que significa também impor a lógica da submissão. Dito de outra forma, só faz sentido que o controle de armas nucleares comece exatamente por quem já as possui, aí sim para quebrar o monopólio do desequilíbrio e da força.

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