EDITORIAL | Ofensas à democracia

2 de outubro de 2018 às 0h01

Na última sexta-feira, ainda hospitalizado em São Paulo, o deputado Jair Bolsonaro deu entrevista à rede Bandeirantes de Televisão e, mais uma vez, conseguiu surpreender. Disse, sem qualquer reserva, que não aceiraria qualquer resultado diferente da vitória.

Segundo o candidato à Presidência da República, que aparece em primeiro lugar nas pesquisas de opinião relativas ao primeiro turno, mas como derrotado num provável segundo turno, a única possibilidade nessa direção seria fraude. Bolsonaro, sete vezes eleito deputado e sempre em votações realizadas com urnas eletrônicas, repete agora que este sistema está sujeito a fraudes que poderiam prejudicar sua campanha. Disse também ter desconfianças com relação a profissionais dentro do Tribunal Superior Eleitoral, concluindo que, na sua opinião, nas próximas eleições “a suspeição estará no ar”.

Evidentemente as declarações do deputado candidato repercutiram muito mal, por inoportunas e por incoerentes, uma vez que em sete ocasiões anteriores o sistema, que é auditado, severamente controlado e reconhecido como um dos mais avançados do mundo, não mereceu reservas de sua parte, da mesma forma que se pode supor que no caso de vitória não haverá, pelo menos da parte dele, questionamento.

Faltando menos de uma semana para o primeiro turno, por certo não é hora de aumentar a temperatura, mesmo que esta seja uma prática cada vez mais comum e repetida. No dia seguinte, o ex-ministro José Dirceu, hoje condenado, e tido como um dos homens fortes do Partido dos Trabalhadores (PT), também em entrevista, no caso ao jornal espanhol “El Pais”, foi indagado se existiria possibilidade de seu partido ganhar, mas “não levar”.

Segundo ele, isso seria caminhar para “um desastre total”, algo que a comunidade internacional não aceitaria. E completou um tanto imprudente: “Dentro do País é uma questão de tempo para a gente tomar o poder. Aí nós vamos tomar o poder, que é diferente de ganhar uma eleição”.

Tudo pode não passar, de um e de outro lado, de um jogo de bravatas, por mais inconsequentes que tenham sido seus autores, próprio de campanhas eleitorais, restando lembrar aos dois que o Brasil e os brasileiros fizeram opção pela democracia fundada na representação popular, que se manifesta exatamente pelo voto. Quem entra nesse jogo, seja o candidato Bolsonaro, seja o partido que acolhe José Dirceu, conhece suas regras e absolutamente não lhes compete, agora e a qualquer título, questioná-las, como fez o primeiro, ou ameaçá-las como sugere o segundo.

Que tenham sido apenas bravatas inconsequentes mas ainda assim que as instituições guardiãs do regime e da Constituição permaneçam atentas e vigilantes.

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