EDITORIAL | Sem memória e sem direitos
16 de maio de 2019 às 0h02
Faz pouco mais de um ano algum burocrata em Brasília, para entusiasmo de seus superiores, teve mais uma daquelas ideias geniais, na sua perspectiva claro, para servir – melhor – ao público. Estamos falando da cobrança pelas bagagens de usuários das linhas de transporte aéreo regular, serviço até então incorporado às tarifas regulares pagas pelo passageiro.
Com a mudança, foi dito e prometido, os custos das companhias aéreas seriam evidentemente aliviados, benefício que seria transferido aos passageiros. Houve reação e alguns protestos, adiando a implantação da medida, que afinal entrou em vigor, ao mesmo tempo em que foram impostas novas limitações ao tamanho e peso das bagagens de mão, aquelas que os passageiros levam consigo ao embarcar.
Agora, aparentemente acalmados, os passageiros que já se acostumaram, ou se conformaram, com o pagamento extra e nada usual no resto do mundo, estão sendo cobrados mais duramente justamente pela bagagem de mão. E tudo isso sem qualquer tipo de satisfação, esquecidas e deixadas de lado as promessas de que o benefício maior seria para o consumidor.
Na realidade, tudo se resume numa quase excrescência, uma vez que só se pode imaginar que a bagagem é parte inerente da passagem adquirida. E tudo isso, para completar, como se necessário fosse, com autoridades e agências reguladoras fazendo de conta que nada aconteceu, mesmo com a prometida redução de tarifas transformada em majorações que na média chegaram aos 35%, para inflação média que no mesmo período não chegou aos 5%.
Apesar das reações havidas no início da semana, porque a fiscalização sobre tamanho e peso da bagagem de mão foi intensificada em mais alguns importantes aeroportos, o que na realidade se percebe, da parte do público, é acomodação e conformismo. Ninguém parece ter memória, ninguém parece se lembrar do que foi prometido e, menos ainda, de direitos a questionar e cobrar.
Essa apatia certamente ajuda a explicar o porquê de tantos e tão frequentes abusos, prevalecendo a ideia de que os cidadãos existem para servir ao Estado e não o contrário. Essa a base real para tantos e tão frequentes abusos, que ganham espaços nas manchetes, alimentam promessas de políticos, mas, absolutamente, não alteram o mundo real. Que o digam os passageiros que nesse momento estão nas filas de embarque de algum aeroporto no País.
Para concluir, falta entender que o que se paga por uma mala maior ou menor importa menos, muito menos, que a indiferença e até a hostilidade reservada a contribuintes e consumidores, cidadãos que parecem ter sido apagados por aqueles que sequestraram o Estado brasileiro.