EDITORIAL | Um legado a preservar

28 de agosto de 2018 às 0h01

A morte, aos 93 anos, do empresário e construtor Murilo Valle Mendes sugere, além do pesar de seus familiares, amigos e colaboradores, reflexão sobre o trabalho por ele realizado e seu significado. Murilo, ao lado do pai José Mendes Júnior, fez da construtora que leva o nome da família, uma das maiores empresas do setor no mundo, que no seu apogeu manteve canteiros de obras em quatro continentes. Tudo isso a partir de sua atuação no País e do know how que desenvolveu em obras de engenharia de grande porte, especialmente no setor elétrico, como as primeiras grandes usinas hidrelétricas erguidas no País, onde ocupou um espaço antes reservado exclusivamente a empresas estrangeiras. Foram realizações que marcaram toda a segunda metade do século passado, coincidindo com a fase de maior expansão da economia brasileira.

A Mendes foi pioneira no seu campo de atuação, abrindo espaços para o surgimento de outras empresas de igual ou maior porte e, assim, dando destaque mundial à engenharia brasileira que, em grandes contratos no Iraque, que marcaram o apogeu de sua atuação no exterior, conseguiu superar até mesmo empresas que carregavam a tradição e a boa fama da engenharia germânica. Murilo Mendes viveu o apogeu da empresa que ajudou a consolidar e também, desgostoso, o seu ocaso, marcado de um lado por dificuldades conjunturais, que determinaram virtual paralisação das obras públicas de grande porte, e de outro pelo contexto em que tais obras eram contratadas e realizadas.

Não se pode aceitar, evidentemente, os desvios e procedimentos ilícitos que agora vieram à tona e, pode-se deduzir, também uma espécie de porta de entrada no terreno das grandes licitações públicas. A própria Mendes Júnior, hoje em dolorosa recuperação judicial, reconheceu seus erros e deles se penitencia, mesmo que eventualmente tenha sido passiva nesse processo em que aparentemente somente propinas abriam portas.

Nada disso, de qualquer forma, pode apagar o significado maior de suas realizações e, sobretudo, do capital de conhecimentos que, como outras na mesma situação, acumulou. Tanto quanto não apaga, sequer diminui, o legado de Murilo Valle Mendes.

Este é o ponto a destacar, em primeiro lugar para homenagear o empresário visionário e que deixou marcas tão fortes no mundo dos negócios e, segundo, na esperança, ainda, de que suas realizações não se percam. Que não se perca todo o capital que ele ajudou a acumular para a engenharia brasileira, um saldo amplamente positivo e que não pode ser ignorado.

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