Eta mundo velho de guerra! (I)

22 de novembro de 2018 às 0h01

Cesar Vanucci*

“Prefiro o método convencional.” (Antônio Guterres, secretário-geral da ONU, a propósito do “aplicativo de paquera”)

Prossegue hoje, neste minifúndio de papel (como apreciava dizer o saudoso Roberto Drummond), o desfile de coisas intrigantes e registros novidadeiros extraídos do trepidante noticiário nosso de cada dia.

l Aplicativo de paquera revolucionário. A empresa “A eHarmony” anunciou, em Lisboa, estar desenvolvendo modalidade de aplicativo na linha do IA (Inteligência Artificial). O instrumento seria capaz de oferecer aos usuários dos infinitos processos de comunicação digital a chance de poderem identificar – ora, veja, pois! – o “amor definitivo de suas vidas”.

Os idealizadores desse processo de interação sentimental garantem que o vanguardeiro esquema bolado, altamente sofisticado, é tranchan em termos de paquera eletrônica. O IA, assinalam os entendidos, é uma experimentação científica dotada de condições para programar a reprodução em computadores de mecanismos humanos ligados às percepções, às sensações, ao próprio pensamento e tomada de decisões (ora, epa!). Ao ser acionado, o “cupido eletrônico” estabelece, celeremente, ambiência propícia à aproximação de criaturas afins para que sejam felizes, juntas, pra todo sempre, amém. Mas já há quem, “desconfiômetro” ligado, coloque em xeque, bradando “truco”, a propalada eficácia do sistema. Antônio Guterres, ex-primeiro-ministro português, atual secretário-geral da ONU, por exemplo, confessa-se “cético” quanto à perspectiva do aplicativo baseado no IA ajudar de fato “as pessoas escolherem suas almas gêmeas”. Afiança estar muito feliz por ter sabido localizar sua cara metade “fazendo uso dos métodos convencionais de paquera”.

Os analfabetos funcionais e as redes sociais. Os chamados “analfabetos funcionais” desempenham papel destacado na disseminação das informações falsas distribuídas via redes sociais. É o que acusa pesquisa recentemente vinda a lume coordenada pelo Inaf – Indicador de Analfabetismo Funcional. Segundo o trabalho técnico divulgado, de abrangência nacional, as mais de duas mil pessoas ouvidas, classificadas na categoria acima citada, utilizam em volume bastante considerável os aplicativos existentes na internet. Espalham incessantemente as mensagens e imagens recebidas. A classificação “analfabeto funcional” é atribuída a quem confronte dificuldade, na rotina diária, para ler e interpretar textos e executar operações matemáticas simples. Tais elementos se mostram permeáveis a absorver e propagar desinformação, por carecerem, obviamente, das qualificações intelectuais mínimas exigidas para análises críticas daquilo que lhes está sendo passado, muitas vezes revestido, como sabido, de aparência verdadeira. Ficam expostos ao risco de compartilhar textos de sentido distorcido e enganoso, como explica Fernanda Cury, uma das pesquisadoras envolvidas no trabalho. O cientista político Daniel Cara, presidente da “Campanha Nacional pelo Direito à Educação”, em depoimento ao jornalista Thuany Motta, autor de reportagem estampada em “O Tempo”, assevera que os dados da pesquisa “mostram o que já se vinha falando: mesmo em condição de analfabetismo funcional, as pessoas se comunicam da forma que podem, incluindo as redes sociais.” Resta assinalar, em se tratando de rede social, que a presumida participação do “analfabeto funcional” na proliferação de notícias falsas não explica por si só o corrosivo processo em toda sua dilargada extensão. O que não vem faltando na praça é nego tido como alfabetizado empenhando-se pra valer no esforço de espalhar malvadezas à pamparra na internet.

Demanda superou longe a oferta. Na esteira do governo uruguaio, o governo canadense aprovou o consumo de maconha para fins medicinais e recreativos. As lojas especializadas no fornecimento do produto não estão dando conta, entretanto, de atender as encomendas. A escassez da erva vem levando “consumidores frustrados” a recorrerem ao “mercado clandestino”. Segundo o departamento governamental responsável pelo assunto, os fornecedores credenciados veem-se às voltas, no momento, com numerosos problemas. A saber: as áreas de cultivo legalizado e os equipamentos de embalagem do artigo são ainda insuficientes para o atendimento global da clientela. De outra parte, a explosão na procura, fora dos cálculos oficiais, somada à lentidão burocrática no licenciamento dos produtores da “cannabis sativa”, constitui elemento causal preponderante na escassez apontada. Porta-voz da agência reguladora na Província de Quebec, após esclarecer que a demanda vem superando em muito a oferta, registra: “Os produtores podem até contratar mais pessoas para garantir o atendimento. Mas isso não fará as plantas crescerem em menos tempo.”

Enquanto isso, no vizinho Estados Unidos, onde dez estados aprovaram igualmente o uso recreativo da maconha, o “Boston Globe”, de Massachussets, acaba de tomar uma decisão inédita na história do jornalismo: criou uma editoria exclusivamente dedicada às questões relacionadas com a produção, abastecimento e consumo da polêmica erva.

* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

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