Não existe mágica no campo

25 de junho de 2019 às 0h01

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Crédito: Ivan Bueno/ AG. Paraná

Benjamin Salles Duarte *

Pode-se afirmar que não há nenhuma atividade humana, no campo e nas cidades, com presumível impacto zero sobre os recursos naturais não apenas nos domínios do agronegócio como também na indústria, agroindústria, comércio e serviços.

Apesar dos avanços consideráveis na adoção de inovações na agricultura, onde os ganhos de produtividade foram em 68% devido às tecnologias geradas pela pesquisa, segundo estudos da Embrapa/2006, as variações climáticas podem afetar a colheita de grãos, a depender da dimensão geográfica desses eventos, tempo de duração, e estágios das culturas atingidas!

Contudo, pode-se apenas formular uma hipótese como a perda, em definitivo, de 1 milhão de hectares de soja por efeito de estiagens severas, chuvas excessivas na colheita ou outros fatores associados e convergentes O que poderia significar essa ocorrência adversa em dados estimativos e não uma análise econômica, seara de economistas, pois a dinâmica de mercados abriga demandas, ofertas e preços variáveis, sendo conjuntural!

Contudo, tomando-se como referência a média de 50 sacas de soja por hectare cultivado seriam 50 milhões de sacas não colhidas em 1 milhão de hectares ao preço médio de R$ 65,00 a saca, que somariam R$ 3,25 bilhões. E mais, com custo médio de R$ 2 mil por hectare plantado, esse montante cresceria para R$ 5,25 bilhões ou US$ 1,36 bilhão no dólar comercial de hoje. Não há mágica no campo, há negócios e consideráveis riscos!

E se fossem avaliados os desdobramentos dessas 50 milhões de sacas não colhidas na oferta de leite, carne, ovos, exportações não havidas de grãos, farelos, tributos? Um prejuízo em cascata que atingiria em primeiro lugar os sojicultores afetados e num País em que o seguro agrícola é ainda tímido, e diante da magnitude e respostas do agronegócio nos sistemas alimentares.

Entretanto, a agricultura irrigada ainda é limitada, embora com um potencial de 30 milhões de hectares contra os 6,95 milhões de hectares atuais (ANA), e considerando-se todos os métodos de irrigação empregados não apenas na agricultura de grãos. Por outro lado, entre as safras de soja de 2001/02 até a de 2013/14, os produtores gastaram, em média, US$ 2 bilhões anuais no controle da ferrugem asiática (Embrapa). Produzir e abastecer exige muita pesquisa e vultosos investimentos no campo!

Brasil é o 2º produtor mundial de soja e o maior exportador. As variações climáticas adversas e outros eventos naturais não escolhem as culturas, e o binômio soja e milho é histórico, com 53,1 milhões de hectares cultivados (84,4%) em 62,9 milhões.

Além disso, o 9º Levantamento da Companhia Brasileira de Abastecimento (Conab) revela que na safra 2018/19 a produção estimada de soja é de 114,8 milhões de toneladas, e a de milho 97,0 milhões de toneladas ou 211,8 milhões, no conjunto, o que significam 88,6% da colheita de 238,9 milhões de toneladas de grãos. O Brasil é o 3º produtor mundial de milho, e de alimentos!

Claro que também houve avanços nos tratos culturais, e se pesquisam novos cultivares mais resistentes às deficiências hídricas, pragas e doenças, biodefensivos, sementes com alta carga genética, sendo uma questão de tempo nos cenários da pesquisa agropecuária ao gerar boas práticas sustentáveis!

Contudo, por melhor que sejam também as previsões de tempo, com novas e modernas tecnologias acessíveis, a natureza está acima da Ciência, e poderá surpreender de uma hora para outra e sem muito aviso prévio, inclusive noutros eventos naturais de grande magnitude no planeta Terra. Uma preciptação de 100 milímetros não prevista nessa dimensão hídrica, num breve espaço de tempo, poderá desencadear uma catástrofe de considerável proporção.

*Engenheiro agrônomo

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