O Corvo (IV)


29 de dezembro de 2018 às 0h01

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Marco Guimarães*

O relógio do distrito policial marcava 8:45. O comissário, chefe do capitão Maurel, telefonou para saber se ele já tinha chegado. Os jornalistas e repórteres das emissoras de televisão o aguardavam desde as 7:45, hora marcada para a coletiva que ele daria à imprensa.

— Não, Sr. comissário, ele ainda não chegou, respondeu o policial Pierre Dumont do outro lado da linha.
— Trate de encontrá-lo.
— Já telefonamos várias vezes, ele não responde.
— Pois mande alguém a sua casa, ele pode estar dormindo.
— Sim senhor, farei isso imediatamente.

A viatura policial chegou ao edifício onde morava o capitão às 8:54, tocaram o interfone com insistência; nenhuma resposta.
— Se vocês procuram pelo capitão Maurel, ele não está, já não o vejo há dias, disse o vendedor de um quiosque situado a poucos metros de onde estavam.

O distrito policial passou um rádio com a descrição do carro do capitão para as viaturas, solicitando uma busca pelas ruas do bairro. Meia hora depois receberam uma chamada dizendo que o carro do capitão estava estacionado na Rue Pascal, em frente ao hotel cujas câmeras registraram as últimas imagens da menina Aline e de sua sequestradora, mas que o capitão não estava no local. Foram então orientados a fazer uma varredura pelas redondezas. Contaram naquele momento com o apoio de mais quatro policiais, recém-chegados em duas outras viaturas. Após uma busca pela região, passaram um rádio para o distrito.

— Nada. Nem sinal do capitão Maurel. Abrimos o seu carro, nenhum sinal de violência, o celular estava sobre o banco do carona, com o flip aberto. Talvez ele tenha recebido algum telefonema.
— Veja o registro de ligações e retorne para a última chamada dada ou recebida.
— A última chamada recebida foi agora pela manhã, de alguém não identificado; mas parece que essa pessoa desligou imediatamente após ter realizado a ligação.
— Avisarei o comissário. Mandarei um reboque para buscar o carro do capitão. Obrigado.
Momentos depois, o policial de plantão telefonou para o comissário para comunicar que o carro do capitão Maurel havia sido encontrado, mas que não havia sinal dele. — O homem desapareceu, comissário — finalizou ele.

— Como desapareceu? Não bastasse o sumiço das duas, até o momento inexplicável, agora o Maurel também some. Telefone para a tenente Natalie, sei que está de folga, mas peça que vá até aí e diga à imprensa que o capitão, em função de diligências referentes ao caso, não poderá dar a coletiva e, tão logo se tenha alguma novidade, ela será imediatamente comunicada a todos.

  • Escritor. Autor dos livros: “Fantasmas de um escritor em Paris”, “Meu pseudônimo e eu”, “O estranho espelho do Quartier Latin”, “A bicha e a fila”, “O corvo”, “O portal”, “A escolha”

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