O desenvolvimento sem dinheiro

12 de janeiro de 2019 às 0h00

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José Eloy dos Santos Cardoso*

Um dos principais economistas mineiros ainda em ação, Paulo Roberto Haddad publicou há poucos dias um artigo sob o título “Como desenvolver Minas com pouco dinheiro ou sem dinheiro”. E chamou atenção para problemas que estão provocando a estagnação da economia mineira em torno de 9% do PIB brasileiro. Ele que como secretário de Estado do Planejamento nos tempos em que a economia mineira crescia duas vezes mais do que a média do PIB brasileiro nos anos 70/80 sabe muito bem o que está publicando.

A economia mineira no governo Pimentel foi totalmente destroçada e ele praticamente não conseguiu nem pagar em dia o funcionalismo do Estado.

Carlos Alberto Teixeira de Oliveira, que também é economista, publicou dias atrás artigo sob o título “Mensagem de fé e esperança no crescimento econômico”. No otimismo de seu artigo ele disse que “Minas poderá registrar também excepcional desempenho superior à média nacional, apesar das dificuldades enfrentadas no governo Romeu Zema.” Entretanto, para que isso pudesse ocorrer, precisaria que Minas ainda tivesse funcionando a todo vapor todos os mecanismos que existiram nos anos 70/80, o que não ocorre no presente momento. Pelo contrário, a Codemig que absorveu a antiga Cdimg tratou logo de inviabilizar o trabalho empreendido por aquela saudosa empresa que, pela competência de seu presidente Silviano Cançado Azevedo, conseguiu superar as dificuldades e transformá-la num dos chamados “tripés” da economia mineira servindo de modelo para outros organismos semelhantes em todos os estados do Brasil.

No lugar de transformar a Codemig que tinha dinheiro como principal fornecedor de recursos para a infraestrutura mineira, o que o presidente Castelo Branco fez no governo Pimentel foi tentar desmembrar a Codemig em duas outras para que os recursos do nióbio se transformassem indiretamente num mecanismo de financiamento para que Pimentel pudesse pagar despesas de custeio da máquina pública. O governador Romeu Zema, que é empresário de sucesso, terá outra difícil tarefa que não será simplesmente conter os avanços da despesa pública para poder fazer as contrapartidas necessárias num processo de desenvolvimento.

Ainda nos anos 60, quando Silviano Cançado Azevedo foi convidado para assumir a presidência da Cdimg, Fernando Roquette Reis, que foi colega dele no BDMG, o aconselhou a não assumir esse encargo por que se tratava de uma dificílima e quase missão impossível. Silviano não só assumiu o encargo, como, quase sem dinheiro ou com pouco dinheiro, como falou Paulo Haddad, transformou aquela empresa num dos principais “tripés” do desenvolvimento regional, nacional e internacional. Não foi milagre, mas resultado da capacidade de ajudar uma economia fragilizada e apática como era naquela época.

Nos anos 70/80 prefeitos do interior quiseram construir distritos industriais como se isso, por si só, pudesse alavancar o desenvolvimento local. Achavam que um DI era a lâmpada de Aladim do desenvolvimento. No entanto, a coisa não era tão simples assim. Quando Silviano assumiu a Cdimg, o corpo técnico daquela empresa descobriu que cidades-polo como Uberlândia, Uberaba, Juiz de Fora, Pouso Alegre, Itajubá e Montes Claros seriam capazes de, através de seus DIs e ajudas de outros organismos de desenvolvimento como o Instituto de Desenvolvimento Industrial (Indi) e a Cemig, poderiam trabalhar conjuntamente em um trabalho desenvolvimentista. E foi isso que ocorreu.

É lógico que a simples criação de um distrito industrial não é capaz de alavancar uma economia, mas quando as prefeituras tinham uma vocação para o desenvolvimento e os organismos mineiros trabalhavam em conjunto e havia incentivos fiscais, tudo começava a ser possível. No governo Pimentel, ao contrário, a Codemig além de não investir como devia no desenvolvimento ainda fez pior. Não incentivou e tentou dividir a Codemig e a riqueza do nióbio em duas, intenção que não foi totalmente absorvida pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais.

O vice-governador Paulo Brant conhece muito bem meus trabalhos e meu pensamento desenvolvimentista. Nunca concordei em meus artigos publicados com a subdivisão da Codemig porque, se ela pouco ou nada fez pelo desenvolvimento, pelo menos ainda possui a riqueza do nióbio de Araxá para dar suporte ao desenvolvimento. Continuo otimista e propagador do desenvolvimento, acreditando como fez o ex-presidente Juscelino Kubitschek quando criou a Cemig, que só através do crescimento e do desenvolvimento qualquer estado ou país conseguirão produzir rendas e empregos necessários. Consertar o mal feito e a falta de visão desenvolvimentista dá trabalho e não é fácil. Mas, ainda dá tempo.

  • Economista e professor titular de macroeconomia da PUC-Minas

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