Os políticos e suas reclamações

16 de março de 2019 às 0h01

José Eloy dos Santos Cardoso*

O governador Romeu Zema tem sido alvo de reclamações dos novos e antigos deputados da Assembleia Legislativa mineira. Em parte, essa possível distância atual entre ele e os componentes da nova Assembleia tem razão de ser. Tendo recebido um Estado quebrado e sem dinheiro até para colocar em dia os salários dos funcionários públicos ele não terá condições de, imediatamente, liberar recursos para os municípios representados pelos atuais deputados. O antigo comportamento do “toma lá, dá cá” não tem sido possível de ocorrer. Esse problema não é exclusivo de Minas Gerais e ocorre em todos os estados brasileiros.

Recentemente, 26 deputados federais mineiros resolveram protestar contra a nomeação de um novo presidente para a Codemig, que, segundo se apurou, foi comandante de importante empresa ligada diretamente ao desastre de Mariana que resultou em 19 mortes. Se isso aconteceu em Mariana, em Brumadinho o número de vítimas foi multiplicado por dez. Na conjuntura atual, os vetos de Zema a projetos aprovados pela Assembleia Legislativa mineira podem ser usados como moeda de troca e o pacote de vetos que ele enviou para a Casa, num total de oito, precisa ainda ser votado pelo plenário e, como já completaram 30 dias que eles foram enviados para o Legislativo, passam a travar que outras proposições sejam aprovadas.

Enquanto Minas Gerais vai patinando em outros problemas como a falta de dinheiro, João Dória, governador de São Paulo e que poderá no futuro se candidatar a presidente da República, não dorme no ponto, e dá outros incentivos fiscais que poderão colocar nosso Estado em alerta como o incentivo fiscal para montadoras de veículos que se proponham criar um mínimo de 400 postos de trabalho. É um pacote de medidas denominado IncentivoAuto, que poderá oferecer um desconto no pagamento do ICMS de 25% para montadoras que investirem mais de R$ 1 bilhão, uma atitude corajosa, mesmo em se tratando de São Paulo.

Nada tenho contra qualquer nome que vier a comandar a Codemig, mas, como conhecedor da economia mineira e participante como técnico do chamado “milagre mineiro” dos anos 70 que fez a economia mineira crescer duas vezes mais seu PIB do que a média do PIB brasileiro, temos que escolher um real conhecedor da economia mineira para o cargo. Mesmo que tenhamos outros grandes nomes, tenho em mente três grandes nomes que fizeram a economia mineira crescer a taxas enormes. O primeiro deles é o de Paulo Haddad, ex-secretário de Estado de Planejamento e ex-ministro de Estado da Fazenda e Planejamento; o segundo nome seria o de Silviano Cançado Azevedo, ex-presidente do BDMG, ex-presidente da Cdimg e ex-secretário de Estado de Indústria e Comércio que produziu milagres fazendo a economia mineira crescer; o terceiro, Carlos Alberto Teixeira de Oliveira, ex-presidente do BDMG, ex-secretário de Indústria e Comércio e atual presidente da empresa Mercado Comum, e que, atualmente, comanda e edita a maior empresa nacional de economia, finanças e negócios. Estou certo de que o atual vice-governador Paulo Brant irá apreciar todas essas minhas indicações. Ele também conhece muito bem a economia mineira e suas limitações. Não tenho a certeza de que eles, se fossem a maior autoridade da Codemig, gostariam de ter sob sua administração e encargos uma tarefa de leão que seria a de tentar tirar do buraco a economia mineira dos tempos atuais.
Não se trata da nomeação de um simples presidente da Codemig, mas de pessoa totalmente conhecedora e ligada ao desenvolvimento econômico e social da economia mineira. No lugar de um simples palanque político, a nova Codemig deveria alavancar a economia mineira e com os recursos vindos da exploração do nióbio de Araxá, voltar totalmente esses recursos para serem utilizados na recuperação da economia de Minas Gerais ao lado do BDMG e do Instituto de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, o Indi.
Como economista voltado para o desenvolvimento de Minas, tenho sérias preocupações com o que pode acontecer no futuro com nosso Estado. São Paulo não dorme no ponto e Rio de Janeiro faz a mesma coisa. Já tive a oportunidade de, nas páginas do DIÁRIO DO COMÉRCIO, publicar vários artigos chamando a atenção para esse angustiante problema atual. Na realidade, o governador Romeu Zema precisa ouvir mais a Assembleia Legislativa e o povo que o elegeu. Ser dirigente de uma empresa como o Grupo Zema foi muito importante para ele. Não queremos cargos, mas queremos no fundo de nosso conhecimento contribuir ainda mais para o crescimento econômico mineiro, que precisa de mais produtos, mais impostos e mais empregos. Ficando apenas vendo o sucesso de nossos concorrentes que são os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo sem poder nada fazer é dose para leão.

  • Economista e professor titular da PUC-Minas

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