Piora na inflação pode afetar Selic

28 de setembro de 2018 às 0h05

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Ilan Goldfajn afirmou que o governo tem um compromisso forte com a inflação na meta - Foto: Beto Nociti/BCB

Brasília – A política monetária deve continuar a ser estimuladora para a economia, mas a taxa básica de juros (Selic) pode voltar a subir gradualmente caso haja piora nas expectativas para a inflação. A avaliação foi feita ontem pelo presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, ao apresentar o Relatório Trimestral de Inflação (RTI).

“Temos compromisso com inflação na meta e, portanto, alertamos que esse estímulo (Selic no menor nível histórico, 6,5% ao ano) começará a ser removido gradualmente caso o cenário prospectivo para a inflação no horizonte relevante para a política monetária e seu balanço de riscos apresentem piora”, afirmou.

Ao definir a taxa Selic, o BC está mirando na meta de inflação, que é de 4,5% neste ano e 4,25% em 2019, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Quando o BC reduz os juros básicos, a tendência é diminuir os custos do crédito e incentivar a produção e o consumo. Quando o Comitê de Política Monetária (Copom) aumenta a Selic, o objetivo é conter a demanda aquecida, e isso causa reflexos nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança.

Segundo Goldfajn, há três riscos para a inflação considerados relevantes para o BC. Um deles é a capacidade ociosa da economia brasileira, que pode reduzir a inflação. “Temos a capacidade ociosa que pode nos surpreender e levar a inflação a ficar mais baixa. Mas em compensação, temos dois riscos que estão crescendo. Um deles é o risco de frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas (como a da Previdência) e ajustes na economia brasileira e o outro é o cenário internacional mais incerto, especialmente para economias emergentes”, disse. Esses dois riscos podem elevar a inflação.

“A continuidade das reformas e ajustes na economia brasileira é fundamental para a manutenção da inflação baixa no médio e longo prazos, para a queda da taxa de juros estrutural e a recuperação sustentável da economia”, enfatizou.

O risco para as economias emergentes citado pelo presidente do BC é decorrente da alta dos juros nos Estados Unidos (EUA). Com taxas de juros mais altas nos EUA, investidores com capital aplicado em países emergentes, como o Brasil, podem preferir tirar recurso do País e investir em títulos do Tesouro americano, os treasures, considerados os papéis mais seguros do mundo. Esse é um dos efeitos que fazem com que o dólar se valorize em relação ao real. Neste ano, o Federal Reserve (Fed), o Banco Central norte-americano, subiu os juros três vezes.

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Crédito – Ao apresentar o relatório, Goldfajn destacou que o crédito está crescendo de forma sustentável no Brasil. “Não é um crescimento muito elevado, mas é positivo sustentavelmente”, disse. Ele ressaltou ainda que a inadimplência vem caindo, assim como as taxas de juros e o spread (diferença entre taxa de captação do dinheiro pelo banco e a cobrada dos clientes). “As taxas de juros e de spread continuam caindo desde o pico de 2016”.

Apesar de não considerar que os juros estão no nível ideal, Goldfajn disse que é “importante perceber o que já se avançou”.

De acordo com o Relatório de Inflação, a expectativa do BC para o crescimento do saldo das operações de crédito do sistema financeiro é de 4% neste ano, ante a previsão anterior de 3%. O resultado será puxado pelo crédito às famílias, com perspectiva de expansão de 7,5%.

RTI – A estimativa de inflação para este ano subiu, segundo o relatório divulgado ontem pelo BC. A projeção para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) passou de 4,2% em junho, para os atuais 4,4%. Essa é a estimativa elaborada com base em perspectiva do mercado financeiro para a taxa de juros (6,5% ao ano) e para o dólar (R$ 4,15 no fim de 2018).

A projeção ficou bem próxima do centro da meta de inflação, que é 4,5% este ano. Para 2019, o centro da meta é 4,25%, e para 2020, 4%. Para o ano que vem, a expectativa para o IPCA passou de 4,1% para 4,5%. A estimativa para 2020 passou de 4,1% para 4,2%. E para 2021, a projeção é 4,2%. (ABr)

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