SOS Mata Atlântica aponta chegada de rejeitos da Vale ao rio São Francisco

23 de março de 2019 às 0h09

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Crédito: Divulgação

Um relatório divulgado na sexta-feira (22), pela Fundação SOS Mata Atlântica, apontou a contaminação do rio São Francisco pelos rejeitos da barragem Córrego do Feijão, da Vale, que se rompeu em 25 de janeiro, na cidade de Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).

A informação gerou controversa, uma vez que o Instituto Mineiro das Águas (Igam) não confirma o fato e garante que os rejeitos se concentram no rio Paraopeba. O impasse gera preocupação, tendo em vista que a contaminação do rio traz perdas não apenas para o meio ambiente, mas também para a economia dos municípios no entorno da Represa de Três Marias, onde há produção de tilápia.

De acordo com a coordenadora do programa Água da SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro, a fundação realizou uma segunda expedição na região até o Alto São Francisco entre os dias 8 e 14 de março.

Segundo ela, dos 12 pontos analisados pela equipe, nove tinham água em condição ruim e três em condição regular. Na conclusão da fundação, isso quer dizer que o trecho a partir do Reservatório de Retiro Baixo – entre os municípios de Felixlândia e Pompéu – até o Reservatório de Três Marias, no Alto São Francisco, há água imprópria para uso da população.

De acordo com o relatório, a turbidez da água estava acima dos limites legais definidos pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). Além disso, as concentrações de ferro, manganês, cromo e cobre também estavam acima dos limites máximos permitidos na legislação, evidenciando o impacto da pluma de rejeitos sobre o Alto São Francisco.

Segundo Malu Ribeiro, os três pontos onde foram detectadas águas em situação regular é justamente onde estão fazendas com produção de tilápia.

“Quando falamos em condição regular quer dizer que há um limite muito frágil para a condição ruim. Se cair uma chuva forte na região, por exemplo, haverá aumento na vazão de carreamento de rejeitos, o que contaminará ainda mais a água”, diz.

Apesar do alerta, a coordenadora afirma que não é motivo de alarme para a população em relação ao consumo de peixe vindo dessa região.

“A condição da água ainda é regular. Para uma pessoa ter problema com algum metal depositado nos peixes dessa região, ela teria que comer toneladas deles”, afirma.

Mesmo assim, Malu Ribeiro afirma ter colhido relatos de pescadores de clubes de pesca da região sobre a mortandade de peixes no reservatório.

Dos 12 pontos analisados pela equipe da Fundação, nove tinham água em condição ruim e três em condição regular – Créditos: Adriano Machado/ REUTERS

Revolta – Já o presidente da Cooperativa dos Piscicultores do Alto e Médio São Francisco (Coopeixe), Leopoldo Álvares de Moura, contesta veementemente essa informação. Segundo ele não houve morte de peixes na represa.

“A informação que todos os órgãos fiscalizadores nos passaram é que o rejeito nem passou do rio Paraopeba. Não há morte de peixes e não há queda nas vendas. Haverá se essas informações sobre contaminação do rio continuarem”, protesta.

Por meio de nota, o Igam afirmou que há três pontos de monitoramento na represa de Três Marias. O órgão informou que relatórios realizados em colaboração com a Agência Nacional das Águas (ANA), a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) e a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) não apontam alterações na qualidade das águas da represa de Três Marias.

“Os dados de monitoramento permitem identificar que a pluma de rejeitos oriunda da Barragem 1, da Vale, está a cerca de 310 km de distância do local do desastre, entre os municípios de Pompéu e Curvelo, no remanso do reservatório da UHE Retiro Baixo”, afirma a nota.

Divergência – Uma diferença na metodologia de análise da água pode ser o motivo que leva às divergências de informações apresentadas pela SOS Mata Atlântica e pelo Igam.

De acordo com Malu Ribeiro, a metodologia utilizada pela SOS Mata Atlântica é a de Coluna D’água, que analisa a profundidade do rio e não a superfície. Essa análise chega a até dois metros de profundidade.

“A lama da barragem de Brumadinho é muito mais densa do que a encontramos no rio Doce, no rompimento da barragem em Mariana. Por ser densa, ela decanta e vai para o fundo, criando uma falsa ideia de que a água está limpa porque há certa transparência na superfície. Mas, quando se analisa com equipamentos apropriados percebe-se que há turbidez e que o índice de metal está muito elevado, justamente onde o rejeito foi decantado”, afirma.

Já a diretora-geral do Igam, Marília Melo, explica que a metodologia escolhida pelo órgão analisa a superficialidade da água. Essa análise chega a 20 centímetros de profundidade. De acordo com ela, essa metodologia considera que a água deve ser analisada separadamente do sedimento. Portanto, se a análise é feita em uma profundidade maior, há mistura de água e sedimento, de forma a interferir nos resultados da análise.

“Nossa metodologia segue padrões internacionais e é certificada pelo Inmetro. É importante que se entenda que o sedimento existente na profundidade carrega todo o histórico do rio, que já sofria processos anteriores de poluição. Quando se analisa água misturada com sedimento é claro que o nível de turbidez e de metais será maior. Mas nós entendemos que ou você faz análise da água ou faz análise do sedimento ou de ambos separadamente”, afirma.

De acordo com ela, tanto nas análises da água como nas de sedimento realizadas pelo Igam, não foram encontrados níveis de turbidez ou de presença de metais acima do permitido pela legislação.

“Só para se ter ideia, no ponto de monitoramento de Três Marias encontramos 12,4 unidades de turbidez, sendo que o limite é de 100. Nem mesmo no ponto de monitoramento anterior à represa, entre Retiro Baixo e Três Marias, encontramos níveis críticos. O último dado publicado no dia 20 de março apontou 45 unidades de turbidez nessa área”, frisou.

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