Racionamento de água ainda é descartado em Minas

9 de junho de 2021 às 0h30

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O novo sistema de captação de água do rio Paraopeba, implantado pela Vale, está pronto para iniciar a operação | Crédito: Divulgação/Vale

O baixo volume nos reservatórios das usinas das regiões Sul e Sudeste do País, causado por uma estiagem recorde, pode travar o crescimento da economia no País em médio prazo. Como 70% da matriz energética do Brasil é baseada em hidrelétricas, estão previstos aumentos sucessivos nas tarifas, pressionando ainda mais a inflação no segundo semestre.

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) já anunciou o primeiro desses reajustes (28/5), adotando a bandeira vermelha 2 como referência nas contas de junho – a cada 100 quilowatts-hora consumidos é acrescido o valor de R$ 6,24 na conta de energia elétrica. Mesmo assim, o governo não descarta o racionamento de energia.

Embora Minas Gerais tenha apresentado um volume normal para o período em seus reservatórios, descartando o racionamento de água, a estiagem é tratada com cautela. A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) informa que o governo está atento à situação de escassez hídrica e elabora um plano de enfrentamento à crise, com participação de todos os órgãos competentes, incluindo a Idene e o Igam, além da Copasa, Cemig e Defesa Civil/MG. Nos próximos dias, serão apresentadas ações para amenizar os efeitos da crise hídrica e seus eventuais impactos à população mineira.

Mesmo assim, a Copasa esclarece que, no momento, não há risco de racionamento, pois os reservatórios de água nas regiões onde opera estão em situação adequada para o período. Na Região Metropolitana de Belo Horizonte encontram-se com média de 93% do volume total armazenado. Com o atual volume de reservas e o uso consciente da água pela população, a Copasa acredita que, em relação ao abastecimento de água tratada, Minas Gerais vai conseguir enfrentar o período de estiagem de forma diferenciada de outros estados do País.   

Caso haja uma alteração muito grande com relação à elevação da temperatura e do consumo, a empresa esclarece que serão utilizados todos os recursos técnicos e operacionais para garantir o abastecimento da população. A Copasa realiza o monitoramento diário dos reservatórios nos sistemas Paraopeba, Rio Manso, Serra Azul e Vargem das Flores e garante que está preparada para atender populações em cidades com problemas hídricos.  

Sistema no Paraopeba começa a operar

O novo sistema de captação de águas da Copasa no rio Paraopeba, comprometido pelo rompimento da barragem da Mina do Feijão, em Brumadinho (2019), está pronto para iniciar seu funcionamento.  A nova estrutura de captação, custeada e realizada pela Vale a 12 quilômetros a montante, em área não impactada do rio, terá a mesma vazão de 5 mil litros por segundo.  

“A fase de comissionamento começou em março e nas próximas semanas será dado início ao bombeamento com vazão inicial de 1.000 l/s, sendo aumentado gradualmente até atingir a vazão de 5.000 l/s. O funcionamento do novo sistema à plena capacidade restabelecerá a mesma vazão (5.000 l/s) da captação atualmente suspensa no rio Paraopeba”, informa a Vale.

Acrescenta que implementou também um conjunto de ações emergenciais para contribuir com o abastecimento de água pela Copasa e fortalecer o sistema hídrico que atende a Região Metropolitana de Belo Horizonte, como a reativação de grandes poços no Vetor Norte e a interligação dos sistemas Velhas e Paraopeba.

Fenômeno climático afeta regime de chuvas

Responsável pela estiagem de 2021, La Niña é um fenômeno climático cíclico e ocorre quando os ventos de superfície em todo o Pacífico Equatorial ficam mais fortes que o normal, causando o resfriamento da parte Sul do oceano. Isso modifica os padrões de circulação atmosférica e o clima em várias regiões do mundo. No Brasil, aumenta a intensidade de chuvas na Amazônia e ocasiona cheias de rios na região Norte, chuvas acima da média no Nordeste, tendência de estiagem no Centro-Oeste e estiagem na região Sul, principalmente no inverno.

No Sudeste não há um padrão definido, mas São Paulo registrou, em 90 anos, o menor volume de chuvas em seus reservatórios, agravada pelos danos ao meio ambiente. Em março, o acumulado foi de 139 milímetros de água, 35% abaixo da média histórica. Especialistas estão preocupados não só pela geração de energia, mas pelos impactos na agricultura e na disponibilidade de água para as grandes cidades paulistas. O Paraná decretou emergência hídrica na Região Metropolitana de Curitiba (RMC) e no Sudoeste do estado, com a menor média histórica de chuva nos últimos 20 anos.

Em decorrência do período de secas em São Paulo e no Sul do País, foi emitido um alerta de emergência hídrica pelo Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), para os estados de Minas, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná, no período de junho a setembro. É a primeira vez que a medida é tomada em 111 anos de serviços meteorológicos no Brasil.

Preço da energia dispara no mercado livre

São Paulo – O atual momento de crise hídrica no Brasil tem impulsionado as cotações no mercado livre de energia elétrica, que chegam a apresentar salto de 40% no acumulado deste ano, pressionando custos de grandes consumidores como indústrias que negociam diretamente com empresas do setor.

Em meio a uma seca história na região das hidrelétricas, principal fonte de geração do país, os contratos de energia para o segundo semestre e para 2022 dispararam, e há expectativa também de salto nos preços spot, utilizados nas operações de curto prazo, que devem tocar o teto regulatório nos próximos meses, disseram executivos do mercado elétrico à Reuters.

Esse cenário tem potencial de resultar em forte aumento de custos para grandes companhias e indústrias que não fecharam antecipadamente contratos para atender toda sua demanda por energia, acrescentaram os especialistas.

No balcão eletrônico de venda de energia BBCE, negócios para suprimento por todo ano de 2022 são fechados hoje a uma média de R$ 350 por megawatt-hora (MWh), bem acima dos R$ 250 do início do ano, disse à Reuters um dos membros do conselheiro da empresa, Victor Kodja.

“O mercado está estressado, estressado para cima, evidentemente, e com viés de alta ainda forte. Essa é a impressão que tenho”, afirmou ele.

“Se você for ver o preço médio do ano passado ficou entre 180 reais e 200 reais. Então está bem distorcido”, acrescentou Kodja, que vê espaço para queda das cotações apenas mais à frente, caso haja melhora no cenário de chuvas.

No mercado spot, de curto prazo, no qual a energia é valorada pelo chamado Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), calculado pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), também há expectativa de disparada nas cotações nas próximas semanas ou meses.

A comercializadora de eletricidade Tempo Energia avalia que os preços spot médios podem tocar o teto regulatório de 583,88 reais por MWh já em julho ou no máximo em agosto, contra média diária de R$ 279,74 ontem.

“Nós temos uma projeção altista para os preços. Em julho poderia já bater o teto, possivelmente se mantendo até outubro esses valores”, disse o sócio da empresa, Henrique Nagayoshi. (Reuters)

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