Até quando?

12 de fevereiro de 2019 às 0h01

Cesar Vanucci*

“Em Barão de Cocais, mais centenas de pessoas são retiradas às pressas de casa.” (Do noticiário)
 
Uai! Assim mesmo? Quer dizer, então, pelo que está posto, que o pânico coletivo tende a perpetuar-se? Quer dizer, então, mesmo, que o pesadelo não tem desfecho à vista? Indagações desse atordoante teor avolumam-se. Irrompem de corações despedaçados pela dor e também da paciência já exaurida das ruas.

As manchetes nossas de cada dia não cessam de trazer revelações impactantes. Expõem as incompreensíveis fragilidades oferecidas pelos sistemas de segurança montados, por aí afora, nas barreiras de contenção de rejeitos minerais situadas no entorno de povoados e até de cidades. A predação criminosa, observada em tantos recantos do mapa, na exploração dos mananciais da infindável riqueza mineral agasalhada nas entranhas das Minas Gerais mostra-se – visto está – suficientemente “capacitada” a estender a mais outros sítios seus devastadores tentáculos.

Eis aqui uma pergunta entalada na garganta das pessoas, clamando por resposta urgente. Até quando? Até quando atos terroristas desse gênero assumidos por alguns complexos de extração minerária operados irresponsavelmente em moldes vandálicos, em solene menosprezo às exigências tecnicamente recomendadas no sentido da salvaguarda de vidas e do meio ambiente, continuarão desafiando impunemente o sagrado interesse da coletividade? Até quando as multidões afetadas pelos malfeitos detectados ficarão condenadas a viver em estado de permanente sobressalto? É extremamente cruel o fardo imposto a cidadãos que se veem, de súbito, constrangidos a alterar dramaticamente a rotina de vida pela circunstância de possuírem suas casas, seus negócios, seus ambientes de convivência localizados nas proximidades de barragens suspensas, reconhecidamente inseguras. Numa situação com tais características não há quem não se sinta apoderado de atormentada expectativa. Nalgum instante qualquer, quebrando sonos intranquilos ou vigílias nervosas, trombetas fatídicas poderão anunciar que um novo dilúvio de lama vem descendo por aí. Oportuno, a propósito, anotar que nas dilacerantes preocupações das pessoas é colocada em conta também a possibilidade, não descartável em virtude de brutal ocorrência já transcorrida, de a trombeta (melhor dizendo, a sirene) deixar de emitir a tempo o alerta para a evacuação às pressas.

De tudo quanto se ouve, se sabe, se lê dos pavorosos acontecimentos de agora e de acontecimentos semelhantes anteriores, sobra a inapelável certeza de que a exploração mineral no Brasil, sobretudo em Minas, vem sendo inocultavelmente caracterizada em certos trechos – vale repetir, para que fique bem gravado na consciência popular – por ações de caráter predatório, em desconsideração aos direitos humanos e flagrante menosprezo às normas ambientais. Tudo isso, proclame-se com veemência outra vez mais, se processa em nome da ganância sem freios. Ao arrepio dos marcos civilizatórios que apontam para todo e qualquer tipo de atividade econômica verdadeiramente comprometida com a causa do desenvolvimento e da prosperidade coletiva, o apego aos valores éticos e à sensibilidade social aguçada no relacionamento com as comunidades em que se veja inserida.

A opinião pública brasileira, consciente das prerrogativas asseguradas pelo exercício da cidadania no regime democrático que nos vige, fica no direito de aguardar dos poderes reguladores governamentais, das autoridades competentes, nos diferentes escalões decisórios, das lideranças comunitárias, das empresas do setor mineral que saibam promover, com bom senso, transparência e suprema urgência, compondo uma conjugação de vontades poderosa, um pacto propositivo em torno das soluções que a conjuntura reclama. Indenizações e ressarcimentos rápidos. Restaurações arquitetônicas e de paisagens ágeis. Esquemas de fiscalização rígidos.

Apuração rigorosa de responsabilidades. Tudo isso demanda diligências sem maiores delongas, com dispensa de blá, blá, blá retórico. Configura-se igualmente com clareza solar de verão o fato de que a sociedade está a exigir definições prementes, tanto no plano das providências de ordem tecnológica, quanto nas medidas de caráter administrativo, que poupem vidas inocentes e que devolvam, o quanto antes, a paz, a tranquilidade, o sossego público às comunidades alvejadas pelo desvario que deu origem às tragédias que enlutaram o país.

A Nação almeja que a resposta a ser dada ao seu “Até quando?” seja um sonoro e vibrante “É pra já!”
 
*  Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

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