Justiça

24 de março de 2023 às 0h29

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Janice Salomão de Andrade*

A injustiça num lugar qualquer é uma ameaça à justiça em todo o lugar. (Martin Luther King)

Muitas vezes precisamos vendar os olhos para vermos de maneira clara e verdadeira.

Fazer essa experiência, ver com os olhos da alma, do profundo sentimento humano e amoroso que brota em nosso ser, devolve a cada um de nós a certeza de que tudo o que existe é bom e que há uma intencionalidade para sua existência.

Há em nós princípios e valores que são ancestrais e quando esses são violados, aí sim, vale a pena vermos com o olhar de dentro e não de fora. E, por causa dessa experiência, entendo porque a imagem que representa a Justiça é uma mulher e está de olhos vendados

Ao percebermos esse feminino que habita nos seres humanos e ao interpretarmos a realidade com o olhar interior, com certeza não nos deixaremos tocar pelos preconceitos e faremos ressurgir a profunda maternagem que em nós habita para só então julgarmos com olhos amorosos mais que legais a violação dos princípios e valores ancestrais.

Vou lhe contar uma história

Desde muito pequena na minha cidadezinha natal, no interior de Minas Gerais, escutava, frequentemente, meu pai e minha mãe dizerem a seus filhos (e eram muitos) que eles deveriam crescer como pessoas virtuosas. Serem bons, honestos, trabalhadores e, no nosso caso, crianças, estudiosos.

Para mim, essas eram as únicas virtudes Bondade, Honestidade e Trabalho.

Não muito tarde descobri que para viver fora daquele mundo tão protegido eu precisaria conhecer outras virtudes, muitas outras, que aos poucos foram se descortinando na mesma proporção de meu crescimento pessoal e da leitura de mundo que fazia.

Dentre todas as virtudes, uma foi se tornando fortemente presente e a ela dediquei muitos estudos, propósito de vida e até retorno à espiritualidade materializada em uma religião. Esta virtude foi a Liberdade.

Mas, como bem dizia meu mestre Gustavo Gutierrez, “há sonhos que precisam ser desensonhados” e logo aprendi que para desensonhar o grande sonho de liberdade era preciso exercitar a grande virtude que faz homens e mulheres se mobilizarem em favor de um outro mundo possível: a Justiça.

Essa virtude agiu em mim, a princípio, movida por uma necessidade de ser solidária e descobri que o verdadeiro nome da solidariedade é Justiça. Foi buscando essa virtude que minha história deu a maior e mais significativa reviravolta e de repente se iluminou por inteiro.

Esta era a virtude que buscava no vazio que muitas vezes não conseguia preencher, nos momentos de tristeza, nos momentos de inconformismo social e de extrema solidão pessoal.

Não me faltaram amor, coragem, liberdade, trabalho, honestidade e outras virtudes, mas faltava sim empreender a grande causa que fecharia o ciclo de uma vida em busca de seu verdadeiro propósito, que era entender o mundo na ótica da Justiça.

Um mundo onde devem caber todos, ao mesmo tempo, com os mesmos direitos. Um mundo onde os sonhos desensonhados carregam o olhar amoroso da humanidade, contaminando-a por inteiro com o olhar que venda os olhos viciados do mundo e abre os olhos compassivos da alma.

Dar a todos o que lhes pertence por direito

*Mulher, mãe, avó, e esposa. Uma mulher de 72 anos que o tempo não apagou a coragem de se indignar e buscar relações mais fraternas e justas. Educadora, consultora de Felicidade Organizacional e ativista dos direitos humanos de crianças e adolescentes.

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