Militares e aliados tentam separar bicentenário de atos de campanha de Bolsonaro no 7 de Setembro

6 de setembro de 2022 às 14h04

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Crédito: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Brasília, DF – As comemorações do 7 de Setembro em Brasília e no Rio de Janeiro terão ao menos três estruturas montadas para possíveis discursos do presidente Jair Bolsonaro (PL).


Os eventos do Bicentenário da Independência ocorrem em meio aos ataques de Bolsonaro contra o Judiciário, em especial contra o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).


Generais e aliados do presidente afirmaram à Folha que a criação de espaços variados para declarações de Bolsonaro tem o objetivo de tentar separar a comemoração oficial de momentos de campanha política.


Militares dizem ter receio de que o presidente use os eventos oficiais para fazer novos ataques contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e atrapalhe a construção de um armistício entre o TSE e as Forças Armadas.


Em Brasília, movimentos ligados ao agronegócio vão levar um carro de som para a Esplanada dos Ministérios. No Rio, o presidente terá duas oportunidades para discursar: uma durante o evento militar e outra, após o término, em palanque montado por líderes evangélicos na orla de Copacabana.


Na capital federal, o desfile cívico-militar deve começar por volta de 8h30, na Esplanada dos Ministérios. Serão mais de 5.700 pessoas desfilando a pé, em viaturas ou a cavalo.


Durante o evento, não há previsão de manifestação de Bolsonaro. O Palácio do Planalto, no entanto, articulou com movimentos do agronegócio para levar um carro de som à Esplanada dos Ministérios, para o presidente fazer uma rápida declaração a apoiadores após o desfile.


O carro de som ficará estacionado perto do Ministério da Saúde, do lado oposto ao evento cívico-militar no Eixo Monumental. O veículo só deve se deslocar para o ato político, que deve ocorrer em frente ao Congresso Nacional, depois do fim do desfile oficial, por volta de 11h30.


Além do carro de som, o Movimento Brasil Verde e Amarelo deve levar 28 tratores para participar do desfile de 7 de Setembro, numa tentativa de demonstrar apoio do agronegócio a Bolsonaro.


No Rio, as Forças Armadas preparam uma programação de oito horas para comemorar o Bicentenário da Independência. Os atos devem se encerrar com a presença de Bolsonaro em uma estrutura montada pelo Comando Militar do Leste, com a participação de ministros, comandantes das Forças e aliados.


A programação prevê ainda 29 salvas de canhão no Forte de Copacabana, além da parada com navios militares e da Esquadrilha da Fumaça, salto de paraquedistas e apresentação de banda militar.


O evento foi montado próximo ao Forte de Copacabana, a cerca de três quilômetros de distância do Copacabana Palace, onde os apoiadores do presidente costumam realizar manifestações favoráveis ao governo.


Após o término do evento, Bolsonaro vai participar de atos políticos com apoiadores ao longo da orla de Copacabana. Um carro de som contratado por lideranças evangélicas estará a postos para o presidente discursar.


O receio de aliados do presidente e militares é que o presidente aproveite os palanques para fazer novos ataques contra o STF e o TSE e, como resultado, enterre o armistício construído entre as Forças Armadas e Alexandre de Moraes.


Na quarta (31), Moraes sinalizou ao ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, que acatará uma sugestão das Forças Armadas para alterar o modelo do teste de integridade. A mudança consiste em permitir que eleitores reais utilizem a biometria para desbloquear as urnas para a verificação.


Apesar da sinalização, o presidente do TSE ainda não detalhou como será feito o novo teste nem especificou quantas urnas serão utilizadas.


Bolsonaro foi aconselhado por ministros a evitar novas críticas ao Judiciário, mas a nova postura não durou muito tempo. No sábado (3), em Novo Hamburgo (RS), o presidente repetiu ataques contra o presidente do TSE e, sem citar Moraes, referiu-se a ele como “vagabundo”.


“Eu posso pegar meia dúzia aqui, bater um papo e falar o que bem entender. Não é porque tem um vagabundo ouvindo atrás da árvore a nossa conversa que vai querer roubar nossa liberdade. Agora, mais vagabundo do que esse que está ouvindo a conversa é quem dá a canetada após ouvir o que ouviu esse vagabundo”, disse Bolsonaro, em referência à operação da PF (Polícia Federal) contra empresários bolsonaristas que defendiam um golpe à democracia em grupo de WhatsApp.


Há ainda temor da reação de Bolsonaro à decisão de Edson Fachin de suspender trechos de decretos de armas às vésperas do 7 de Setembro.


Militares ouvidos pela Folha consideram a medida descabida, sem qualquer efeito prática para conter a violência eleitoral citada por Fachin. Ao contrário, generais acreditam que a decisão pode acirrar ainda mais os ânimos.


Apesar da insatisfação, generais de Comandos Militares Regionais têm tentado separar os atos institucionais do Bicentenário da Independência da manifestação política de apoio à reeleição de Bolsonaro.


Comandantes de quartéis têm aconselhado militares que participarão dos eventos de 7 de Setembro a não permanecerem para os atos políticos. Em alguns quartéis, foi lido trecho do Regulamento Disciplinar do Exército que proíbe que militares da ativa se manifestem “a respeito de assuntos de natureza político-partidária.”


Desde o início do governo, Bolsonaro lidera um esforço de politização de instituições militares. Ele já usou expressões como “meu Exército” e “minhas Forças Armadas”. Num dos episódios mais simbólicos dessa estratégia, Bolsonaro pressionou no ano passado o Exército a livrar o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, de qualquer punição por ter participado de um ato político do presidente.


Ele foi bem-sucedido e não houve aplicação de sanção contra Pazuello.


A mudança na programação do 7 de Setembro no Rio de Janeiro foi feita por ordem de Bolsonaro. O presidente avisou o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, sobre as mudanças no fim de julho.
A ideia inicial de Bolsonaro era transferir o desfile cívico-militar da avenida Presidente Vargas, onde tradicionalmente ocorre, para a avenida Atlântica, na orla de Copacabana. Argumentando questões logísticas e de segurança, generais do Alto Comando do Exército apresentaram resistência e conseguiram demover o presidente da ideia.


Bolsonaro então pediu para a Marinha e a Força Aérea Brasileira (FAB) participarem do ato próximo à orla carioca. As Forças costumam realizar eventos no 7 de Setembro, mas tiveram de mudar planejamentos em agosto para atender às exigências do presidente.


Os eventos de comemoração do Bicentenário da Independência têm sido organizados pela Presidência da República e por uma comissão interministerial, que reúne Itamaraty, Ministério do Turismo, Ministério da Defesa, Ministério da Educação, Secretaria Especial de Cultura e Secretaria de Comunicação.


Além dos desfiles em Brasília e no Rio de Janeiro, o governo prepara eventos oficiais em todas as cidades do país que possuem organizações militares da Marinha.

(Cézar Feitoza/Folhapress)

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