Panorama do emprego no Brasil: o que os números nos mostram?

3 de agosto de 2023 às 0h16

Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgados na última semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostraram que a taxa de desemprego no trimestre encerrado em junho de 2023 ficou em 8%. O resultado indicou recuos de 0,8 ponto percentual (p.p.) em relação ao trimestre encerrado em março (8,8%) e de 1,3 p.p., ante o mesmo período do ano anterior (9,3%). Por outro lado, números do Ministério do Trabalho e Emprego revelam que o número de pedidos de seguro-desemprego no Brasil chegou a 3,7 milhões no primeiro semestre, o maior contingente desde o início da pandemia (2020), ano em que ocorreram 3,9 milhões de solicitações. Considerando que este foi um ano atípico, o saldo é o maior desde 2016. O que explica esse contraste? A resposta está nos próprios dados.

Diferentemente do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que acompanha registros do emprego formal, isto é, com carteira de trabalho assinada, a Pnad, do IBGE, acompanha declarações acerca do emprego formal e informal, abarcando um maior contingente de pessoas em relação às suas respectivas posições no mercado de trabalho. Em sua última divulgação, os números da Pnad mostraram que a população desempregada no País somou 8,65 milhões de pessoas no trimestre de abril a junho de 2023. Apesar de elevado, o número é 8,3% menor que o observado no trimestre imediatamente anterior, e está 14,2% abaixo daquele observado no mesmo período do ano anterior. Em outras palavras, o desemprego, hoje, é menor em cerca de 1,4 milhão de pessoas do que há um ano, e revela uma melhoria no mercado de trabalho, decorrente do ritmo favorável da atividade econômica nos últimos 12 meses.

Contudo, a pesquisa do IBGE não para por aí. Ela nos entrega números importantes, que detalham a realidade do mercado de trabalho brasileiro. Em uma análise ampla, o nível de ocupação, isto é, a parcela da população em idade ativa (PIA) que estava ocupada com algum ofício, aumentou 0,5 p.p. frente ao trimestre anterior. Hoje, 56,65% da população em idade ativa está efetivamente trabalhando. A pesquisa mostra também que o contingente de empregados no setor privado, sem carteira de trabalho assinada, subiu 2,4% na comparação trimestral, chegando a 13,1 milhões de pessoas. Adicionalmente, o número de trabalhadores por conta própria ficou estável na comparação com o trimestre anterior e teve redução de 491 mil pessoas no ano. Atualmente, 25,22 milhões atuam por conta própria no País, patamar superior ao período pré-pandemia.

Na chamada formalidade, o número de empregados com carteira de trabalho assinada, exclusive trabalhadores domésticos, ficou estável frente ao trimestre anterior e cresceu 2,8% na comparação anual.

Cerca de 36,77 milhões de pessoas atuam no mercado com carteira assinada, patamar superior ao período pré-pandemia, mas abaixo do pico de 2014. Proporcionalmente, porém, o emprego formal representa cada vez menos, frente ao emprego total. Há 8 anos, do total de empregos no País, 41% eram com carteira de trabalho assinada. Hoje, esse percentual caiu para 37%, indicando que mais pessoas entraram na informalidade ou buscaram empreender. Dessa forma, o emprego sem carteira assinada se destaca como responsável pelo crescimento da ocupação no País.

Fato é que, apesar da resiliência, o mercado de trabalho formal no Brasil está enfrentando uma diminuição na criação de empregos, como corroboram os dados do Caged. Nos seis primeiros meses de 2023, apenas 1,02 milhão de vagas formais foram criadas, representando um declínio de 26,3% em relação ao mesmo período do ano anterior. Embora o PIB tenha apresentado resultados positivos no primeiro trimestre, a expectativa é que o setor agrícola não consiga repetir o desempenho excepcional da supersafra do início do ano, e os demais setores também não tenham o ímpeto para sustentar um crescimento robusto. Em consequência, prevê-se uma desaceleração ainda maior nas contratações com carteira assinada e a retomada do protagonismo da informalidade.

Portanto, se por um lado a dinâmica do emprego se mostra favorável no País, com mais pessoas exercendo um ofício, independente da modalidade, números referentes ao seguro-desemprego revelam que a forma na qual as empresas enxergam a economia hoje não se revela tão positiva. Resta saber se a redução dos juros, associada à retomada da agenda de reformas, mudará essa perspectiva.

* Especialista em Educação Financeira no Grupo Suno. Sócio-fundador da Certifiquei, possui experiência como economista, atuando na gestão e elaboração de pesquisas e análises socioeconômicas. Mestre em Estatística pela UFMG.

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