Tempos confusos

24 de agosto de 2019 às 0h01

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Crédito: NASA

Cesar Vanucci *

“A confusão era geral!” (Machado de Assis, “Dom Casmurro”)

Tempos danados de confusos. Machado de Assis complementaria: A confusão é geral! Zelosos encarregados das políticas de revisionismo da história, nesta nova era que se autoproclama redentora, não esmorecem no diuturno e fatigante afã de fornecer à ignara patuleia suas “versões corretas” dos fatos.

A Terra é, irretorquivelmente, plana. Equivocam-se “redondamente” os homens de ciência que insistem em sustentar ponto de vista diferenciado. Há sérias controvérsias, por outro lado, quanto às afirmações de que o ser humano teria, algum tempo atrás, deixado impressas suas pegadas no solo lunar. Albert Einstein e outros personagens, guindados no conceito popular a elevados patamares nos domínios da sabedoria filosófica e científica, não merecem ser sempre levados a sério. Costumam proclamar teorias discutíveis, muitas delas – como atestam inesperadamente modernos filósofos – clamando por urgentes correções. O aquecimento global, por exemplo, é falácia pura. Foi engendrada por ideólogos subversivos, inimigos ostensivos da sadia moral e dos bons costumes.

Correntes fundamentalistas de pensamento “mais evoluído” cuidam, com abnegação e afinco, da reinterpretação das leis da vida. Uma maneira altamente eficaz de combater a poluição ambiental é promover campanhas educativas com o salutar objetivo de reduzir pra valer o volume exagerado das descargas diárias nos vasos sanitários domésticos e públicos. Volume esse, como sabido, provocado por descomedida e indisciplinada frequência, por parte de todos, aos ditos-cujos aparelhos. Quanto às queimadas florestais, elas são de proporção liliputiana. E, consoante sérias suspeitas, levantadas por gente realmente entendida dessas coisas, podem estar sendo articuladas por grupos ambientalistas de araque. Pessoal interessado em bagunçar o coreto e desfazer a excelente imagem que, sobretudo na atualidade, se tem do Brasil no exterior. De conseguinte, colocam-se ao desamparo das razões convincentes as injustas decisões concernentes a corte de verbas internacionais destinadas à proteção ambiental, recentemente anunciadas.

Está claro que se trata de retaliações antidemocráticas praticadas por perigosos extremistas que compõem o ultraconservador governo da Alemanha, e, também, o governo da Noruega, país que, aliás, no novo Atlas, fica situado na Dinamarca.

O novo nome da fome, seja por todos anotado, é “fake news”. A expressão “fakes” ajusta-se, igualmente, na avaliação de doutos viventes, aos desnorteantes diálogos travados por impolutos membros da Justiça acertando procedimentos condenatórios prévios em processos ainda à espera da coleta definitiva de provas pra fins de julgamento. As “fakes” vêm sendo, ainda, empregadas – ora, veja, pois! – na divulgação dos alarmantes e crescentes índices de desemprego. O que pretendem alguns, maldosamente, com essa “divulgação distorcida” é diminuir os efeitos positivos da promissora, nunca vista dantes, arrancada desenvolvimentista destes nossos tempos recentes. Já a liberação de polpudas verbas a parlamentares e a distribuição generosa de cargos, à hora das votações cruciais no Congresso, nada têm a ver, obviamente, com aquele descarado “toma cá, dá lá” doutros tempos. Configuram, sim, louvável combinação de respeitáveis interesses cívicos e republicanos com vistas ao bem-estar geral. De outra parte, a designação de parentes próximos para cargos públicos relevantes não pode ser caracterizada, jeito maneira, como ato de nepotismo. Isso acabou de vez. Nepotismo era aquela manobra ignóbil que os adversários políticos – e tão somente eles – tinham por hábito praticar, deplorável e impunemente, quando encastelados no poder.

Por derradeiro, delineiam-se alvissareiras as expectativas de que até o final da metade do século, por aí, possa ser devidamente deslindado o penumbroso mistério que envolve o atentado cometido contra a vereadora Marielle Franco e seu assessor Anderson Pedro Gomes. É perfeitamente explicável o silêncio de tumba etrusca, baixado sobre o rigoroso inquérito aberto para apurações a partir do momento em que surgiram evidências de participação na trama criminosa de ilustres componentes da operosa falange de milicianos cariocas. Falange, todo mundo tá careca de saber, responsável por bem-sucedidos empreendimentos comunitários em áreas densamente povoadas na região metropolitana da assim chamada “Cidade Maravilhosa”. O sepulcral mutismo detectado, não cabem duvidas, decorre da elogiável preocupação das autoridades competentes possam ser prejudicados, em detrimento da justiça, os diligentes trabalhos investigatórios em curso.
Tempos danados de confusos!

Vez do leitor. O escritor e acadêmico Klinger Sobreira de Almeida, coronel da PMMG, comenta a série de artigos que publiquei sobre “Sapiens”, de Yuval Noah Harari. “Às vezes, ou sempre, as aparências nos enganam. Lendo seus comentários, na série de artigos, sobre a obra “Sapiens – Uma breve história da humanidade”, de Yuval Noah Harari, fiquei numa “calça justa”. Em 28 de janeiro passado, escrevi uma crônica, lastreado em editorial e artigo publicado na Veja, rebatendo um posicionamento de Yuval a respeito da natureza do livre-arbítrio, e concluí: “A meu ver, a erudição de Yuval navega por águas turvas. Vai encalhar.” Fui precipitado?! Lendo suas crônicas, embora panorâmicas sobre a obra do autor, vi que você fez um aprofundamento interpretativo. Vou ler “Sapiens…” E, mantendo meu enfoque sobre o livre-arbítrio, estou propenso a corrigir minha conclusão”.

* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

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