Barbosa Lima Sobrinho

29 de janeiro de 2021 às 0h15

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Barbosa Lima Sobrinho | Crédito: ROBERT LOBATO

 Era 1995. Ainda estudante de jornalismo na PUC Minas, tive a alegria de entrevistar Barbosa Lima Sobrinho para o jornal-laboratório “Marco”, daquela universidade, então dirigido, com brilho, por Maurício Lara e Fernando Lacerda. A conversa foi publicada na edição de setembro e ocupou quase toda a página 4. Senti uma emoção boa, de quem acredita na imprensa e em seu poder de melhorar o mundo. No título, se lia: “Barbosa Lima Sobrinho defende distância do poder”, uma síntese do que ele me disse: “Nós observávamos uma absoluta independência do jornalista, que não devia ter nenhuma dependência do governo nem das pessoas que estavam nas posições do governo”.

 Não foi fácil marcar a sessão de perguntas. Por algumas semanas, liguei para Dona Eurídice, secretária de Barbosa na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), pedindo uma horinha do tempo do presidente. Finalmente, depois da necessária insistência, consegui marcar o tão sonhado encontro. Parti entusiasmado para o Rio de Janeiro. Na hora e no dia combinados, uma manhã de sábado, lá estávamos, eu e a colega Ana Cristina França, que tirou as fotos para a matéria, à porta de uma casa de dois andares e muro alto à rua Assunção, 217, em Botafogo. Construída em 1953, era onde morava o meu entrevistado há exatos quarenta e dois anos. Ao som dos latidos do pastor alemão Dick, o caseiro Raimundo conduziu-nos até a sala, tomada por vasta biblioteca. Numa das estantes, só as obras escritas pelo anfitrião. Em porta-retratos, imagens da família. Numa delas, foi fácil reconhecer um dos filhos, Fernando Barbosa Lima, famoso profissional da televisão.

 Nascido em 1897, no Recife, Barbosa Lima Sobrinho formou-se em direito em 1917. Militando no jornalismo desde 1919, em Pernambuco, tornou-se redator do saudoso “Jornal do Brasil”, no Rio, em 1921. Presidente da ABI aos trinta anos, foi deputado federal em 1935 e em 1946, e governador de seu estado natal entre 1947 e 1951. Membro da Academia Brasileira de Letras, integrou, igualmente, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e o Instituto dos Advogados Brasileiros. Em 1973, foi candidato a vice-presidente na chapa liderada por Ulysses Guimarães, do MDB, denominado ‘anticandidato’, num movimento para denunciar o estado de exceção constitucional vigente durante a ditadura militar. Em 1992, foi o primeiro signatário do pedido de impeachment de Fernando Collor de Melo. Por muito tempo, foi o mais antigo jornalista em atividade no país, já que faleceu aos cento e três anos, em 2000.

 Do agradável e inesquecível diálogo de mais de duas horas que mantive com Barbosa, há um quarto de século, resgato, finalmente, mais uma de suas falas preciosas, agora que nos preparamos para celebrar o Bicentenário da Independência, no ano que vem: “Os países que não lutam pela sua autonomia não têm grande futuro, porque passam a ser grandes colônias. Como é o Brasil ainda hoje. Ele luta para ver se deixa de ser colônia. Em 1822, ficamos independentes em relação a Portugal, mas passamos a ser, daí por diante, colônia da Inglaterra, e hoje somos colônia dos Estados Unidos, enquanto não chega a vez do Japão (…)”

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