A 25ª Mostra de Cinema de Tiradentes, a ser realizada entre 21 e 29 de janeiro de 2022, vai exibir 100 curtas-metragens de 18 estados brasileiros em diferentes sessões que abarcam a pluralidade da produção audiovisual nacional num de seus formatos mais arrojados. Seguindo todos os protocolos sanitários, a mostra retorna com ações no formato presencial, além do ambiente on-line, o que permitirá o encontro direto dos espectadores com esses filmes, sempre tão aguardados por apontarem o que de mais novo tem sido feito na produção do País.
A curadoria de curta-metragem para 2022 teve o trabalho desenvolvido pelo trio Camila Vieira, Tatiana Carvalho Costa e Felipe André Silva. Apesar da pandemia e dos impactos no cenário cultural, foram recebidas 919 inscrições (ante 748 na edição anterior), das quais definiram-se os 100 filmes, distribuídos nas mostras Foco (13), Panorama (26), Jovem (5), Formação (8), Mostrinha (5), Praça (13), Regional (6), Foco Minas (11), Homenagem (3), Valores (1) e Temática (9). Em 2021, foram exibidos 79 curtas, portanto 2022 contará com acréscimo significativo de títulos.
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Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro aparecem com a maior quantidade de trabalhos na seleção, respectivamente 30, 19 e 13. Há também filmes de Acre (2), Amazonas (2), Bahia (6), Ceará (8), Distrito Federal (4), Espírito Santo (1), Mato Grosso (1), Pará (2), Paraíba (1), Pernambuco (5), Piauí (1), Rio Grande do Norte (4), Rio Grande do Sul (4), Santa Catarina (2) e Sergipe (1).
Um levantamento, feito pelo assistente de curadoria Rubens Fabricio Anzolin, revela informações importantes sobre o cenário de curta-metragem que se apresentou à Mostra de Tiradentes. Um total de 179 dos mais de 900 curtas inscritos (ou seja, quase 20%) foram financiados com recursos da Lei Aldir Blanc (LAB), incentivo emergencial que permitiu a centenas de trabalhadores da cultura sobreviverem ou manterem-se em atividade durante o período mais crítico da pandemia de Covid-19.
Para a curadora Camila Vieira, a LAB capilarizou a produção, permitindo quantidade significativa de filmes inscritos vindos não só de capitais, mas de cidades do interior dos estados. “Esse fenômeno nos fez pensar que tipo de cinema é feito fora dos centros e também percebermos, em muitos que chegaram, uma grande inexperiência com cinema, que pode ter a ver com a falta de oportunidades”, comenta.
Para Tatiana Carvalho Costa, também curadora, há muitos curtas pré-pandemia ou feitos depois que não endereçam diretamente as questões da vivência pandêmica e trazem registros e fabulações de possibilidade de vida. “Não são necessariamente narrativas otimistas, mas de uma vida possível, imperfeita, com lampejos de alegria e beleza, com sofrimento, sobretudo uma vida em conjunto, com uma força coletiva (nas histórias e nos métodos de produção) para enfrentar um futuro incerto”, diz Tatiana
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No total de inscrições, predominaram as ficções (42,2%), seguidas pelos documentários (28,1%), experimentais (24,4%) e animações (5,2%). Dentre os selecionados, as proporções acabaram se mantendo: respectivamente 45,8%, 29,2%, 21,9% e 3,1%.
Linguagens – A mistura de linguagens também chamou atenção da curadoria e dialoga com a temática da Mostra de Tiradentes em 2022, “Cinema em Transição”. “O audiovisual foi apropriado por criadores das artes cênicas, da performance, da música, das artes visuais, que foram investigar eles mesmos o próprio cinema”, diz Camila Vieira. O assunto vai render um debate temático, “Poéticas de um cinema em transição”, com a presença de alguns diretores da Mostra Temática.
Nos números de raça, também por autodeclaração, foram inscritos filmes de cineastas brancos (49,4%), negros (27%), indígenas (2,2%), amarelos (0,8%), outras (0,9%) e não-declarados (19,4%). Entre os selecionados, a proporção de etnias foi: 47,5% branca, 30,3% negra; 3% indígena; 2% amarela; 16,2% não-declarada; 1% outra. “Este é o ano com maior quantidade de curtas selecionados realizados por pessoas indígenas (3) e pessoas negras (30) na direção. Isso me parece uma tendência que vem se mostrando desde 2018, quando a mostra começou a coletar esses dados”, pontua a curadora Tatiana Carvalho Costa
Sete longas inéditos estão na programação
Parte da programação da 25ª Mostra de Cinema de Tiradentes, a Mostra Aurora reúne sete filmes de São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco, Ceará e Rio de Janeiro, sendo quatro deles dirigidos por realizadores que já competiram com curtas na Mostra Foco em outras edições do evento
Aa Mostra Aurora celebra 15 anos com mais um recorte inédito do cinema brasileiro contemporâneo de invenção. Os sete longas-metragens dentro desta seção na programação da 25ª Mostra de Cinema de Tiradentes, que acontece entre os dias 21 e 29 de janeiro de 2022, foram selecionados pela dupla de curadoria Francis Vogner dos Reis e Lila Foster.
Os filmes na Mostra Aurora 2022 são: “Seguindo todos os Protocolos” (PE), de Fábio Leal; “A Colônia” (CE), de Virgínia Pinho e Mozart Freire; “Sessão Bruta” (MG), de As Talavistas e ela.ltda; “Panorama” (SP), de Alexandre Wahrhaftig; “Maputo Nakurandza” (RJ-SP), de Ariadine Zampaulo; “Bem-vindos de Novo” (SP), de Marcos Yoshi; e “Grade” (MG), de Lucas Andrade. Todos eles serão avaliados pelo Júri da Crítica e concorrem ao Troféu Barroco e a prêmios de parceiros da mostra.
A curadoria chama atenção para o fato de que quatro dos títulos da Aurora são de realizadores que tiveram curtas-metragens exibidos na competição da Mostra Foco, em anos anteriores do evento.
Os “veteranos” são Marcos Yoshi, de “Bem-vindos de Novo”, que esteve na Foco com “Aos Cuidados Dela” (2020); ela.ltda, que participou com “Drama Queen” (2020) e retorna com “Sessão Bruta”; Mozart Freire exibiu na Foco “Cinemão” (2015) e vem para a Aurora com “A Colônia”; e Alexandre Wahrstein foi vencedor de melhor filme com “E” (2014, codireção de Elena Ungaretti e Miguel Antunes Ramos) e exibe em janeiro o longa “Panorama”.
A curadoria identifica nos sete filmes da Aurora 2022 uma predominância fortíssima do documentário, não necessariamente como o gênero, mas principalmente em formas de aproximar daquilo que filmam, em muitos casos buscando na materialidade do mundo os elementos de suas expressividades.
“Seguindo Todos os Protocolos” coloca o diretor no centro de uma trama de sobrevivência física e amorosa da pandemia, com um gesto que flerta com a autobiografia, sem deixar de também compor um registro do estado das coisas – do flerte, das relações, das paranoias pandêmicas.
“Sessão Bruta” radicaliza ainda mais na performance e é cortado por falas e depoimentos que surgem em meio aos arranjos cênicos, mostrando também o imaginário e a vida de um grupo de artistas. Por sua vez, “Grade” insere a fabulação num documentário observacional sobre uma determinada estrutura prisional alternativa, agregando essa ficção àquilo que a realização encontra pelo caminho. “A Colônia” segue caminho similar, ao se apresentar como um documentário entremeado pela ficção na abordagem do bairro Colônia, em Maracanaú (CE), fundado na década de 1940 como uma zona de confinamento compulsório para portadores de hanseníase.
Se há o escape rumo ao registro mais direto e menos devedor de imaginários externos, isso aparece em “Panorama”, que constrói seu imaginário numa comunidade de São Paulo a partir dos sonhos, memórias e cotidiano de seus moradores. “Bem-vindos de Novo” acompanha a reconstrução afetiva de uma família de descendentes de japoneses afetada pela imigração entre Japão e Brasil.