ROGÉRIO FARIA TAVARES*
Antônio Torres nasceu há 80 anos, em Junco, na Bahia, onde hoje é o município de Sátiro Dias. Aprendeu as primeiras letras com a mãe, em casa. Quando entrou para a escola, teve duas professoras – Serafina e Teresa – que marcaram para sempre a sua vida, sobretudo por meio do incentivo à leitura e à escrita. O escritor não esquece quando travou os contatos iniciais com os poetas e os prosadores brasileiros, com o auxílio das famosas antologias escolares, largamente difundidas pelas salas de aula daquela época.
Castro Alves e José de Alencar foram grandes descobertas. Ler em voz alta era um dos recursos mais empregados para disseminar nos estudantes o gosto pela literatura. “E era uma ótima estratégia. A gente percebia o som e o ritmo das palavras”, recordou-se o ocupante da cadeira de número 23 da Academia Brasileira de Letras durante a entrevista que me concedeu nesta semana. A conversa está disponível no canal exclusivo da Academia Mineira de Letras no YouTube e é um presente para todos os que apreciam a obra do autor de “Um Táxi para Viena d’Áustria”.
De Junco, Torres mudou-se para Alagoinhas, onde estudou por alguns anos, beneficiando-se de um clima cultural efervescente. Também foi lá que começou a redigir matérias para a imprensa, profissão que abraçaria com garra após mudar-se para Salvador e, cerca de um ano depois, para São Paulo. Seu sonho era trabalhar no “Última Hora”, famoso diário fundado por Samuel Wainer, posição conquistada logo que chegou a Sampa. A atuação como publicitário também foi longa e repleta de boas experiências. “Aprendi a ver o mundo pelo jornalismo. A publicidade ensinou-me a contar tudo bem rapidinho”, relembrou.
A estreia na ficção deu-se em 1972, com o lançamento de “Um cão uivando para a lua”, sucesso de público, de crítica e entre os colegas brasileiros, recebendo elogios de Jorge Amado e Marques Rebelo. Em 76, no entanto, “Essa Terra” alçaria a carreira do escritor a outro patamar. Hoje traduzida para vários países (França, Itália, Alemanha, Holanda, Reino Unido, Estados Unidos, Israel…), em mais de 18 idiomas, a obra já ultrapassou a marca das trinta edições e continua seduzindo leitores de todo o planeta com a história de Nelo, o homem que retorna à sua terra natal depois de um período passado na capital paulista. Mais não vou dizer…
Dono de estilo claro, preciso e elegante, Antônio Torres também fez incursões preciosas pelo romance histórico. “Meu querido canibal” expõe a saga de Cunhambebe, líder indígena de importante participação na história do Brasil colonial. “O nobre sequestrador” é sobre René Duguay-Trouin, o corsário do Rei Luís XIV que, em 1711, protagonizou inesquecível episódio ambientado do Rio de Janeiro.
“Minu, o gato azul”, lançado na Coleção “Bichos e outras histórias”, da Editora Rocco, foi, até agora, o único enredo do autor criado especialmente para as crianças. “Meninos, eu conto”, por sua vez, reúne três narrativas curtas voltadas para adolescentes e recebeu o selo de “livro altamente recomendável” da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. Ambos são ótimas dicas para os pais que querem surpreender seus filhos no fim de ano com presentes absolutamente encantadores, como, de resto, é a literatura de Antônio Torres.
*Jornalista. Doutor em literatura. Presidente da Academia Mineira de Letras.