VIVER EM VOZ ALTA | Mais alguns livros de Otto Lara Resende

8 de dezembro de 2022 às 0h30

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Crédito: Acervo IMS

 Na terceira coluna que dedico a Otto Lara Resende, no ano de seu centenário, concluo as referências a seus escritos. Aqui, começo por “A cilada”, de 64, que saiu primeiro numa coletânea de contos intitulada “Os sete pecados capitais”, organizada por Ênio Silveira, da editora “Civilização Brasileira”, sendo a história sobre a avareza. Considerado por Carlos Heitor Cony como o melhor texto de Otto, nele aparece o personagem Tibúrcio, que entrou rapidamente para a galeria dos tipos mais marcantes da literatura brasileira. Como explica Cristóvão Tezza: “Dessa nítida moldura narrativa vai emergindo a figura grotesca de Tibúrcio, inteiramente composto pelo implacável olhar do povo – e aqui a frase feita, o lugar-comum, o dito popular ou o simples preconceito imemorial vão costurando a imagem do mundo e dos seres, como a única possível; todas as metáforas, breves imagens, sombras bíblicas, paralelos morais ou edificantes, vão sendo arrancados dessa voz coletiva e congelada, que soam tão mais verdadeiros quanto mais pitorescos parecem (…)”

 Em 1963, Otto publicou seu único romance, “O braço direito”, ganhador do Prêmio Lima Barreto. Como explicado na quinta e mais recente edição do livro, lançado pela Companhia das Letras, conforme ia escrevendo, Otto pensava em vários títulos para ele: “Os asilados”, “O grande órfão” e “O inspetor de órfãos”. Das cinco edições da obra, a segunda, pela editora inglesa Andre Deutsch, apareceu intitulada “The Inspector of Orphans”, em 1968. A terceira saiu pela Sabiá, em 71. A quarta, vinte anos depois, pelo Círculo do Livro.

 No romance que reescreveria pela vida afora, Otto convida os leitores, de novo, a um passeio por Lagedo, cidade fictícia que já aparecera em “A testemunha silenciosa”. O personagem-narrador é Laurindo Flores, que trabalha no Asilo da Misericórdia, cuidando dos órfãos que nele residem. Ana Miranda resume: “O livro nos mostra disputas de poder, humilhações, hipocrisias, avarezas, injustiças, crueldades, doenças, mortes, o mal, enfim. (…) Se pretendia escrever uma obra-prima, ele o conseguiu, plenamente. “O braço direito” é um romance precioso, livro de uma vida inteira, um livro único, originalíssimo, repleto de significados, construído com o mais pungente amor pela literatura.”

 É também da escritora cearense a opinião: “’O braço direito’ é um romance único, perturbador, esplêndido, em que Otto Lara Resende, ao mostrar uma parte profunda de sua mente, nos leva ao mundo obscuro e silencioso da mais misteriosa de todas as Minas Gerais”.

 Em 1975, retornando às narrativas breves, Otto lançou “As pompas do mundo”, conjunto integrado por sete enredos, entre os quais “Bem de família”, “O elo partido”, “O guarda do anjo”, “Viva la patria”, “A sombra do mestre” e “Mater dolorosa”, além de “A cilada”, aí republicada. Em 1991, lançou a última coletânea, “O elo partido e outras histórias”.

 Entrevistado por Paulo Mendes Campos para a revista “Manchete”, ao responder sobre quem era Otto Lara Resende, ele respondeu: “A ideia que faço de mim? Um sujeito delicado e violento. Delicado pra fora, violento pra dentro. Um poço de contradições. Um falante que ama o silêncio. Um convivente fácil e um solitário. (…) Solicitude e esquivança compõem meu espectro. Gosto de partilhar, de participar, sou bisbilhoteiro, abelhudo. Gostaria de ajudar todo mundo. Gostaria de viver todos os lances, estar presente. E gostaria também de estar ausente, sumido, fora do mundo”.

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