VIVER EM VOZ ALTA | Os clubes de leitura

18 de outubro de 2019 às 0h03

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Crédito: José Cruz/Agência Brasil

Rogério Faria Tavares*

Convidado por uma contemporânea de colégio, compareci, há alguns dias, à reunião de um dos vários clubes de leitura que hoje existem na cidade (e no mundo inteiro – o que é uma esperança para o planeta…). Das sete às nove da noite, o encontro ocorre sempre na casa de uma das participantes, toda segunda-feira. As mulheres que tive a alegria de conhecer são apaixonadas pela literatura – prosa ou poesia – e, por conta disso, arranjaram um jeito agradável de conviver em torno dela. Como a vida nos grandes centros é bastante atribulada, sobrando pouco tempo para rever as pessoas de que de fato gostamos, incluir na rotina um compromisso como esse é um modo inteligente e saudável de começar a semana com o coração mais afagado…

Sem qualquer restrição quanto a temas ou autores, as sócias do clube me contaram que já leram, no grupo, escritores como Kafka, Alice Munro, Guimaraes Rosa… Atualmente, têm se dedicado aos contos, que são lidos durante a própria sessão. Agora, estão mergulhadas em um belo livro de Lygia Fagundes Telles. Lemos o delicado conto “Então, adeus!”, em que a autora de “Ciranda de Pedra” fala sobre Monteiro Lobato, o seu velório e as lembranças que guardou do grande intelectual brasileiro. Depois da leitura, abriu-se um momento para comentários, trocas de ideias, evocação de memórias. Conversamos, também, sobre os outros livros que estamos lendo, o que é uma ótima oportunidade para tomar conhecimento dos bons lançamentos ou das preciosidades esquecidas no passado. Tomei a liberdade de elogiar as biografias de Mario de Andrade e de Jorge Amado, que li recentemente. Isso deu ensejo a que falássemos sobre a vida dele e a da mulher, Zélia Gattai, o casal que percorreu o mundo conquistando mentes e corações para a literatura brasileira.

Durante o lanche que se seguiu às leituras, o papo continuou, descontraído, suave, elegante, como devem ser as horas dedicadas aos amigos, sobretudo aos ‘irmãos em letras’. A historiadora Magna Souza Andrade, idealizadora do clube, me contou que também organizou outro grupo semelhante, que une pessoas fascinadas pelo cinema. As amigas assistem juntas a um filme e, em seguida, trocam impressões sobre o que viram. Nada melhor. Falei sobre o quanto gostei do excelente “Coringa”, ainda em cartaz, com interpretação fabulosa do ator Joaquim Phoenix. Se mais tempo tivesse, também daria depoimento favorável ao incrível “Bacurau”, de Kleber Mendonça Filho, talentoso cineasta pernambucano que tive a alegria de conhecer no Recife, quando ele ainda se preparava para lançar o ótimo “Aquarius”, com Sonia Braga.

Saí da reunião do clube do livro certo de que ideias dessa natureza tornam as pessoas mais leves e mais felizes. Ninguém aguenta mais relacionar-se somente por meio das redes sociais, sem o contato presencial, olho no olho, como nos velhos tempos. Não há tecnologia capaz de substituir o chamado ‘calor humano’, que é o que viabiliza, de verdade, a nossa continuidade como espécie…

*Jornalista e presidente da Academia Mineira de Letras

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