VIVER EM VOZ ALTA | Para Miriam Almeida Brito de Castro

17 de janeiro de 2020 às 0h15

img
Crédito: Divulgação

Rogério Faria Tavares*

Filho e sobrinho de mulheres e de homens que entregaram décadas de sua existência à causa da educação, tenho plena convicção de que não há desenvolvimento – de nenhuma espécie – sem o investimento decidido na melhoria do ensino e das condições de trabalho dos professores. Não há nação próspera e civilizada sem escolas fortes, capazes de formar gerações de cidadãos que sejam senhores de suas mentalidades e de seus destinos.

A educação muda para sempre a vida de uma pessoa, ampliando os seus horizontes, livrando-a de preconceitos e superstições, apresentando a ela o mundo da cultura, da ciência e da razão. Uma boa escola e bons professores são o caminho mais seguro para uma vida autônoma, livre e saudável.

Algumas escolas são mais que meros estabelecimentos comerciais, em que se pode contratar a prestação de serviços de educação. São verdadeiras instituições, motores da vida social, dinamizadoras das relações entre as pessoas. Imprimem de tal modo a força de seus valores e de sua atuação que se tornam referências fundamentais para a comunidade em que se inserem e para a compreensão da sua história.

Acabam fazendo parte do seu patrimônio cultural e, sobretudo, afetivo. Esses são os casos, em Belo Horizonte, entre outros, do Colégio Loyola, dos Jesuítas, onde estudei por sete anos, e também do Sagrado Coração de Maria, onde fiz do pré à quarta séria primária, no tempo em que a sua diretora era a Irmã Maria da Glória, famosa por sua erudição e por sua competência como gestora, qualidades raramente coincidentes.

Referida por Tavito na inesquecível canção ‘Rua Ramalhete’, a sede do Sacre-Couer (foto), à rua Professor Estêvão Pinto (antiga rua Chumbo), no bairro da Serra, foi o cenário em que fiz queridos amigos e em que tive o privilégio de conviver com educadores de alto valor. Fui alfabetizado por uma prima, Flávia Guerra Pinto Coelho, profissional dedicada e comprometida, herdeira das mesmas qualidades do pai, meu tio José Guerra Pinto Coelho.

Na quarta série, aos dez anos, tive uma das melhores professoras da minha vida. Miriam Almeida Brito de Castro era uma mulher de pouco mais de um metro e meio. Sua postura em sala de aula, porém, era altiva, e impunha respeito. A alguns, até temor. Severa, não nos tratava como crianças. Dirigia-se à turma com voz serena, mas firme, como quem fala com futuros adultos. Não fazia concessões. Sabia o que era educar.

Queria o melhor de nós. Exigia o melhor de nós. Celebrava o pacto da excelência. Contra a mediania, sabia cobrar. Sem crueldade, mas com rigor. Se, nas primeiras semanas, minha sensação era de amedrontamento, depois ela se alterou completamente, dando lugar a uma admiração que permanece até hoje, tanto tempo depois. Passados trinta e oito anos, não consigo esquecer a marca que a mestra deixou em minha formação, sobretudo a afeição pela língua portuguesa.

Outra semente que Miriam lançou fez germinar o gosto pelo universo da Comunicação. Em uma das atividades por ela propostas, os alunos organizavam uma espécie de telejornal em que apresentavam notícias variadas, por eles prospectadas na imprensa local. Esse talvez tenha sido o meu primeiro trabalho como jornalista.

*Jornalista. Presidente da Academia Mineira de Letras

Facebook LinkedIn Twitter YouTube Instagram Telegram

Siga-nos nas redes sociais

Comentários

    Receba novidades no seu e-mail

    Ao preencher e enviar o formulário, você concorda com a nossa Política de Privacidade e Termos de Uso.

    Facebook LinkedIn Twitter YouTube Instagram Telegram

    Siga-nos nas redes sociais

    Fique por dentro!
    Cadastre-se e receba os nossos principais conteúdos por e-mail