Competitividade: custo maior afugenta empresa no Brasil

19 de janeiro de 2021 às 0h27

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Crédito: REUTERS/Amanda Perobelli

Competitividade. Se esse é um fator que há anos tem sido discutido no Brasil, com a pandemia da Covid-19 as preocupações acerca do tema parecem cada vez mais intensas. A saída de empresas do País, como a Ford, embora tenha também outras motivações como pano de fundo, sinaliza, para muitos profissionais, que as coisas não estão tão bem como deveriam no território nacional. Mas, afinal, qual o nosso quadro atual e como revertê-lo?

O presidente do Centro Industrial e Empresarial de Minas Gerais (Ciemg), Fábio Sacioto, destaca que a situação dos produtos nacionais frente aos importados é um dos desafios no Brasil, que paga mais taxas nesse cenário. Além disso, ressalta ele, a folha de pagamento no País também é muito mais cara quando comparada a de outros locais. “Isso acaba encarecendo o processo produtivo, e o produto fica mais caro”, salienta.

A questão da mão de obra também é ressaltada pelo coordenador dos cursos de gestão do Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), Saulo Donnard. Ele destaca que o País conta com profissionais capacitados, o que é algo importante para a competitividade brasileira. Entretanto, os custos são mais elevados por aqui em relação a outros países. “O custo da mão de obra não é o mais barato comparado a outros países”, pontua.

Mas os desafios relacionados à competitividade não param por aí. A gerente de economia da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Daniela Brito, destaca que também existem entraves relacionados às questões tributárias, e que o custo Brasil é elevado. “As empresas brasileiras convivem com uma das cargas tributárias mais altas do mundo”, argumenta ela.

Além disso, lembra a gerente de economia da Fiemg, ainda existem os custos relacionados ao cumprimento da legislação tributária. Nesse cenário, a complexidade faz com que as empresas precisem ter grandes estruturas com advogados tributaristas, contadores, entre outros, para acompanhar tudo o que é necessário.

“Também temos um déficit de infraestrutura, tornando nosso sistema logístico muito caro. Além disso, há baixa qualidade da educação e baixo investimento em pesquisa e desenvolvimento, o que implica em uma produtividade menor”, explica ela.

O custo Brasil também é algo citado pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Em nota, a entidade, quando perguntada acerca da saída da Ford, disse que não comentaria sobre o assunto. No entanto, ressaltou que faltam ações relacionadas a esse tipo de custo.

“A Anfavea não vai comentar sobre o tema. Trata-se de uma decisão estratégica global de uma das nossas associadas. Respeitamos e lamentamos. Mas isso corrobora o que a entidade vem alertando há mais de um ano, sobre a ociosidade da indústria (local e global) e a falta de medidas que reduzam o custo Brasil”, afirma o comunicado.

O presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, também destacou o assunto. “Nós temos problemas estruturais no Brasil. A gente tem problema de custo Brasil, a gente tem problema de um sistema tributário maluco, que gera créditos tributários para quem está querendo produzir, está querendo exportar. A gente quando vai exportar tem outros resíduos tributários. A gente não tem facilitação na exportação. A gente tem uma volatilidade no câmbio enorme etc”, afirmou o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, em entrevista coletiva.

Com a pandemia, alertou Moraes, a situação fica ainda mais preocupante, uma vez que existe uma ociosidade na indústria automobilística global. “O que eu sempre falo: as matrizes estão olhando para os países com maior eficiência, com menor custo, com menor burocracia, com sistema tributário mais simples, sistema tributário que não gere créditos tributários”, enfatizou.

Vantagens – Diante de todo esse cenário, o que pode ser feito? Donnard, do UniBH, ressalta que embora existam entraves, como os relacionados ao custo de mão de obra e às questões tributárias, isso não significa que nada está sendo feito. A própria indústria automobilística, diz ele, já recebe incentivos fiscais e tributários. Ele lembra, ainda, que o Brasil também tem outras vantagens importantes, como o acesso a boas matérias-primas.

Apesar de o País ter também seus benefícios, Daniela Brito, da Fiemg, porém, chama a atenção para a importância de ações que simplifiquem o sistema tributário e reduzam a desigualdade. Também é relevante, avalia ela, ampliar a segurança jurídica, entre outras ações.

Por outro lado, se nada for feito para melhorar a competitividade brasileira, pode haver entraves tanto em relação à atração quanto à manutenção de investimentos no Brasil, segundo Daniela Brito.

Já Sacioto, da Ciemg, destaca uma possível desindustrialização. “Se nada for feito, os investimentos vão minar gradativamente. Poderá haver uma desindustrialização, o fechamento de empresas e a falta de modernização das que ficam. O Brasil será cada vez mais dependente de produtos importados. A balança comercial será cada vez mais negativa, reduzindo a quantidade de empregos”, adverte.

Entretanto, apesar de existirem os riscos de fuga de capital e de empresas, Donnard, do UniBH, chama a atenção para a importância de fazer uma leitura crítica, como a do caso da Ford. “A questão da Ford faz parte de uma reestruturação global e, inclusive, fecharam outras fábricas. Não é só a questão do custo Brasil que a fez fechar”, afirma ele.

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