Da reforma das reformas

11 de setembro de 2018 às 0h01

Stefan Salej*

Provavelmente a maioria dos nossos leitores não anda de ônibus ou metrô, seus filhos estão na escola privada, não usam SUS e nem vão ao INSS, ou usam qualquer serviço público à disposição do cidadão. Talvez o famigerado Detran, mas mesmo assim mais através de despachante. Aliás, o que seria dos ricos no Brasil sem despachante. Ou sem o “sabe com quem está falando?” Sempre temos um colega ou parente no serviço público que ajuda a resolver e quebrar galho. Bem, tem serviço público na área de fiscalizações, impostos e similares que o empresário, e aí no lugar do despachante entra o advogado, sente na pele e sabe onde fica.

Em resumo, serviço ao público ou serviço público na sua maior dimensão é mais perceptível para certas classes sociais do que para outras. Sendo que temos ainda outra dimensão do nosso serviço público que é a multidão de terceirizados. Quem inventou isso deveria ser canonizado. Deve ser para não aumentar o número de funcionários públicos. Aí se contratam empresas privadas que vendem mão de obra por preço mais baixo, mas sem treinamento e a supervisão necessária. E justamente na maioria dos casos este é o pessoal que representa a autarquia no seu relacionamento com o cidadão. Aliás, serviço público é serviço ao cidadão.

Não nos esqueçamos dos concursos, porque somos um país democrático e a oportunidade para entrar no serviço público é igual para todos. Aí, depois de dez concursos em áreas mais difíceis, o cidadão conseguiu passar num, mas quando entra, depois de muita espera, não há recursos para treinamento. Ou entra numa função que nada tem a ver com seu perfil psicológico ou a sua vontade de trabalhar. Queria ser delegado de polícia mas virou recepcionista do INSS porque foi lá que passou no concurso.

Não vamos falar dos equipamentos usados nas áreas públicas. Carros sem gasolina, hidrantes sem água, computadores do século passado.

Os candidatos falam e falam o que vão fazer, discutem os salários do funcionalismo, mas ninguém mesmo disse qual é o projeto de reforma de gestão do Estado. Aliás, o mesmo vale para os candidatos a governadores e prefeitos, que estão no cargo e não fazem nada. Sem essa reforma, que deve incluir os poderes Legislativo e Judiciário, o cidadão brasileiro continuará em condição de miséria no seu atendimento pelo Estado. E tem mais: mesmo com alguns avanços no uso de tecnologia, estamos longe de aproveitar todo o potencial. A reforma deve ser essencialmente reforma de gestão administrativa e dar oportunidade de atualização aos funcionários.

Muita coisa boa existe. Inclusive pela Escola Nacional de Administração Pública. Muitos serviços funcionam bem, mas longe do que o País precisa para melhorar a vida do cidadão e a sua competitividade como um todo.

* Ex-presidente do Sebrae Minas e da Fiemg – Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais e cofundador de Minas em movimento

Tags:
Facebook LinkedIn Twitter YouTube Instagram Telegram

Siga-nos nas redes sociais

Comentários

    Receba novidades no seu e-mail

    Ao preencher e enviar o formulário, você concorda com a nossa Política de Privacidade e Termos de Uso.

    Facebook LinkedIn Twitter YouTube Instagram Telegram

    Siga-nos nas redes sociais

    Fique por dentro!
    Cadastre-se e receba os nossos principais conteúdos por e-mail