Democratas retomam comando da Câmara nos EUA

9 de novembro de 2018 às 0h01

Arnaldo Francisco Cardoso*

Em eleição norte-americana marcada pelo enfrentamento de temas ditados por Trump, os democratas retomaram o comando da Câmara de Representantes e ampliaram sua presença nos governos estaduais, mas sabem que se defrontarão com sérios desafios.

Tradicionalmente, os resultados de eleições de meio de mandato (midterm) são desfavoráveis ao partido do presidente. Desde 1934, das 21 eleições de meio de mandato realizadas, o partido instalado na Casa Branca só obteve maioria na Câmara em três vezes, e em cinco no Senado.

O Partido Republicano estava no comando do Congresso desde 2011, quando obteve maioria em eleição no meio do primeiro mandato de Barack Obama.

A perda da maioria traz dificuldades para aprovação de projetos do governo e, com isso, diminui a eficiência do mesmo no cumprimento da agenda que deu a vitória ao candidato do partido no pleito presidencial. Na eleição de ontem, o governo Trump perdeu a maioria na Câmara e a manteve no Senado.

Sobre a agenda de Trump, reposta nesta eleição, mais do que as divergências tradicionais em temas que opõem os republicanos e democratas, a radicalidade com que questões relacionadas a política de imigração, redução de programas sociais, porte de armas, protecionismo comercial, abandono de acordos internacionais – como o Acordo do Clima de Paris, Acordo Nuclear com Irã, entre outros – tem feito aflorar “o pior da América”. Ferindo instituições como a imprensa, ao perseguir jornalistas e veículos de comunicação, além do uso das chamadas fake news para atacar seus opositores, o governo Trump vem confrontando até a própria Constituição ao ameaçar extinguir por decreto a nacionalidade por nascimento, garantida pela 14ª Emenda Constitucional.

O uso intensivo e aético de internet e redes sociais que Trump fez e tem feito para se eleger e para governar, tem tornado essas práticas uma efetiva ameaça à democracia, estimulando processos de radicalização e culto do personalismo, suprimindo instâncias de representação e mediação, e já copiado em outros países como são conhecidos os casos de Itália e Brasil.

Mesmo em contexto tão adverso, o novo corpo de representantes eleitos na presente eleição americana mostra renovação, trazendo maior diversidade para a arena da representação política. Está posto a partir de agora, especialmente ao Partido Democrata (que é oposição ao partido no governo), a tarefa de representação e defesa dos valores e projetos para os quais seus membros foram eleitos, e construírem uma nova agenda política que embase a sua ação parlamentar e a disputa presidencial de 2020.

E que na busca de novas lideranças, claramente demandada pelos eleitores, o partido não caia na cilada de querer produzir para o próximo pleito um “Trump democrata”. Há muitos no mundo que ainda esperam que a democracia norte-americana possa voltar a revelar mais virtudes que defeitos.

* Cientista político, pesquisador e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie

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