Especialista questiona a ordem de votação

31 de agosto de 2018 às 0h01

img

A implantação do voto eletrônico no sistema eleitoral brasileiro, em 1996, foi um avanço para o País em quesitos como agilidade, segurança e alcance junto aos mais de 5 mil municípios e cerca de 145 milhões de eleitores. No entanto, alguns pontos ainda são considerados frágeis por alguns especialistas. A sequência de votação é um deles.

É o que explica o analista de sistemas, pós-graduado em ciência política, economia e estatística, mestre em ciência de computação e graduando em direito, Orlando José Leite de Castro. Segundo ele, apesar de figurar em segundo plano na campanha, a eleição proporcional é que inicia a votação e pode confundir eleitores menos instruídos.

“A ordem atual é: deputado federal, deputado estadual ou distrital, senador 1, senador 2, governador e, por fim, presidente. Fruto de uma manobra questionável, que eu acompanhei de perto enquanto estive no Senado Federal. Nem a sequência anterior, que previa o voto para deputado estadual antes de deputado federal, representando a hierarquia dos cargos, foi respeitada”, destaca.

De toda forma, Castro pondera, que nem mesmo o modelo anterior assegurava a transmissão fiel dos votos dos eleitores. Prova disso, segundo o especialista, é que desde a implantação, o sistema eletrônico proporcionou um aumento gradativo dos votos em legenda, favorecendo partidos políticos e candidatos a cargos principais como de prefeito e presidente.

Conforme ele, em 1996, os municípios que tiveram votação pelo método até então tradicional, tiveram apenas 1,6% de votos de legenda, enquanto nos que foram implantadas urnas eletrônicas, esse número subiu para 20,2%. Já nas últimas eleições para prefeito, em 2016, com 100% dos municípios com votação eletrônica, a incidência de votos de legenda correspondeu a 6,9% do total.

Voto de legenda – “O percentual de votos de legenda só vem aumentando após a implementação do voto eletrônico e nada foi feito para mudar ou, ao menos, esclarecer os eleitores. A cada eleição o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) emite guias para distribuição nacional e, em mais de 20 anos, nenhuma delas trouxe, sequer, uma explicação para voto de legenda. Ou seja, os eleitores menos esclarecidos são prejudicados e acabam favorecendo, sem querer, partidos e candidatos a prefeito ou presidente”, explica.

Castro defende que o que chama de “erro metodológico no processo de votação com urna eletrônica” seja corrigido a partir de mudanças no próprio sistema, ou, simplesmente, com maior disseminação e esclarecimentos do processo eleitoral para a fatia da população com menos acesso a este tipo de informação.

“Em outubro teremos mais 22 milhões de votos errados e centenas de candidatos e partidos beneficiados de maneira equivocada pelo País. O TSE recebeu, em pelo menos três oportunidades, estudos técnicos que comprovavam a existência do erro e o assunto foi arquivado, o que permite supor que nada mudará agora. Por isso, recorri também a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), por meio de uma petição, para tornar público esse problema e mostrar sua inconstitucionalidade”, ressalta.

Procurado pela reportagem, o TSE informou que não realiza levantamentos ou pesquisas qualitativos e, por isso, não pode avaliar os impactos da ordem de votação no número de votos de legenda.

Já sobre o maior esclarecimento da população acerca dos procedimentos eleitorais, o tribunal disse, por meio de nota, que a “Campanha Informativa Eleições 2018” já está no ar, com informações de ordem prática sobre o dia do pleito, como a ordem de votação na urna eletrônica, o horário de funcionamento das seções eleitorais e os documentos que devem ser apresentados pelo eleitor quando for exercer o direito do voto.

Tags:
Facebook LinkedIn Twitter YouTube Instagram Telegram

Siga-nos nas redes sociais

Comentários

    Receba novidades no seu e-mail

    Ao preencher e enviar o formulário, você concorda com a nossa Política de Privacidade e Termos de Uso.

    Facebook LinkedIn Twitter YouTube Instagram Telegram

    Siga-nos nas redes sociais

    Fique por dentro!
    Cadastre-se e receba os nossos principais conteúdos por e-mail