Transformações disruptivas para o ambiente universitário

29 de setembro de 2018 às 0h01

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Jacir J. Venturi*

Há dez anos chegaram a nossas mãos os primeiros smartphones, sem os quais hoje temos a sensação de orfandade e, há menos de cinco anos, sutilmente eclodiram ao grande público as tão enlevadas tecnologias dos dias atuais, como a inteligência artificial (AI), internet das coisas (IoT), big data, machine learning, etc.

Essa é a base para afirmarmos que, daqui para frente, do universitário cada vez mais se exigirá “fluência digital”, uma vez que a aprendizagem será preponderantemente em ambiente virtual. Requerer-se-á dele disciplina na autogestão do seu tempo para aprender por conta própria, raciocínio lógico e disposição para interagir com conteúdos multidisciplinares em trabalhos em equipe.

Na academia, grandes mudanças se efetivarão, abolindo-se o atual regime seriado com disciplinas herméticas e fragmentadas. As universidades necessitarão de menos espaço físico, pois, em um ecossistema de inovação e ambientes virtuais mais didáticos que nos dias atuais, os estudantes terão um aprendizado mais eficaz da parte teórica em um quarto silente de sua casa e irão ao campus para experiências em laboratório, práticas nas clínicas ou para encontros focados em projetos e problemas com conteúdos assaz diversificados.

A maioria esmagadora das universidades brasileiras, todavia, padece de um grande e conhecido infortúnio: encasteladas em torre de marfim, pouco interagem com a indústria e com a sua comunidade. E o que se vislumbra para o futuro – e há modelos já bem-sucedidos como as de Stanford, Olin College e MIT: uma analogia de tríplice hélice, cada uma constituindo um instrumento de propulsão para fomentar inovação e resolução de problemas: universidades, indústrias e governos. Cabe às universidades o mais importante papel: pesquisa, ensino e desenvolvimento de conceitos, tecnologias e soluções. Às indústrias, o papel de prover laboratórios práticos e demandar projetos customizados. Aos governantes, conceder incentivos para viabilizar que o entorno da academia seja um ambiente que fomente o empreendedorismo, abrigando startups e incubadoras.

Ademais, tornarem-se globalizadas certamente deve ser o escopo de nossas universidades, enviando e recebendo acadêmicos, seja pelo intercâmbio de pesquisas, conhecimentos e culturas diferentes, seja assimilando e incorporando boas práticas de gestão e ensino. Sempre afirmei em sala de aula: o futuro concorrente do aluno não será apenas o profissional formado nas instituições de ensino superior do Brasil, mas também naquelas sediadas na China, Japão, Coreia, Vale do Silício. Estamos todos conectados – a “aldeia global” do filósofo canadense Marshal McLuhan. A vivência por seis meses ou mais em outro país deixa uma marca indelével para toda uma vida e propicia elevado amadurecimento e desenvolvimento pessoal.

E o professor? Esse será mais do que nunca exaltado, porém não mais como um expositor de conteúdos, mas transfigurado em mediador, mentor, especialista, motivador. Nos encontros dentro das instituições de ensino, haverá ênfase para que o discente desenvolva as habilidades socioemocionais, que são cada vez mais valorizadas na convivência profissional, familiar, nas relações humanas e com o meio ambiente.

A academia deve ser um hub de inovação e também espaço de pluralidade. Todavia, atingir esse desejado patamar exige um esforço da sociedade, dos governos e da academia, vencendo a inércia do status quo, as resistências de parte dos docentes e discentes, bem como os preconceitos mútuos existentes na integração entre academia e empresas. As instituições que conseguem esse feito demonstram indubitavelmente os expressivos efeitos sobre o ensino-aprendizagem, sobre a economia e sobre a sociedade em que estão inseridas. Um desafio que merece e deve ser enfrentado.

*Coordenador na Universidade Positivo, foi professor da UFPR, PUCPR e vice-presidente da ACP

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