Peste na Ásia aquece demanda de carnes

13 de dezembro de 2019 às 0h12

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Os pecuaristas de gado de corte podem aproveitar a valorização da carne bovina para aumentar a produção nacional - Crédito: Arquivo FAEMG

A epidemia de Peste Suína Africana (PSA) na Ásia, que causou o abate sanitário de cerca de 50% do rebanho suíno na China, principal produtor e consumidor da proteína, impulsionou a demanda pelas carnes bovina, suína e de frango produzidas no País, elevando a cotação dos animais. A previsão é de que os preços das carnes continuem em alta em 2020.

Em 2019, para atender à demanda interna, a China, além das cinco plantas produtoras de carne suína, habilitou outras cinco para exportação de carne bovina. A carne de frango também foi contemplada e mais três plantas agora podem exportar, totalizando 46 aptas a fornecer frango ao mercado chinês.

De acordo com as informações da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), com a maior demanda, a alta na cotação da arroba do boi gordo começou a ganhar força ao fim de agosto e maior intensidade a partir da metade de outubro, quando os efeitos das exportações de carne bovina para a China, a partir das novas plantas habilitadas, começaram a impactar os preços.

Para 2020, os valores das negociações do boi gordo estão acima dos praticados em 2019. Em novembro, a arroba estava cotada a R$ 183,50. Já nas negociações do mercado futuro, para maio de 2020, a arroba está avaliada em R$ 208. Em Minas Gerais, em novembro de 2018, o preço da arroba girava em torno de R$ 144 e alcançou em novembro deste ano cerca de R$ 205.

“As exportações vão continuar aquecidas e os preços valorizados. No acumulado dos dez primeiros meses de 2019, as exportações mineiras de carne bovina tiveram um incremento de 27% em valor. Os produtores de carnes em geral precisam se organizar, ampliar a produção e aproveitar o momento para recuperar das perdas acumuladas nos anos anteriores, quando os preços não estavam remuneradores e os custos elevados”, explicou o zootecnista e analista de agronegócios da Faemg, Wallisson Lara Fonseca.

Segundo Fonseca, com a carne bovina valorizada e a tendência de manutenção dos preços em alta, há uma migração do consumo para as demais carnes, que têm preços mais acessíveis, como aves e suínos. A migração também tem contribuindo para o aumento dos preços pagos aos produtores destas proteínas. A exportação mineira de carne de frango gira em torno de 32% da produção e de suínos e bovinos, 15%.

“Por mais que estejamos exportando muito, grande parte da produção fica no mercado interno, o que garante o abastecimento. Esperamos que 2020 seja melhor que 2019, com maior geração de empregos e a população mais capitalizada, o que vai ser importante para o crescimento do consumo interno”, avalia.

Leite – O ano para a pecuária de leite foi marcado pelo menor consumo e queda de preços no período de entressafra. Além disso, a demanda maior por grãos, principalmente milho e soja, encareceu os custos. Apesar dos desafios, a qualidade do leite está melhor. Outro ponto favorável, em 2019, foi o início das atividades do Conselho Paritário entre Produtores de Leite e Indústrias de Laticínios (Conseleite), importante ferramenta que antecipa os valores a serem pagos pelo leite aos produtores e permite que eles se planejem.

De acordo com o vice-presidente de secretaria da Faemg, Rodrigo Alvim, no início do ano, a previsão era de recuperação mais vigorosa da economia nacional, o que é importante para elevar o consumo. Diante da expectativa positiva, a indústria ampliou o valor do leite para o produtor. Porém, como o mercado e o consumo não reagiram, os preços foram reduzidos no início da entressafra, período que tem custos mais altos. Entre os itens que encareceram a atividade, destaque para o milho e a soja, que respondem por cerca de 50% dos custos com a ração.

Mesmo enfrentando adversidades, a produção brasileira de leite é crescente, com alta de 1,6% prevista em 2019 no País, e os parâmetros de qualidade vêm subindo, o que é fundamental para a busca de novos mercados.

“Em 2019, houve um avanço importante na Contagem de Células Somáticas (CCS), que são células de defesa que apontam infecção ou infecção recente. Os estudos mostram que a CCS caiu a níveis abaixo do limite previstos pela legislação do setor. É um avanço importante já que este controle é mais difícil. Por outro lado, a Contagem Bacteriana Total (CBT) está acima do permitido. Isso é, basicamente, falta de higiene e o produtor pode corrigir isso facilmente”, explicou Alvim.

Também houve avanços na produtividade em nível nacional, encerrando 2019 em torno de 2.068 litros de leite por vaca ao ano. De acordo com Alvim, há poucos anos, a média era de 1.500 a 1.700 litros por vaca ao ano. Em Minas Gerais, a média é de 2.840 litros por vaca ao ano. “Está havendo melhoria não só nas praticas de produção, mas, sobretudo, na genética dos animais”, disse Alvim.

Faemg defende Lei dos Queijos Artesanais

Em 2019, foi realizado um intenso trabalho do Sistema Faemg para a regulamentação da Lei 23.157/2018, Lei dos Queijos Artesanais de Minas Gerais. A comissão técnica formada pela entidade e os produtores de queijo de leite de outras espécies analisaram a proposta da minuta do decreto da lei e apresentaram proposições ao governo de Minas Gerais. É aguardada a publicação da norma e a caracterização dos diversos queijos produzidos no Estado.

De acordo com as informações da Faemg, para 2020, as expectativas são positivas para as exportações da cadeia leiteira. Porém, ainda será necessário que as adequações da cadeia produtiva e as negociações sejam terminadas. Em 2019, o governo chinês anunciou a abertura do mercado para os produtos lácteos brasileiros. A China importa 110 mil toneladas de queijo por ano, e esse segmento tem crescido 13% ao ano.

Em relação ao mercado interno, a estimativa de crescimento mais robusto do Produto Interno Bruto (PIB) pode estimular a geração de empregos e renda, o que favorece o consumo.

Um dos grandes desafios para o setor leiteiro é a proposta da reforma tributária. De acordo com o vice-presidente da Faemg, Rodrigo Alvim, caso o projeto seja aprovado nos moldes atuais, haverá um prazo de transição de dez anos, período em que serão retirados todos os benefícios para o setor.

“É preocupante porque é um setor que convive com margens muito pequenas tanto na produção como na indústria. Serão extintos, por exemplo, os créditos presumidos. Além disso, a alíquota do imposto único para o País será de 25%, e o produtor passará a pagar um imposto mais alto. Hoje paga, mas de forma modesta. Todas as mudanças previstas serão muito impactantes no cenário tributário do setor. Fala-se, inclusive, de tributar de Funrural à exportação. É um absurdo”, questionou.

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