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ENGENHARIA HOJE | 5G: Inatel trabalha na definição de solução técnica para áreas remotas

15 de abril de 2020 às 0h12

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Tecnologia 5G poderá ser a chave para o fim da segregação tecnológica que ainda existe no mundo | Crédito: Marcelo Casal Jr/ABr

O 5G é o próximo passo evolutivo para a banda larga sem fio. Sua missão é elevar, em muito, as potencialidades da rede atual, conhecida como 4G, alçando a banda larga móvel a altíssimos padrões de velocidade de conexão e de usuários simultâneos.

Para o engenheiro Luciano Leonel Mendes, coordenador de Pesquisa do Centro de Referência em Radiocomunicação do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), de Santa Rita do Sapucaí, o impacto das redes 5G será incomensurável.

“As redes 5G de longo alcance poderão levar a internet a regiões hoje desprovidas de cobertura, permitindo que mais pessoas tenham acesso à rede mundial de computadores. E a sua integração com internet das coisas irá permitir a automação de diversos processos agropecuários, aumentando a produtividade deste importante setor”, afirma Luciano Mendes.

Frequentemente, analistas sugerem que o lançamento das redes 5G representa um salto nas possibilidades das comunicações mundiais (breakthrough) e não um desenvolvimento incremental, como ocorre na maioria das inovações tecnológicas contemporâneas. O senhor concorda com essa ideia?

Concordo plenamente. Da segunda geração até a quarta, nós podemos ver que o desenvolvimento das redes móveis focou apenas no aumento de capacidade em termos de números de usuários e vazão (velocidade de acesso à internet). As redes 5G irão trazer um aumento de vazão, mas também irão introduzir uma miscelânea de novos serviços jamais vistos em uma rede sem fio.

Podemos destacar, por exemplo, as aplicações de baixa latência, que irão viabilizar o controle de objetos reais e virtuais através de dispositivos móveis, permitindo, por exemplo, o controle de maquinário, drones e até mesmo cirurgias a distância. A integração das redes 5G com a Internet das Coisas (IoT) é outra revolução que trará grandes benefícios para a sociedade conectada, permitindo a integração de sistemas e objetos na rede móvel.

Isso irá viabilizar as cidades inteligentes e o controle automático de sistemas domésticos, entre outras aplicações. A rede 5G também irá ter um modo de operação de longo alcance, adequado para a cobertura de regiões rurais e remotas. Essa é a chave para o fim da segregação digital que existe entre os campos e as cidades e o início para a verdadeiro acesso universal à informação.

As redes 5G para áreas remotas também irão revolucionar os processos agropecuários, com a possibilidade do uso de IoT integrado às fazendas, criando as chamadas smartfarms. Essa nova infraestrutura de comunicações irá mudar a forma como a sociedade emprega as redes móveis, consistindo em uma verdadeira revolução digital.

O senhor poderia citar alguns serviços, hoje “impossíveis”, que serão viabilizados?

Alguns dos serviços já foram listados na resposta anterior, mas podemos segmentar por modo de operação da rede 5G. O modo de alta vazão irá permitir a transferência de um grande volume de informação, viabilizando, por exemplo, as chamadas holográficas. Essa aplicação já foi demonstrada na EUCNC 2019.

O modo de baixa latência irá permitir a integração das redes móveis em sistemas de controle industriais, viabilizando a chamada indústria 4.0. Além disso, sistemas de segurança ativos em carros poderão ser implementados sobre essa tecnologia, onde um veículo poderá comunicar uma situação de emergência para outros veículos de forma instantânea. As redes 5G de longo alcance poderão levar a internet a regiões hoje desprovidas de cobertura, permitindo que mais pessoas tenham acesso à rede mundial de computadores. E a sua integração com a IoT irá permitir a automação de diversos processos agropecuários, aumentando a produtividade deste importante setor.

Os Estados Unidos depositaram 14 pedidos de patentes decorrentes de achados durante o desenvolvimento da tecnologia 5G, enquanto a China depositou mais de 40. Significa que os Estados Unidos perderam a supremacia científica, tecnológica e técnica na área?

A abordagem americana sobre a questão do 5G está sendo diferente daquela empregada na Europa e Ásia. Enquanto a Europa e Ásia fazem uma corrida tecnológica, os EUA disponibilizaram o espectro para que as operadoras o explorem da forma que julgarem mais competitiva e lucrativa.

A meu ver, isso mostra que os EUA não estão preocupados com a infraestrutura de telecomunicações, mas sim com as aplicações que podem ser oferecidas sobre esta rede. Observando a história, fica evidente que o verdadeiro valor econômico das redes móveis está nas aplicações, e não na infraestrutura. Então, arrisco dizer que os EUA estão dando liberdade para que as operadoras possam tirar o máximo proveito das redes móveis de quinta geração e, com isso, fazer um uso mais inovador da nova infraestrutura.

Nessa disputa de gigantes, qual é o papel do Brasil no processo mundial, representado, segundo a mídia, pelo Inatel e Unicamp?

O papel do Inatel é garantir que as redes 5G de fato atendam as demandas brasileiras em termos de conectividade móvel. O Inatel vem atuando em sinergia com o governo federal, Anatel e outros atores importantes no cenário das telecomunicações nacionais para propor soluções em áreas que não estão sendo consideradas no exterior.

A principal ação gira em torno da criação de uma rede 5G para áreas remotas. O Inatel está capitaneando as ações para propor uma solução definitiva para este problema. Nosso objetivo é que as redes 5G sejam a solução para levar internet a regiões desprovidas.

O Inatel lidera tecnicamente um projeto internacional formado por instituições brasileiras e europeias que visa conceber e implementar uma rede 5G que tenha alcance de 50 km e leve 100 Mbps para a borda da célula, ou seja, um alcance de qualidade que é cinco vezes maior do que aquele oferecido pelas redes 4G. Não estou a par de ações efetivas da Unicamp na área de 5G.

Os principais fabricantes ocidentais de equipamentos e sistemas modernos de comunicações praticamente desapareceram, enquanto a chinesa Huawei tornou-se o segundo maior player (e vendedor) mundial no setor. Isso perdurará por muito tempo?

A Huawei investe de forma agressiva no processo de pesquisa e padronização de tecnologias 5G e, portanto, é de se esperar que sua participação neste mercado seja relevante nos próximos anos. Mas é importante salientar que empresas europeias como Nokia e Ericsson também são bastante ativas e devem ter um posicionamento sólido nesta área.

Esse monopólio do fornecimento dos elementos de rede cada vez mais inteligentes pela estatal Huawei poderá facilitar a prática de espionagem, como teme o presidente Trump?

Esse é um tema altamente especulativo. A meu ver, esse risco é pequeno, pois essa prática, se comprovada, iria resultar no fim da empresa como fornecedora de tecnologia.

Além disso, não acredito que haverá um monopólio no fornecimento de equipamentos para redes 5G. Como mencionei, empresas europeias estão bastante ativas neste setor e certamente terão um bom posicionamento neste mercado. Além disso, o uso de tecnologias de rádio definido por software e de software embarcado permitirão que novas empresas surjam como fornecedores de baixo custo.

O próprio Inatel está desenvolvendo uma estação rádio base 4G compatível com a versão 14 do padrão LTE, que já possui o núcleo da rede integrado, que foi totalmente implementado em software, e o custo desta solução é uma fração do custo de equipamentos de fabricantes tradicionais. Soluções como essa apontam para uma maior diversificação na oferta de equipamentos para a infraestrutura de redes móveis.

Recentemente, viralizou nas redes sociais o vídeo de voo e pouso de um dragão virtual em um estádio lotado de beisebol na Coreia do Sul, causando pânico nos torcedores, criado pelas tecnologias 5G e holografia 3D. Essas “realidades” virtuais não trazem riscos de se tornarem instrumentos de agressão entre países ou grupos rivais?

Não acredito que isso seja um risco, uma vez que se trata de projeções em um ambiente controlado. Esses efeitos visuais demandam a instalação de equipamentos específicos nos cenários de exibição.

Além disso, sistemas de detecção podem ser usados para verificar a veracidade da ameaça, enquanto que equipamentos de monitoramento espectral podem ser empregados para verificar a fonte de sinais não autorizados.

Considerando que, a cada dia, o mundo está mais interconectado com tecnologias que permitem o tráfego de voz, dados e imagem e com mobilidade, qual seria a preocupação com os empregos atuais e a sua migração para outros setores?

Toda evolução tecnológica causa pressão em atividades profissionais que são mais operacionais. O acesso mais fácil à informação e o advento de sistemas de inteligência artificial, juntamente com a busca por maior lucratividade, irão resultar na redução do uso de recursos humanos em atividades que puderem ser realizadas com sistemas autônomos.

Alguns exemplos são motoristas profissionais de caminhões, táxis e aplicativos, gestores de TI, contadores e até mesmo advogados. Esse é um processo que acontece desde a revolução industrial e a capacitação profissional é a chave para se manter competitivo no mercado de trabalho.

E quanto aos estudos já iniciados para a tecnologia 6G, os quais incluem as redes de satélite? O que pode nos contar sobre isso?

Na verdade, a integração das redes satelitais com as redes móveis é um tópico que já é considerado para as redes 5G. Esse é um processo que já está em andamento e a rede 5G é a primeira versão de rede móvel a levar em consideração a integração com os satélites.

Isso irá permitir uma maior facilidade do uso de satélites como solução de escoamento de tráfego em áreas de alta demanda, backhaul para ERBs instaladas em áreas remotas e até mesmo o uso de satélites como ERBs 5G. O sistema 6G ainda é bastante incipiente e as aplicações e requisitos que virão a ser propostos para este novo padrão ainda estão sendo discutidos.

Atualmente, a Universidade de Oulu (Finlândia), parceira do Inatel no estudo de redes 5G para áreas remotas, está liderando as discussões em torno das redes 6G. O Brasil também irá entrar nesta discussão em breve, para garantir que as necessidades da nossa sociedade sejam contempladas nesta futura rede sem fio. (Conteúdo produzido pela SME)

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