Capitalismo, Davos e Felicidade

10 de março de 2020 às 0h11

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Crédito: Denis Balibouse/Reuters

Benedito Nunes*

Desde a formulação de seus fundamentos estruturantes, o Capitalismo se apresentou como o modelo econômico de significativa relevância na história de todas as sociedades.

Parece, entretanto, que, a sua fórmula, construída a partir das bases do pensamento iluminista não atende necessidades fundamentais da sociedade. E, novamente, estamos às voltas com a busca de uma nova via que recomponha o nosso esgarçado tecido social e nos recoloque no caminho do desenvolvimento sustentável.

No vasto repertório dessas tentativas, criamos as empresas B, os negócios de impacto, o empreendedorismo social, as empresas com propósito e o capitalismo consciente, sem falar no incansável trabalho da sociedade civil organizada e cada um de seus idealizadores justificam suas ideias de forma ferrenha e determinada. Estão errados? Claro que não.

A questão é que sempre estamos mirando os sintomas e não as causas, esquecendo que a complexidade dos problemas e suas consequências não se formaram da noite para o dia. Todos os discursos, das esquinas às tribunas palacianas, falam que é urgente mudar. Que o modelo está falido, que precisamos reinventar o capitalismo quando na verdade precisamos reinventar o ser humano, o operador da máquina capitalista que vem dirigindo um veículo desgovernado que ceifa milhões de vidas inocentes em todas as partes do mundo.

Nada contra a geração de riqueza e se for de forma sustentável melhor ainda; a questão é como estamos distribuindo as riquezas que são geradas. O fundador e CEO do Fórum de Davos, Klaus Schwab, sugeriu em um de seus discursos mais recentes: “A quarta revolução industrial afetará a essência da nossa experiência humana. Conseguiremos enfrentar esses desafios de forma significativa se mobilizarmos a sabedoria coletiva de nossas mentes, corações, corpos e almas”.

Ele e um batalhão de economistas, incluindo os laureados com o Nobel, líderes globais, executivos de grandes corporações, pensadores de vanguarda, dentre outros, estão convencidos de que uma mudança mais radical se faz necessária não só pela gravidade do quadro mundial como pela urgência das medidas estruturantes que precisam ser tomadas.

Mas essa mudança passa pela reinvenção de nossa capacidade de pensar, de sentir, de vivenciar e de nos colocar no lugar do outro, algo que a história ainda não creditou na trajetória humana.

Estamos muito próximos de confirmar as previsões do Estudo do MIT de 1972, intitulado “Limites do Crescimento”, com o agravante de estarmos trazendo um efeito colateral importante: os altos níveis de adoecimento emocional da população. Como registra Jeffrey Pfeffer em sua obra Morrendo por um Salário,

“Nós assumimos a responsabilidade pelo meio ambiente, reciclamos, gerenciamos carbono, mas de alguma forma decidimos não assumir a responsabilidade pelos humanos.”

Talvez estejamos muito próximos de descobrir que não precisamos de mais regras, tratados e orientações, mas sim de pessoas que as respeitem, renunciando a interesses individualistas em benefício de uma convivência mais humana, pacífica e duradoura.

O propósito do Instituto Movimento pela Felicidade é compreender e atuar nesses sintomas e suas causas e propor práticas de melhoria ciente de que elas exigirão uma verdadeira mudança de comportamento o que torna a terapêutica mais difícil, requerendo efetividade e determinação. E nós estamos, juntos a outras milhares de iniciativas mundo afora, buscando equacionar esses problemas e encontrar as melhores soluções para eles.

Teremos assim mais uma oportunidade de resgatar o tempo perdido e recolocar o conceito de progresso no seu eixo estruturante, focado não mais apenas no desenvolvimento humano, mas na humanização do desenvolvimento.

*Diretor Executivo de Sentido do Instituto Movimento pela Felicidade

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