Cooperação rumo à economia de baixo carbono

23 de janeiro de 2020 às 0h01

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Crédito: Freeimages

Mercedes Blázquez *

Vivemos um tempo de desafios em que as mudanças climáticas impõem atitudes radicais mundiais. É preciso repensar novas formas de produzir energia e alimentos, de reutilizar, reciclar e reaproveitar recursos naturais de maneira ética e eficaz, para que as sociedades enfrentem as próximas décadas com sustentabilidade. O Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC) concluiu, em 2018, que as emissões de gases de efeito estufa deveriam diminuir 50% até 2030 para atingirem a meta do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a 1,5 Cº.

A União Europeia está no caminho certo para cumprir sua parte, com uma fatia de quase 20% de energias renováveis em sua matriz energética no fim desta década. Cidades como Copenhague (Dinamarca) estão na vanguarda de um movimento que estabelece medidas para tornar neutros em carbono os centros urbanos nos próximos anos. As iniciativas, porém, têm atravessado continentes.

O Brasil tem grande potencial de se beneficiar de tecnologias europeias em setores que contribuem para uma economia de baixo carbono. O maior país da América Latina é rico em recursos naturais, que podem ser melhor aproveitados. Uma estimativa realizada recentemente pelo Observatório do Clima, baseada em uma análise do Seeg (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa), aponta que o País precisa melhorar seus instrumentos e sua governança para cumprir o que se comprometeu para 2025 no Acordo de Paris.

Somente por meio de resíduos desperdiçados no setor sucroenergético, por exemplo, poderiam ser gerados anualmente, segundo a Associação Brasileira de Biogás (Abiogás), 41 bilhões/m³ de biogás, que pode ser utilizado como biocombustível, evitando a emissão de poluentes gerados pela queima de diesel. Já a energia solar deve crescer 44% no Brasil em 2019, mas ainda responde por apenas 1% da capacidade instalada na matriz energética do país, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Por isso, a União Europeia investe, desde 2015, por meio do programa Low Carbon Business Action in Brazil, no intercâmbio entre pequenas e médias empresas de seus países membros e do Brasil para a criação de soluções em setores como energias renováveis, agricultura de precisão, biogás, gestão de resíduos, geotermia e eficiência energética. Por meio dos seus quase 100 projetos apoiados durante a vida do programa, que contemplam joint ventures, transferência de tecnologias e parcerias comerciais, será evitada a emissão de CO2 equivalente ao estoque em 2.280 hectares da Floresta Amazônica. Já a economia de água equivalerá a 1.686 piscinas olímpicas.

No caso dos projetos no setor de energias renováveis, quando implementados, será possível gerar energia suficiente para o consumo anual de 206.489 residências. Já no quesito de gestão de resíduos, o Brasil poderá reutilizar ou reciclar a quantidade de lixo equivalente a 1.380.037 caminhões de coleta.

É preciso pensar em estratégias intercontinentais de longo prazo para uma economia próspera, moderna, competitiva e neutra, a partir do investimento em soluções tecnológicas realistas, desde a pequena até a grande escala, que de fato contribuam para aprimorar processos, garantir eficiência, prever resultados e evitar danos ao meio ambiente. A Climate Policy Initiative (CPI), thinktank internacional que publica análises anuais sobre ações climáticas, estima que o financiamento total relacionado ao clima foi de US$ 530 bilhões em 2017. Mas para a América Latina, o financiamento continua a ser um grande desafio pois apenas utiliza entre 7% e 8% dessa fatia.

Em 2020, o programa promovido pela União Europeia pioneiramente no Brasil e no México ganhará escala regional e será também, ampliado para o Chile, Argentina, Colômbia e Canadá, em um importante passo para a criação de novas parcerias e o desenvolvimento de soluções efetivas de combate às emissões de gases de efeito estufa. A internacionalização de soluções europeias inovadoras recebe o apoio de clusters criados para facilitar o networking, desenvolver a colaboração internacional, apoiar a cooperação em novas cadeias de valor e ampliar a competitividade em setores estratégicos. É um bom exemplo de como a colaboração pode ser instrumentalizada para alcançar metas ambiciosas.

* Líder do Low Carbon Business Action in Brazil, programa financiado pela União Europeia que realiza o intercâmbio de PMEs do Brasil e da Europa

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