Organização do ecossistema em Minas favorece o setor

5 de junho de 2020 às 0h16

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Janayna Bhering: temos nos estruturado no sentido da colaboração | Crédito: Divulgação

Ao longo das duas últimas décadas, Minas Gerais vem se estabelecendo com um polo de startups, respondendo por 19% das empresas do setor sediadas na região Sudeste, empatado com o Rio de Janeiro e atrás apenas de São Paulo, com 65%, segundo o “Mapeamento de Startups da Região Sudeste 2019”, divulgado pela Associação Brasileira de Startups (Abstartups), em janeiro.

Além de Belo Horizonte, o Estado apresenta outras regiões que já se desenvolvem e demonstram grande potencial. O mapeamento listou seis delas: Vale do Aço, Uberaba (Zebu Valley), Uberlândia (Uber Hub) e Araguari (Reri Valley) , no Triângulo; Santa Rita do Sapucaí, no Vale da Eletrônica, Sul de Minas; e Juiz de Fora (Zero 40), na Zona da Mata. Outros polos também começam a aparecer como em Viçosa, na Zona da Mata, e Ouro Preto, na região Central, entre outros.

A pandemia não deixou de atingir as startups mineiras. Como vantagem competitiva, segundo a gerente de Novos Negócios e Parcerias da Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep), Janayna Bhering, o Estado tem ecossistemas organizados.

Criado em 2018, o Movimento da Nova Economia Mineira (Movem), que envolve universidades, instituições científicas e tecnológicas, startups, empresas de base tecnológica, entidades de classe, visando a condução de um grande projeto em prol da ciência, tecnologia e inovação, é apontado como um diferencial.

“Temos nos estruturado, cada vez mais, no sentido da colaboração. Temos o Movem, por exemplo, que evita a sobreposição de esforços. Minas tem qualidade nesse ambiente e capacidade de absorver a produção, além de universidades de peso. Conseguimos concentrar qualidade de vida, capital intelectual e custo de vida mais barato”, enumera Janayna Bhering.

Para ajudar as empresas a vencerem a fase mais aguda da crise e a se preparar a para o “Novo Normal”, a Fundep também articulou novas ferramentas em tempo recorde. Na semana passada, foi lançada a série de live “Inovação em Pauta”, com um entrevistado por semana.

De outro lado, o Programa Lemonade, que tem por objetivo transformar ideias em negócios de alto impacto e forma empreendedores com propósito para a geração de novas soluções no mercado, vai ser realizado em formato 100% virtual pela primeira vez. Mais de 390 startups já foram aceleradas em 15 edições do programa.

“Em 48 horas, o mundo mudou e estávamos todos trabalhando de casa. Resolvemos que nossos projetos não parariam e, ao contrário, deveríamos propor novas soluções para atender mais e melhor nossos clientes”, pontua a gerente de Novos Negócios e Parcerias da Fundep.

Beyond transforma dados do Covid em conhecimento

Em Belo Horizonte, com sentido de urgência e de engajamento, o sócio da Beyond Mining, Paulo Lopes, descobriu novos parceiros e novas possibilidades de negócios enquanto se dedicava a contribuir, usando a expertise da empresa, no combate ao Covid-19.

A startup trabalha com a previsão do nível de pressão sonora das mineradoras. Existe uma legislação que controla o nível de ruído produzido e as empresas fazem o monitoramento dessa emissão. Os dados levantados dizem sobre o presente, mas não antecipam o futuro. É aí que a empresa entra, com inteligência artificial, sobre os dados coletados, dando previsibilidade e possibilidade de antecipação de soluções para as mineradoras.

“Nosso trabalho é transformar dados em conhecimento e começamos a pensar como poderíamos aplicar a nossa tecnologia para ajudar na luta contra essa doença. Descobrimos que o hospital Albert Einstein (em São Paulo) tinha uma base de dados pública com informações dos pacientes que fizeram hemograma desde o início da pandemia. Pensamos se esses resultados poderiam, de alguma forma, auxiliar na tomada de decisão pelos médicos em um cenário em que os testes rápidos para Covid-19 são pouco eficientes, caros e pouco disponíveis no mercado”, relembra Lopes.

Com a ajuda de parceiros do hub da mineração, que cederam equipes de médicos do trabalho, foi possível compreender os mecanismos da doença e de como ela poderia aparecer no hemograma, que é um exame “básico”, chamado pelos médicos de inespecífico.

A hipótese era de que entre os pacientes que tinham feito o hemograma seria possível estabelecer um critério matemático capaz de separar pacientes positivos de negativos. O primeiro resultado foi de 76% de acerto.

“A resposta estatística foi muito boa, mas podíamos melhorar. Fomos atrás de bases de dados adicionais, de antes da pandemia, e conseguimos subir a precisão para 86,7%. Criamos, então, uma plataforma que usa esse algoritmo para fazer uma triagem estatística. Ela não substitui os médicos e nem os exames para Covid-19, mas pode ajudar muito na alocação de recursos. A MRN (Mineração Rio do Norte) já está usando em Porto Trombetas (PA), em uma comunidade que é formada apenas por colaboradores da empresa há um mês, ajudando na tomada de decisões”, explica o sócio da Beyond Mining, que comemora o fato de tudo isso ter acontecido em pouco mais de um mês, abrindo para a empresa novas aplicações da sua expertise e mercados em potencial.

Sem precisar desenvolver um novo produto, mas, também vendo o mundo se transformar em questão de dias, a Prodfy – solução focada em Indústria 4.0 para os segmentos florestais, biofábricas e siderúrgicas -, sediada em Viçosa, praticamente dobrou o tamanho da equipe desde março e já bateu as metas de vendas previstas para 2020.

Segundo o CEO da Prodfy, Romulo Balga, a expectativa é de que os negócios se acelerem ainda mais no segundo semestre. “As indústrias tiveram que se adaptar, mas não pararam, então não tivemos queda de faturamento mas, sim, no volume de uso do software. De outro lado, uma segunda solução que oferecemos, uma espécie de roteador de whatsapp, teve um amento da demanda surpreendente. Com muita gente em home office, a tecnologia ajudou as empresas a utilizar o aplicativo de forma mais barata e controlada”, afirma Balga.

Oportunidade – A digitalização dos pequenos negócios impulsionada pela pandemia anima o empresário que vê mais possibilidades para as startups sediadas no interior. Qualidade de vida, custos mais baixos e oferta de mão de obra qualificada, podem levar a um processo de interiorização das empresas de base tecnológica no pós-crise.

“Como a nossa entrega não depende da geografia, podemos aproveitar as boas condições que o interior oferece de vida e negócios e ainda nos valer, justamente, da proximidade com esses pequenos negócios. Eles tendem a buscar parceiros mais parecidos com eles, mais próximos e podemos oferecer toda sorte de soluções”, pontua o CEO da Prodfy.

Análise muito parecida faz a líder veterana da Comunidade de Minas Gerais pelo InovAtiva Brasil, Karla Silva. Para ela, as ferramentas que trouxeram as organizações até o presente não serão as mesmas que as levarão para o futuro. Elas devem buscar novas alternativas de atender seu cliente, reinventando seu negócio.

“Nesse ‘Novo Normal’ observamos a força que as startups ganharam e o quanto o desenvolvimento de soluções escaláveis, repetíveis e que usam a tecnologia como meio de transformação irão ganhar cada vez mais espaço. Isso abrirá oportunidades e contribuirá ainda mais para disseminar a cultura das startups”, avalia Karla Silva.

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