EDITORIAL | As soluções sem milagres

21 de janeiro de 2020 às 0h02

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Crédito: Freeimages

As chuvas este ano estão mais intensas, como é próprio dos ciclos da natureza, possivelmente agravadas pelas mudanças climáticas que é o tributo pago pela negligência dos humanos. Vale dizer, estamos todos, em Belo Horizonte, em cidades do interior mineiro e outras espalhadas Brasil afora diante de mais um doloroso salve-se quem puder. Mudar, antes mesmo das promessas que se repetem enfadonhamente, começa por conhecer, por compreender, por saber o que se passa.

Os problemas começam porque hoje a maioria dos brasileiros, entre 70% e 80% da população, segundo o IBGE, vive em áreas urbanas. Uma aceleração desordenada e acelerada, multiplicando erros graves na ocupação dos espaços, a improvisação dando lugar ao planejamento e, perversamente, reservando os piores espaços, os de maior risco, à população mais pobre, a mais vulnerável e a mais atingida. De outro lado, crescimento também da frota de veículos em circulação, amplificando as condições desfavoráveis, elevando os níveis de impermeabilização do solo e tornando mais difícil o escoamento. Assim, os resultados não poderiam ser diferentes e enfrentá-los significa em primeiro lugar mudar a abordagem, mudar a perspectiva e o imediatismo.

Nada de improvisar, nada de prometer soluções que custam dinheiro e não impedem que, ano a ano, a situação só se agrave. Planejamento é o que nos resta. E começando pelo entendimento óbvio de que é preciso garantir e melhorar as condições de escoamento, o que significa desobstruir o caminho das águas. Significa também menos omissão de cada indivíduo que ajuda a entupir as galerias pluviais, que deixa o lixo se acumular em qualquer lugar e de qualquer forma. Disciplina e educação, nesse caso, talvez seja a única possibilidade real de melhorias, de resultados rápidos, de evitar que as próximas chuvas não signifiquem novas enchentes.

Distribuir placas pela cidade, alertando sobre locais mais sujeitos a alagamentos, é a maior evidência de inércia, é o reconhecimento de que nada mais se pode fazer além de escapar das áreas de risco. Fica também a evidência de que parece nos faltar um sentido de coletividade, de cada um fazer o que é possível fazer e não simplesmente esperar que as soluções venham de cima, no raciocínio primário de que eu jogo lixo nas ruas porque a Prefeitura se encarregará de recolhê-lo, assim como de desentupir os sistemas de escoamento que ajudamos a obstruir.

Em síntese, continua faltando a elementar compreensão de que o problema é de todos nós, da mesma forma que as soluções, e também no plano político, sempre dependerão de todos nós.

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