EDITORIAL | Uma conversa quase insana

19 de fevereiro de 2020 às 0h01

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Crédito: Pedro Gontijo / Imprensa MG

O governador Romeu Zema tentou resolver um problema e criou outro maior, sem perspectiva de solução. Na realidade uma situação surreal para um Estado que carrega um déficit fiscal estimado em – pelo menos – R$ 13 bilhões, há mais de quatro anos não paga pontualmente o funcionalismo e, fechando o círculo, convive com uma economia muito próxima de uma situação de estagnação. Nesse cenário pouco animador, recentemente o governo estadual resolveu conceder revisão salarial escalonada aos servidores da área de segurança, com correções que podem chegar aos 41%, será paga em três anos e joga para os cofres estaduais despesas estimadas em R$ 9 milhões.

Não são apenas de caixa os problemas que o governador tem pela frente. Na Assembleia Legislativa foi apresentada ementa, felizmente já rejeitada, que estendia a todo o funcionalismo o mesmo benefício. Enquanto isso o pessoal da educação põe a faca no peito do governador. A categoria, que juntamente com a área de segurança representa a maior conta a ser paga, reclama isonomia, fala das dificuldades que são bem conhecidas e reafirma, com razão, que se o Estado deseja construir um futuro melhor seus esforços e suas atenções necessariamente devem começar pela educação. Já quem trabalha na saúde, igualmente em condições que como regra estão em todos os sentidos bem abaixo do mínimo ideal, com alguma ironia e muita razão cuidam de apontar que a falta de saúde simplesmente apaga o futuro.

O jovem governador mineiro a estas alturas deve estar com saudade de sua terra, Araxá, e dos negócios de sua família, também sujeitos aos altos e baixos da economia, mas certamente mais tranquilos. No geral, e sem esquecer aquela parcela que acumula vantagens descabidas, legais, mas imorais, tem razão, cobram o que é lhes é devido. No entanto, perdem de vista o fato elementar de que o Estado não tem dinheiro, não tem mais como sustentar o peso que, por razões que são suficientemente conhecidas e não precisam ser enumeradas mais uma vez, hoje na prática apenas finge que carrega. Nesse sentido, talvez não tenha a menor importância dar mais aumentos, que como os anteriores não serão pagos.

É claro que enxergar a realidade é tão fundamental quanto adotar uma postura mais pragmática, deixando de fazer de conta que o Estado, melhor dizendo, os contribuintes, todos nós, tudo pode. Assim, melhor fariam, inclusive em benefício próprio e direto, se primeiro cuidassem de apontar onde e como é possível cortar gastos e racionalizar despesas, mostrar onde estão os furos e como a gestão pode ser melhorada. Fora desse caminho sobram apenas ilusões ou, à frente, dificuldades que serão certamente maiores.

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