Se você está esperando uma encomenda internacional há semanas e ela ainda não chegou, não está sozinho. Milhares de consumidores em todo o Brasil estão enfrentando atrasos nas entregas de produtos comprados fora do país. O motivo: a paralisação dos auditores da Receita Federal, que afetou diretamente o funcionamento das alfândegas nos principais portos e aeroportos do país.
A greve, iniciada em novembro de 2024, teve como motivação a falta de reajustes salariais e outras reivindicações funcionais da categoria. Ao longo de mais de seis meses, o movimento causou prejuízos bilionários ao comércio exterior, paralisando a liberação de cargas e dificultando a entrada de mercadorias no Brasil — inclusive aquelas encomendadas por consumidores via plataformas internacionais.
Com o aumento da pressão do setor produtivo e de usuários afetados, a União levou o caso ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), argumentando que os serviços prestados pelos auditores da Receita são essenciais e não poderiam ser interrompidos. O ministro Benedito Gonçalves acatou o pedido e determinou a suspensão imediata da greve, sob pena de multa diária de R$ 500 mil ao sindicato da categoria, o Sindifisco Nacional.
Além de proibir a greve, a decisão judicial também vetou as chamadas “operações-padrão” — estratégias utilizadas pelos grevistas para desacelerar os processos de fiscalização, mesmo sem abandonar totalmente os postos de trabalho. Essas ações, segundo o governo, vinham travando o fluxo de mercadorias e comprometendo serviços básicos do Estado.
Apesar da determinação, a normalização das atividades ainda está em andamento. Embora o Sindifisco tenha anunciado a suspensão da greve no dia 9 de junho, o ritmo de trabalho nos setores aduaneiros continua lento, e muitos produtos ainda não foram processados ou liberados.
No setor público, a paralisação também impactou o funcionamento do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), responsável pelo julgamento de disputas tributárias. A retomada das sessões, segundo fontes ouvidas, só deve ocorrer na semana do dia 23 de junho, e ainda não se sabe se será em formato virtual ou presencial.
Enquanto isso, consumidores seguem enfrentando a incerteza. Compras feitas em sites como AliExpress, Shein, Amazon Internacional e outros estão retidas nas áreas alfandegárias, sem previsão clara de liberação.
A situação serve de alerta para a dependência do país em relação ao comércio internacional — e para os efeitos em cadeia que uma paralisação estratégica, como a dos auditores da Receita, pode gerar em setores que vão do varejo digital ao abastecimento de insumos industriais e hospitalares.