Imagine viver em um lugar onde o sol desaparece por até quatro meses seguidos, ursos polares rondam os arredores e o frio pode chegar a −46 °C. Agora, imagine também que, nesse lugar, você não pode morrer — ou pelo menos, não deveria. Esse lugar existe e se chama Longyearbyen, a cidade mais ao norte do planeta, localizada no arquipélago norueguês de Svalbard, no Círculo Polar Ártico.
Longyearbyen tem cerca de 2.100 habitantes e é conhecida por suas condições extremas de clima, isolamento e pela lei incomum que desencoraja mortes dentro dos limites da cidade. E não, não é apenas uma curiosidade exótica — essa proibição tem fundamentos científicos, ambientais e históricos.
Por que é proibido morrer em Longyearbyen?
Ao contrário do que o senso comum pode sugerir, não existe uma proibição punitiva sobre o ato de morrer. O que acontece é que, por razões sanitárias e ambientais, o município desencoraja fortemente que pessoas em estado terminal permaneçam ali.
A explicação está no permafrost, o solo permanentemente congelado da região. Ele torna o sepultamento convencional inviável, pois é quase impossível cavar túmulos profundos. E mesmo que fosse possível, os corpos não se decompõem — permanecem praticamente intactos por décadas.
O caso mais emblemático ocorreu na década de 1950, quando cientistas exumaram vítimas da gripe espanhola de 1918. Para espanto geral, os corpos estavam preservados, e ainda havia vírus ativos nas amostras. Isso levantou um alerta global sobre os riscos de reinfecção por doenças do passado, preservadas no gelo.
O que acontece se alguém estiver morrendo?
Se um morador de Longyearbyen adoecer gravemente ou for diagnosticado com uma doença terminal, ele é orientado a deixar a cidade o quanto antes e buscar tratamento em outras regiões da Noruega. O mesmo vale para idosos que se aproximam do fim da vida: há um consenso prático e cultural de que a morte não deve ocorrer na cidade.
Por conta disso, Longyearbyen não possui estrutura adequada de hospitais ou funerárias. O único pequeno cemitério local não é mais utilizado para novos sepultamentos, exatamente por causa do risco sanitário e da inviabilidade do processo.
A cidade é tão peculiar que vivenciar a morte lá virou um tabu logístico e médico. Para além da excentricidade, essa política é uma medida preventiva. A ideia é proteger os vivos, evitando riscos biológicos e respeitando os limites impostos por um ambiente hostil.
Mesmo assim, a cidade continua atraindo turistas e pesquisadores, muitos dos quais encantados com as auroras boreais, o isolamento extremo e as curiosidades de viver no Ártico.




