Um episódio de possível negligência envolvendo a companhia aérea Latam causou comoção nacional neste início de semana. O caso ocorreu no último domingo (29), no Aeroporto Internacional de Brasília, quando um casal de idosos com mobilidade reduzida foi deixado desacompanhado em uma mureta na área externa do terminal. A Polícia Civil do Distrito Federal investiga o episódio como abandono de incapaz.
Antônia Costa Batista, de 80 anos, e seu marido, Antônio Batista, de 86, haviam desembarcado de um voo vindo de Fortaleza às 7h25 da manhã. Segundo a filha, a empresária Eleni Costa, o casal precisa de cadeira de rodas e havia solicitado previamente assistência especial da companhia aérea. Mesmo assim, os dois teriam sido deixados sozinhos por quase duas horas, sentados em uma mureta de cimento, sem proteção, alimentação ou acompanhamento.
“O mais chocante foi ver minha mãe chorando, sentada, enquanto meu pai tentava se manter calmo. Eles estavam com frio, com fome e completamente desamparados. Até a cadeira de rodas havia sido retirada”, relatou Eleni, visivelmente emocionada em um vídeo que circula nas redes sociais.
A empresária só conseguiu localizar os pais com a ajuda de uma desconhecida que passava pelo local. A mulher encontrou o número do filho de Antônia no celular da idosa e ligou para informar a situação. Eleni chegou ao local pouco antes das 9h.
Latam nega abandono e diz que casal “optou por esperar”
Procurada, a Latam Airlines divulgou nota afirmando que “prestou o serviço de assistência solicitado” e que o casal “optou por aguardar os familiares na área externa do aeroporto, dispensando o acompanhamento”. A empresa lamentou os transtornos, mas refutou a acusação de negligência.
A versão foi rebatida pela família. Eleni afirma que jamais foi informada de qualquer desistência por parte dos pais e destaca que eles não teriam condições físicas nem autonomia para tomar essa decisão. “Se não fosse por uma pessoa de bom coração, eles estariam lá até agora. É inadmissível”, criticou.
Investigação aberta e repercussão nacional
O caso foi registrado em boletim de ocorrência e já é investigado pela Polícia Civil do Distrito Federal. A apuração ocorre sob a tipificação de abandono de pessoa idosa, previsto no Estatuto do Idoso, com penas que podem chegar a três anos de reclusão.
O episódio repercutiu nas redes sociais e causou indignação de ativistas, parlamentares e organizações voltadas à defesa de idosos. Especialistas em direito do consumidor e em proteção de grupos vulneráveis também alertam para a gravidade da denúncia e os possíveis desdobramentos judiciais.
De acordo com a Lei nº 10.741/2003, o abandono de pessoa idosa em hospitais, casas de saúde ou similares, ou a omissão de assistência a idosos em situação de vulnerabilidade, configura crime, com pena de detenção de 6 meses a 3 anos e multa.