O comportamento conhecido como “demissão silenciosa” (ou quiet quitting, em inglês) voltou ao centro do debate após trabalhadores japoneses adotarem a estratégia como forma de garantir rescisões vantajosas sem pedir demissão formalmente. A prática, que teve origem nos Estados Unidos em 2022, é marcada por uma postura de mínima entrega no ambiente de trabalho: os funcionários cumprem apenas o que está descrito em seus contratos, recusando-se a assumir tarefas extras ou responsabilidades informais.
No Japão, a tendência vem ganhando força, especialmente entre profissionais mais jovens. Segundo pesquisa do Mynavi Career Research Lab com 3 mil trabalhadores entre 20 e 59 anos, 45% afirmaram estar fazendo o mínimo possível no trabalho. Na faixa dos 20 anos, esse índice é ainda maior. O fenômeno tem se tornado uma forma indireta de pressionar o empregador a demitir o funcionário — o que, pelas regras trabalhistas locais, dá direito a compensações financeiras, diferentemente da demissão voluntária.
“Não é preguiça, é redefinição de limites”
Embora alguns críticos, como o planejador financeiro Brent Wilsey, classifiquem o comportamento como “preguiça disfarçada”, especialistas defendem que o movimento reflete uma reavaliação das prioridades de vida e do equilíbrio entre trabalho e saúde mental. De acordo com a BBC, Katie Bailey, professora de trabalho e emprego no King’s College de Londres, a pandemia foi decisiva para essa mudança de mentalidade.
A intenção: mostrar que é possível romper com a cultura do excesso de entrega sem perder o emprego — e, com sorte, ser demitido e ainda receber a indenização trabalhista.
Um protesto silencioso que se tornou status quo
Apesar de o termo “quiet quitting” ter perdido espaço nas redes desde seu pico de buscas em agosto de 2022, o comportamento segue presente, ainda que sem rótulo. Dados do instituto Gallup mostram que seis em cada dez trabalhadores no mundo estão psicologicamente desligados do trabalho, mesmo cumprindo a jornada contratual.
A prática se tornou comum especialmente em contextos de inflação alta e instabilidade econômica, nos quais perder o emprego por iniciativa própria pode significar abrir mão de direitos trabalhistas e compensações financeiras.